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A publicitária Danielle Cunha transita com livre acesso no plenário e em alguns gabinetes da Câmara dos Deputados, onde atua como captadora de clientes. Todos parlamentares. Ela oferece trabalho de assessoria e divulgação de mandatos. Marketing político. Danielle, de 28 anos, é filha do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Desde que seu pai assumiu o comando da Câmara, a publicitária conquistou as contas de, pelo menos, três deputados aliados de Cunha. Nesse período, esses três desembolsaram R$ 102,6 mil da cota parlamentar a que têm direito, um dinheiro público, para pagar a empresa Popsicle Digital Flavours, a qual Danielle é ligada.

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Os assessorados de Danielle são o presidente da CPI da Petrobras, Hugo Motta (PMDB-PB) - acusado por colegas de preservar Cunha na comissão -; André Fufuca (PEN-MA), outro aliado e que acaba de ser indicado para uma sub-relatoria na CPI do BNDES; e Danilo Forte (PMDB-CE), que atuou na campanha para fazer o peemedebista presidente da Câmara. Eles argumentam que contrataram Danielle por sua competência e negam qualquer influência de Cunha no fechamento do negócio. Desse total pago até agora, R$ 50 mil foi por assessoria a Motta; R$ 27.600 a Fufuca; e R$ 25.080 para Forte.

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Danielle transita pela Câmara sempre ao lado do publicitário Michell Yamasaki Verdejo, que aparece como dono da Popsicle. Sempre juntos, eles vão aos gabinetes de parlamentares aliados vender o serviço. Na nota fiscal emitida pela empresa aparece descrito o tipo de trabalho prestado: assessoria com foco na elaboração e na revisão de textos, boletins informativos para divulgação do trabalho parlamentar em sites, rádios, TVs e jornais. Na Câmara, utilizam também, como nome da empresa, DTBS (Design Thinking Branding Solutions). Os dois são responsáveis por “novos negócios”. Há também dois gerentes, de projeto e conteúdo, e uma coordenadora de mídias sociais.

Danielle e Michell são vistos em todas as partes, até mesmo no plenário, como ocorreu na última quarta-feira. No pouco tempo em que permaneceram ali, foram abordados e conversaram com André Moura (PSC-SE), Celso Pansera (PMDB-RJ), Manoel Júnior (PMDB-PB) e também Fufuca. Todos da linha de frente de apoio a Cunha.

Fufuca conta que contratou Danielle por sua experiência nessa área e nega influência de sua relação com Cunha para fechar o contrato. “Eu a contratei para fazer esse trabalho de comunicação, de monitoramento nas redes sociais, alimentar o site. Estava precisando desse serviço, e ela tem experiência. A influência (de Cunha) é nenhuma. Zero. Ela faz o serviço independentemente do pai”, argumentou Fufuca.

Danilo Forte evitou se estender no assunto e foi na mesma linha do colega. “A razão de contratar Danielle foi a sua competência”, disse Forte. Procurado na última sexta-feira, Hugo Motta não retornou o contato de O Globo.

Danielle Cunha disse que é funcionária de Michell e que recebe salário. Ela entende que não há conflito de interesse entre seu trabalho e a posição de Eduardo Cunha. Para ela, o cargo do pai pode até atrapalhar. “Atuo na linha de frente. Recebo salário e prospecto trabalhos. Não necessariamente me ajuda (o fato de Cunha ser o presidente da Câmara). Até pela minha condição, pode atrapalhar. Tenho cinco empresas na área de internet e dez anos de experiência. Meu currículo diz por si só. É aprovado no mercado”, disse Danielle, que negou receber recurso da cota parlamentar. “Presto um serviço. Do mesmo jeito para a Popsicle como para várias outras. Um trabalho mensurável. Não tem nada ilegal. Trabalho para uma empresa privada, que recebe verba de parlamentar.”

Michell Verdejo não retornou os contatos de O Globo na última sexta.

Eduardo Cunha, por meio de sua assessoria, disse que a filha é qualificada para esse trabalho e que nunca interferiu a favor dela junto aos parlamentares. “Danielle Cunha, filha do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, é uma profissional com qualificação reconhecida no meio em que exerce seu ofício e desenvolve suas atividades dentro das normas legais. O presidente não acompanha sua carteira de clientes, nunca pediu nem pedirá, para quem quer que seja, que a contrate. Ela não precisa desse tipo de auxílio”, diz o presidente.

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