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Júlio Delgado, candidato do PSB à Presidência da Câmara dos Deputados | Valter Campanato/Agência Brasil
Júlio Delgado, candidato do PSB à Presidência da Câmara dos Deputados| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Candidato da "terceira via" na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, o mineiro Júlio Delgado (PSB-MG) diz que a vitória de um nome de fora da base aliada faria bem para o governo Dilma Rousseff. "Como meu partido já se declarou independente no Congresso e com isso deixou claro que não ambiciona cargos no governo, terei mais estatura que qualquer um dos meus adversários para dialogar com o Executivo", diz o parlamentar.

Delgado está no meio de uma disputa entre nomes dos dois maiores partidos da aliança governista, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Arlindo Chinaglia (PT-SP). Desalinhado ao Palácio do Planalto, Cunha tem trabalhado para atrair votos de legendas da oposição, como PSDB e PPS, que oficialmente estão juntos com o PSB. O deputado mineiro, no entanto, nega o temor de ter a candidatura "esvaziada" na reta final.

Delgado é advogado, tem 48 anos e está no quarto mandato consecutivo. Foi relator dos processos que levaram à cassação dos petistas José Dirceu e André Vargas. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, ele falou sobre as propostas para a presidência da Câmara.

O senhor está no meio de uma disputa que envolve os dois maiores partidos do Congresso. É um azarão?Eu me coloquei inicialmente como candidato da terceira via. Mas do jeito que temos sentido um desejo de mudança entre deputados dos mais variados partidos, falo que hoje a minha candidatura vai chegar ao segundo turno. A Câmara precisa se aproximar da sociedade e é com esse valor que eu trabalho. Meus concorrentes perceberam isso e por isso insistem em dizer que essa é uma campanha polarizada entre eles. A minha preocupação, enquanto eles se digladiam, é de buscar os votos necessários para o segundo turno. Aí eu espero contar com o apoio do candidato que não chegou para vencer a eleição.

Eleito, o senhor será um presidente de oposição a Dilma Rousseff?O que vale é a questão institucional. O presidente é presidente da Câmara dos Deputados. Os partidos se organizam entre oposição e situação, mas não a direção da Casa. Terei uma atitude republicana e institucional com o Executivo. Como meu partido já se declarou independente no Congresso e com isso deixou claro que não ambiciona cargos no governo, terei mais estatura que qualquer um dos meus adversários para dialogar com o Executivo. De certa forma, isso garante que a conversa entre poderes será até mais tranquila. Se eu ganhar, o governo não vai precisar ficar negociando benesses a cada proposta que entra ou não na pauta. Vou colocar para votar aquilo que interessa para a sociedade brasileira. Pode ser de autoria do Parlamento, do Executivo, do Judiciário ou da própria sociedade.

Seus adversários têm prometido nos bastidores um "pacote de bondades" para os deputados, como a equiparação dos salários com os dos ministros do STF e a construção de um novo prédio de gabinetes. O senhor também encampa essas propostas?Eu tenho viajado pelo Brasil com cópias do discurso dos últimos quatro presidentes da Câmara. Já se falava nesses temas como conquistas efetivadas, o que não aconteceu. Também se falava nisso como se isso fosse o mais importante em uma disputa pela eleição da Câmara, o que não é. Mas é lógico que a gente recebe esse tipo de demanda dos colegas. Eu ouço e, aquelas que são justas, serão colocadas em pauta. Agora, essa questão do aumento está regulamentada pela Constituição, não é conquista deste ou aquele. E construir prédio em Brasília é uma coisa que não fica pronta em um mandato de dois anos. Sem dúvida, as demandas que vêm de fora, da sociedade, são bem mais relevantes. Como é que o Parlamento vai ser respeitado se não votar o que a sociedade espera?

O que muda na Câmara se o senhor for eleito?Vamos votar a reforma política e rapidamente. Outro exemplo: o governo acabou de apresentar um pacote de ajustes previdenciários e trabalhistas. Várias outras matérias sobre esse assunto já tramitam na Câmara. Por que não aproveitar essas matérias ao invés de ficar só em cima do que o governo mandou? Nós temos preciosidades, que já receberam contribuições de cidadãos comuns, de entidades civis, que podem melhorar muito o texto final. É essa mudança de postura que eu defendo. Por que uma proposta do Executivo é melhor que as outras?

Qual a estratégia para conseguir votar a reforma política?Não adianta votar a reforma política como um todo. Até porque há questões que exigem mais tempo para o entendimento da sociedade. Eu, por exemplo, sou favorável ao financiamento público de campanha. A sociedade pode achar estranho, mas tem que ficar claro que isso já existe hoje por meio dos fundos partidários. A gente não tem que mexer apenas na forma de votar do eleitor, mas no que mexe na classe política. Poderíamos começar, por exemplo, com o fim da reeleição, mandato de cinco anos, coincidência eleitoral. Outra reforma importantíssima é a revisão do pacto federativo. Está na hora de distribuir melhor os recursos. Ninguém aguenta mais aumento de impostos. O desejo é de qualificação do gasto. Estamos diante de muitos desafios no começo de 2015 e o principal desafio do próximo presidente da Câmara é garantir que eles sejam enfrentados logo de cara.

Até quando é possível encerrar a votação da reforma política?Começando no segundo semestre, podemos começar a votar no final de 2015. Pelo menos essas três propostas: fim da reeleição, mandato de cinco anos, coincidência eleitoral.

Tem como evitar que a Câmara fique paralisada pelos desdobramentos da operação Lava Jato, que deve envolver uma série de parlamentares?Se você priorizar e der autonomia para funcionamento do Conselho de Ética, pode ter a apuração desses fatos correndo em paralelo do funcionamento da pauta da Casa. Nós vamos continuar trabalhando no sentido de dar continuidade na apuração desses fatos, em cima do que nos reza o regimento da Câmara.

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