Os desdobramentos da Operação Porto Seguro, que desarticulou uma quadrilha que fraudava pareceres técnicos em órgãos federais e fazia tráfico de influência, levantou um debate em torno da independência da Polícia Federal em suas investigações. Ministros do governo Dilma Rousseff (PT) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) trocaram farpas sobre a interferência dos diferentes governos nas ações da PF. Os próprios delegados da instituição defendem mecanismos para tornar a polícia menos exposta a interferências externas.
Ontem o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, negou que a PF sofra interferência política. "Nos últimos dez anos, a Polícia Federal se converteu. Não é mais uma polícia de governo, é uma polícia de Estado", afirmou Cardozo, dando a entender que o órgão mudou sua forma de atuação a partir do governo Lula.
Na segunda-feira, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, já havia criticado a gestão FHC no tocante ao combate à corrupção. "Muita coisa que hoje acontece só acontece porque foram governos nossos que permitiram que saísse [a corrupção] debaixo do tapete. Historicamente, grandes questões sequer vinham à tona porque não havia espaço", disse Carvalho.
Em resposta, Fernando Henrique lembrou de operações da Polícia Federal realizadas em seu governo e negou qualquer interferência nas ações da corporação. "Eu tenho 81 anos, mas tenho memória. E esse senhor [Carvalho] precisava pelo menos respeitar o passado, até o dele, e não continuar dizendo coisas levianas", disse FHC. "A Polícia Federal ganhou força e era independente, sim [na gestão tucana]", completou.
Em meio à polêmica, a Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal divulgou nota na qual diz reconhecer as contribuições dos governos FHC e Lula. Mas ressalta que "há muito a ser feito no governo Dilma Rousseff e [nos] seguintes para consolidação da instituição como uma polícia de Estado e republicana". "A Polícia Federal ainda carece de uma Lei Orgânica que a proteja de interferências indevidas. A Direção-Geral do órgão precisa de uma gestão com mandato definido para a segurança e estabilidade da instituição", diz a nota.



