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Reunião da Executiva do DEM que decidiu dar prazo para José Roberto Arruda se defender: partido negou que o governador do Distrito Federal tenha feito ameaças de revelar irregularidades da legenda se for expulso | José Cruz/ABr
Reunião da Executiva do DEM que decidiu dar prazo para José Roberto Arruda se defender: partido negou que o governador do Distrito Federal tenha feito ameaças de revelar irregularidades da legenda se for expulso| Foto: José Cruz/ABr

CPI não investigará deputados envolvidos

Folhapress

Brasília - Os 21 deputados da Câmara Legislativa do Distrito Federal se reuniram ontem para analisar as denúncias de corrupção na política brasiliense e decidiram criar uma CPI para investigá-las. Apesar disso, a CPI só vai apurar denúncias de corrupção contra o governo do Distrito Federal e não contra os sete deputados distritais investigados por suposta participação no esquema do mensalão do DEM.

Na reunião, os deputados distritais Leonardo Prudente (DEM), Rubens César Brunelli Júnior (PSC) e Rogério Ulysses (PSB) entregaram os cargos que ocupam na Câmara Legislativa. Prudente era presidente da Câmara. Brunelli, corregedor. E Ulysses ocupava o cargo de presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Casa.

Os três são citados na investigação que apura um suposto esquema de corrupção e de pagamento de mesada a políticos da base do governador José Roberto Arruda (DEM). E foram flagrados em vídeos recebendo a suposta propina.

A reunião para escolha do novo corregedor substituto ocorrerá na quinta-feira da semana que vem. Com a saída de Prudente da presidência da Câmara, uma nova eleição será convocada para escolher um novo presidente da Casa.

Enquanto isso, a presidência da Câmara será exercida pelo petista Cabo Patrício, que já sinalizou que a CPI não deve punir os deputados. "O foco da CPI é para investigar o governo. Até porque não existem provas do mensalão. Não podemos entrar no mérito antes de o caso ser investigado pela Corregedoria."

Vídeos

Brunelli foi flagrado em um dos vídeos gravados por Durval Barbosa, ex-secretário de Arruda que denunciou o suposto esquema de desvio de verbas públicas e arrecadação de propina de empresas que prestam serviços ao governo do DF. No vídeo, Brunelli reza com outros deputados após dividir o suposto dinheiro da propina.

Prudente foi flagrado em um vídeo gravado em 2006 recebendo dinheiro de Durval Barbosa. Na época da gravação, Barbosa era presidente da Codeplan (empresa do DF). As imagens mostram o próprio Barbosa entregando dinheiro a Prudente. Na sequência, o presidente da Câmara aparece guardando as cédulas nos bolsos do paletó e nas meias.

Impeachment empacado

Se a investigação da Câmara Distrital contra os deputados envolvidos no caso não devem avançar, o processo de impeachmente do governador Arruda também tem grandes chances de empacar. Arruda tem maioria na Casa para derrubar o processo e pode contar ainda com o apoio dos deputados distritais que também estão envolvidos no suposto esquema de pagamento de propina. Apesar disso, a base de Arruda já sofreu a perda de aliados de cinco partidos: PSDB, PDT, PSB, PPS e PV.

  • O deputado Leonardo Prudente (no centro), que colocou dinheiro da suposta propina nas meias, se afastou ontem da presidência da Câmara Legislativa do DF

Brasília - Dividida, a Executiva Nacional do DEM decidiu ontem dar uma sobrevida de oito dias ao governador do Distrito Federal, José Rober­­­to Arruda. Ele será submetido a um processo interno de expulsão com votação marcada para o dia 10 deste mês. Nesse período, terá de apresentar provas de que não está envolvido nas denúncias de corrupção para evitar a sua exclusão do DEM. Apesar disso, grande parte dos integrantes da cúpula do par­­tido diz achar muito difícil Arruda não ser expulso da legenda.

O adiamento da decisão sobre a expulsão rachou o partido. Uma ala da legenda defendia a sua desfiliação imediata, como forma de evitar um desgaste ainda maior ao DEM. Nos bastidores, porém, especulava-se que Arruda teria ameaçado retaliar o partido caso fosse expulso sumariamente. Falava-se que ele poderia revelar outras irregularidades que poderiam envolver a legenda. O rumor da pressão de Arruda foi oficialmente negado, mas o fato é que ele acabou ganhando mais tempo para se explicar.

"Tem que ter coragem. E ela faltou", disse o senador Demóstenes Torres (GO) na saída da reunião, que contou com a presença de 37 dos 45 integrantes da cúpula do DEM. Demóstenes liderou, ao lado dos líderes das bancadas na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), e no Senado, José Agripino (RN), a ala pró-expulsão imediata. "O governador Arruda, pelas notícias publicadas, não tem condições de manter a filiação ao partido", disse Agripino, que mais cedo tinha visto sua tese de expulsão imediata ser derrotada por 6 votos a 4 em reunião dos senadores da legenda.

Durante a reunião, apenas o deputado Osório Adriano (DF) e o secretário de Transportes de Arruda, Alberto Fraga, defenderam o governador, afirmando que ele vem fazendo um bom governo e que as irregularidades são da gestão passada. O senador Heráclito Fortes (PI) e o deputado federal Onyx Lorenzoni (RS) foram os que mais apoiaram a defesa prévia.

Coube então ao presidente do DEM, o deputado federal Rodrigo Maia (RJ), arbitrar a decisão de permitir a Arruda apresentar defesa, tese que prevaleceu. "São imagens chocantes, de difícil defesa, mas o governador tem o direito de defesa (...) Depois do dia 10, o DEM terá toda a condição de mostrar à sociedade que esse partido é diferente dos outros", afirmou Maia, citando os vídeos em que Arruda e aliados aparecem recebendo a suposta propina.

Análise da gravação

Apesar da vitória parcial dentro do DEM, Arruda terá uma semana difícil para obter provas de que os indícios contra ele estão equivocados. Análise da gravação da Polícia Federal mostra exatamente o contrário: Arruda reorganizando pessoalmente o mensalão do DEM em outubro deste ano e cobrando uma gestão unificada do esquema. O mensalão do DF teria se desorganizado com a saída de Domingos Lamoglia da chefia do gabinete de Arruda.

Num dos diálogos gravados, o governador deixa claro a insatisfação com possíveis esquemas paralelos na Secretaria de Saúde, até hoje comandada pelo deputado federal Augusto Carvalho (PPS).

As gravações contradizendo a versão do governador do DF de que foi vítima de uma trama. Ao ler seu comunicado de defesa, o governador disse que o diálogo gravado em 21 de outubro foi "conduzido para passar uma versão previamente estudada".

Os recibos da compra de panetones, principais documentos da defesa de Arruda para justificar a imagem do vídeo em que ele aparece recebendo R$ 50 mil, também estão sob suspeita. O vídeo foi gravado em 2006, quando Arruda ainda era candidato ao governo do Distrito Federal, e o ex-secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, ocupava o cargo de caixa de campanha. Sem data de emissão, sem timbre e escritos em linguagem que fogem aos padrões dos recibos, os documentos apresentam indícios de que foram produzidos às pressas e em data recente, depois que a investigação da Operação Caixa de Pandora já havia sido deflagrada.

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