Brasília - Para acalmar os militares, que reagiram negativamente à escolha do ex-chanceler Celso Amorim para o Ministério da Defesa, a presidente Dilma Rousseff reuniu ontem pela manhã os comandantes militares. E garantiu aos três chefes das Forças Armadas Exército, Marinha e Aeronáutica e mais ao chefe do Estado-Maior Conjunto, general José Carlos De Nardi, que o novo ministro não vai fazer mudanças nos comandos militares.
A reportagem apurou que Dilma pediu aos comandantes que "mantenham a normalidade institucional". O almirante Moura Neto é o comandante da Marinha; o chefe da Aeronáutica é o brigadeiro Juniti Saito e o Exército tem como comandante o general Enzo Peri. Os militares disseram que estão a serviço do Estado e que não servem a pessoas.
Insatisfação
O encontro de Dilma com os comandantes ocorreu para conter a insatisfação de militares com Amorim. Generais da ativa ouvidos pela reportagem, que pediram para não ter os nomes divulgados por medo de serem punidos por descumprirem o regulamento disciplinar, dizem que a situação é delicada porque todos conhecem as posições do ex-chanceler durante sua passagem pelo Itamaraty, quando "contrariou princípios e valores" dos militares ao tomar decisões ideológicas.
Amorim comandou a aproximação do Brasil com países tais como a Venezuela e o Equador que são suspeitos de darem suporte às guerrilhas de esquerda das Farc, justamente uma preocupação dos militares na Região Amazônica, bem como o narcotráfico, que financia esse grupo militar. No Itamaraty, o novo ministro também conduziu o estreitamento de relações do Brasil com o Irã, país considerado perigoso pela comunidade internacional. Outra aproximação que desagradou as Forças Armadas foi com Cuba.
A nomeação de Amorim poderia, para alguns altos oficiais, passar a imagem de que o Brasil está alinhando sua estratégia de defesa militar com essas nações.
"Ele colocou o MRE [Ministério das Relações Exteriores] a serviço do partido", salientou um militar, acrescentando que temem, por exemplo, a atitude de Amorim em relação à condução do programa nuclear brasileiro, já que ele sempre teve o que chamam de "posição perigosa" de ser favorável à assinatura de um protocolo internacional que limitaria programas de pesquisa das Forças Armadas.
Apesar de toda contrariedade, os militares, por disciplina, não tomarão nenhuma atitude contra Amorim. Não há o que fazer, além de bater continência para o ocupante de uma das carreiras que os militares mais têm rivalidade: os diplomatas.
Para os militares, a escolha de Amorim tem ainda "o dedo de Lula". "É quase como nomear o flamenguista Márcio Braga para o cargo de presidente do Fluminense ou do Vasco, ou vascaíno Roberto Dinamite como presidente do Flamengo", comparou um militar. "O governo está apostando na crise", observou um general, explicando que o Jobim conquistou autoridade mas ninguém sabe como será a reação da tropa caso haja algum problema que Amorim precise usar sua autoridade.



