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Delatores podem revelar conexões com outros esquemas

A delação premiada de Alberto Youssef deve ser a terceira homologada pela Justiça dentro da Operação Lava Jato. A primeira foi de Luccas Pace Júnior, funcionário da doleira Nelma Kodama, apontada como outra operadora do esquema de lavagem de dinheiro por meio de empresas fantasmas. A segunda, firmada na terça-feira, foi a do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. O MPF confirma que já foi procurado por outros investigados para fazer o acordo. Para as investigações, porém, os depoimentos de Youssef e Costa são os mais importantes. Isso porque, apesar de o esquema ter pelo menos 40 investigados, os dois são apontados como os "cabeças" da organização. Com as informações das delações, é possível que os investigadores apurem a relação dos envolvidos na Lava Jato com outros escândalos ou cheguem a novas ramificações do esquema. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que pelo menos 10 investigados foram citados em outros escândalos recentes da política brasileira – entre eles o mensalão, o caso Banestado e a CPI dos Bingos. Youssef, por exemplo, foi um dos principais doleiros do caso Banestado e foi citado no mensalão. Neste último caso, não chegou a ser denunciado.

O doleiro Alberto Youssef começará a ser ouvido hoje na sede da Polícia Federal (PF) em Curitiba. Ele irá depor em delação premiada – acordo para revelar informações do esquema de desvio de dinheiro da Petrobras e de lavagem de R$ 10 bilhões investigado pela Operação Lava Jato. Em troca da delação, negociada desde a semana passada, Youssef terá diminuição da pena. A expectativa do Ministério Pú­­blico Federal (MPF) e da PF é de que Youssef, apontado como o principal operador do esquema, esclareça detalhes do modus operandi da organização e a conexão com políticos e empresas estatais. Além disso, espera-se que o doleiro devolva aos cofres públicos pelo menos R$ 30 milhões que ele adquiriu irregularmente pelo esquema de corrupção.

INFOGRÁFICO: Veja o que suspeitam as investigações da MPF e da PF sobre o caso

Caso esse montante se confirme, a recuperação de dinheiro do esquema da Lava Jato pode ser o maior da história da país. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, sozinho, terá de repassar aos cofres públicos, em bens e dinheiro, R$ 74 milhões. Esse montante corresponde à verba desviada e a multas aplicadas em função dos crimes que cometeu. Juntos, o que Youssef e Costa terão de devolver soma cerca de R$ 104 milhões. O órgão do Ministério da Justiça destinado a desarticular lavagem de dinheiro internacional – o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Interna­­cional (DRCI) – conseguiu repatriar apenas R$ 35 milhões em dez anos de existência.

Ligação com políticos

Os depoimentos de Paulo Roberto Costa – que deixou a sede da PF em Curitiba e começou a cumprir prisão domiciliar ontem (veja reportagem abaixo) – motivaram a investigação de pelo menos 40 pessoas ligadas ao esquema, incluindo políticos. A informação consta de decisão emitida na terça-feira pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF) – o que confirma o foro privilegiado e o envolvimento de parlamentares e outras autoridades com o esquema da Lava Jato.

Segundo a revista Veja, Costa teria citado pelo menos 25 deputados federais, seis senadores, três governadores, um ministro de Estado e pelo menos três partidos políticos (PT, PMDB e PP), que teriam tirado proveito de parte da verba desviada dos cofres da Petrobras. A expectativa é que os depoimentos de Youssef possam endossar as acusações de Costa e também adicionar outros nomes de políticos e empresas envolvidos.

Prisão domiciliar

O advogado de Youssef, An­­tô­­nio Figueiredo Basto, disse que irá se reunir com a força-tarefa do MPF na manhã de hoje. Ele confirmou que o acordo de delação premiada pode ser formalizado neste encontro, mas ressaltou que isso dependerá do andamento das conversas.

Basto não entrou em detalhes sobre os termos do acordo, mas disse que "não está descartado" que o cliente possa cumprir a pena em prisão domiciliar. "Estamos tentando evoluir [nos termos do acordo], mas isso está nas mãos no MPF", disse.

O MPF, porém, considera que "dificilmente" Youssef poderá cumprir a pena da ação da Lava Jato em prisão domiciliar por ele ter quebrado um primeiro acordo de delação que firmou, referente ao escândalo do caso Banestado, outro esquema de lavagem de dinheiro.

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