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“Na verdade, era uma caricatura grosseira justamente para fazer rir. Ele (o Devagar Franco) era totalmente exagerado, nem falava assim daquele jeito caipira mineiro.” | Agência O Globo
“Na verdade, era uma caricatura grosseira justamente para fazer rir. Ele (o Devagar Franco) era totalmente exagerado, nem falava assim daquele jeito caipira mineiro.”| Foto: Agência O Globo

Itamar Franco deixou a Presi­­dên­­cia há 15 anos, mas ainda assim faz parte do dia a dia do humorista Reinaldo Figueiredo, do Casseta & Planeta. "É só sair na rua que tem gente que me chama de ‘Devagar’", conta. A lembrança é um resquício do personagem De­­vagar Franco, caricatura do ex-presidente que ficou famosa por ser mais lenta que a tartaruga Flash.

Ex-desenhista do semanário Pasquim, ele faz ressalvas ao hu­­mor político praticado em programas como Pânico e CQC. "Esse tipo de humor é meio arriscado. Às vezes, pode ser muito agressivo, às vezes, fica subserviente ao político." Em entrevista à Gazeta do Povo, ele afirma que o futuro do gênero é imprevisível, mas que a maioria dos políticos brasileiros entende a necessidade das piadas.

O humor ajuda a sociedade a se preocupar mais com a política?

Não sei se ajuda a se preocupar, mas ajuda a desmistificar, a mostrar que ninguém é sagrado, que ninguém está acima de qualquer suspeita. Ser irreverente faz parte da democracia. Qualquer cidadão que se disponha a disputar uma eleição tem de saber que algum dia ele pode virar alvo de piada. Feliz­­mente, a maioria entende.

Tem político que ainda não entende?

Se tiver, é uma minoria. Mesmo que seja crítico, não estou xingando, ofendendo. O meu negócio é fazer piada. É que, às vezes, os fatos são tão absurdos que a piada está pronta. Aquela história de que "o bom cabrito não berra" cai bem nesse caso. Quem reclama só vai levantar poeira contra ele próprio.

O que Devagar Franco diria sobre a política de hoje?

Devagar Franco diria... Olha, a gente não faz análise política. Faz piada sobre política. Esse personagem era uma caricatura. Todo mundo dizia que era igualzinho ao Itamar. Na verdade, era uma caricatura grosseira justamente para fazer rir. Era exagerado, ele nem falava daquele jeito caipira mineiro. Tinha também a tartaruga, Flash, que ele sempre deixava escapar. Era um personagem baseado em fatos gerais, uma brincadeira. Mas chegou um momento em que ele ficou mais popular que o Itamar, sujeito tímido, que não gostava muito de aparecer.

Itamar ficou chateado?

Eu só ouvi falar, mas não tenho como garantir que o cara não gostava muito. Que eu saiba, ele nunca reclamou publicamente. O bom político tem de ter "fair play".

Como você vê a evolução do humor político em programas como o CQC e o Pânico?A gente já usou esse formato várias vezes. Costumávamos ir para Brasília, mas depois desistimos. Prefiro explorar os personagens que nós mesmos criamos. Fazer esse tipo de humor, de entrevista, é meio arriscado. Às vezes pode ser muito agressivo, às vezes fica subserviente ao político.

Qual é o futuro do humor na política?

Não tenho ideia. Se a gente tivesse uma fórmula, ficava tudo mais fácil. É necessário buscar novas formas de fazer humor. Os problemas políticos são sempre os mesmos, as piadas é que precisam ser diferentes para fazer as pessoas rirem. De chato, já basta a própria política.

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