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Há exatamente um ano os eleitores curitibanos estavam escolhendo os vereadores que teriam a missão de legislar e fiscalizar as ações da prefeitura pelos próximos quatro anos. Passado pouco tempo de uma decisão tão importante, uma pesquisa mostra que 64% das pessoas não lembram para quem votou. O levantamento de dados foi feito pela empresa Urna Marketing Político, em parceria com o Instituto Datacenso, no final de agosto e começo de setembro. Foram entrevistados 800 curitibanos, de 66 localidades do município. A amostra tem 95% de grau de confiança, com margem de erro de 3,5%.

A pesquisa ainda faz outras revelações: dos consultados, oito em cada dez não lembram o partido do candidato para o qual votou. Quanto às expectativas de um bom mandato, 44% dos eleitores não sabem dizer se o vereador trabalha a contento e 78% das pessoas não sabem dizer qual é o vereador mais atuante.

De cada quatro eleitores, apenas um afirma conhecer a estrutura do Legislativo Municipal. As mais diversas justificativas foram dadas para o fato de nunca ter ido à Câmara, entre elas: não há interesse, nunca foi preciso, não houve oportunidade e não dispõe de tempo. A pequena parcela que já esteve na sede do Legislativo também apresenta seus motivos: visitar, pedir auxílio a vereador, a trabalho e conversar com um parlamentar.

Análise

Para o líder do governo na Câmara, vereador Mario Celso Cunha (PSDB), o descompromisso do eleitor com o voto é reflexo do modelo político vigente, principalmente dos ranços de troca de favores. "A maioria não vota em favor da comunidade", salienta. Por sua vez, se o político barganha apoio, ele também não cria vínculos com quem o elegeu e acaba se distanciando. "O eleitor vê na eleição a oportunidade de tirar alguma vantagem e não de mudar o país", acrescenta.

O vereador tucano defende a reforma política e acredita que também é necessário politizar o cidadão. "Muita gente não sabe que pode chegar na Câmara e pedir o que o vereador fez durante o mandato", ressalta. Essa situação privilegia o mau político e atrapalha aquele que quer fazer política séria.

De acordo com o líder da oposição na Câmara, vereador André Passos (PT), o problema da falta de interesse começa muito antes da diplomação dos eleitos. O parlamentar acredita que as pessoas não conseguem entender como funciona o sistema de eleição para o Parlamento e que esse vício inicial prejudica todo o processo. Nenhum vereador se elegeu sozinho. Era necessário conseguir 24 mil votos para não depender da legenda e o mais votado fez 18 mil. Esse sistema indireto, na opinião do petista, prejudica a compreensão. Ele sugere uma campanha de esclarecimento, capitaneada pelos tribunais eleitorais.

O desinteresse da população também estaria ancorado no fato de que a maioria dos eleitores escolheu candidatos que não se elegeram. A atual composição da Câmara, por exemplo, concentra os votos de menos de 30% dos curitibanos. "O eleitor não pode dizer que perdeu o voto. Os 38 vereadores representam a cidade inteira", avalia. O voto obrigatório também leva pessoas desinteressadas a votar por dever, sem se preocupar com o acompanhamento dos eleitos. "Isso é ruim para os vereadores que estão realmente trabalhando", pondera.

O presidente da Câmara, João Cláudio Derosso (PSDB), acredita que o eleitor ainda não esqueceu para quem votou. "Um ano é pouco tempo", analisa. Mas ele reconhece que o Legislativo ainda está num processo de aproximação e que ainda é uma parece uma "caixa-preta". "Temos apenas 20 anos de democracia", lembra. Contudo, Derosso avalia que o processo de transparência está avançando a passos largos, através de meios físicos e eletrônicos.

Como presidente, afirma que está tomando várias providências para que a Câmara seja a cada dia mais a Casa do Povo. Semanalmente, alunos de escolas da capital conhecem as estruturas do Legislativo. "Essa é uma forma de mudar as futuras gerações", diz. Além disso, a página da internet registra 200 mil acessos por mês. "É uma forma diferente de trazer a população para dentro da Câmara", enfatiza, acrescentando que é uma prova de que os curitibanos estão conhecendo o Legislativo.

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