
Depoimentos colhidos no âmbito da Operação Quadro Negro, que apura o desvio de quase R$ 20 milhões destinados a obras de escolas estaduais do Paraná, sugerem o envolvimento da alta cúpula da política do estado no esquema de corrupção.
Governo diz que foi quem abriu apuração; citados não falam
Três investigadas citaram ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), como supostamente envolvidos, os nomes do governador Beto Richa (PSDB); do secretário estadual de Infraestrutura e Logística, José Richa Filho, o ‘Pepe’, irmão do governador; do presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), Ademar Traiano (PSDB); do primeiro-secretário da Assembleia, Plauto Miró (DEM); e do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e ex-secretário-chefe da Casa Civil, Durval Amaral. De acordo com os depoimentos, o suposto desvio de verba pública seria destinado a campanhas eleitorais.
Relato da assessora jurídica da construtora Valor, Úrsulla Andrea Ramos, menciona que os recursos desviados teriam sido repassados para a campanha de reeleição do governador Beto Richa, em 2014, e a outros três candidatos a deputado estadual. No depoimento, a advogada afirma que questionou o proprietário da empresa, Eduardo Lopes de Souza, sobre os valores supostamente desviados das obras. “Esse dinheiro não ficou comigo, esse dinheiro foi feito repasse pra campanha do governador Beto Richa e pra essas três campanhas [do filho do conselheiro Durval Amaral, o deputado estadual Tiago Amaral; de Traiano e de Plauto]. Foi o que ele me disse”, afirma Úrsulla.
No depoimento, a assessora da Valor ainda afirma que questionou o dono da empresa se ele teria provas do que estava dizendo. Segundo o relato de Úrsulla, Souza teria dito possuir gravações de todas as conversas em que tratou do assunto. A Gazeta do Povo não conseguiu apurar se o Gaeco teve acesso a essas supostas gravações.
Foro privilegiado
Devido ao foro privilegiado dos citados, os nomes foram levados pelo Gaeco ao procurador-geral de Justiça, Gilberto Giacoia, chefe máximo do Ministério Público do Paraná (MP), que é quem tem competência para pedir a abertura de uma investigação contra deputados estaduais (caso de Traiano e Plauto) e secretários de Estado, como Pepe Richa.
No caso de Beto Richa e de Durval Amaral, quem deve decidir pela abertura ou não de uma investigação é a Procuradoria-Geral da República (PGR), em Brasília. A PGR já foi notificada por Giacoia sobre a citação dos dois. Caberá ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, opinar se todos serão investigados pela PGR ou se o caso envolvendo os deputados estaduais e Pepe Richa será desmembrado e devolvido ao MP do Paraná.



