
Em conversa por telefone, a presidente Dilma Rousseff acertou ontem com o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, que só decidirá se o mantém ou não no cargo após o posicionamento da Procuradoria-Geral da República (PGR) a respeito das suspeitas de enriquecimento ilícito e de que ele fez tráfico de influência no governo federal por meio de sua empresa de consultoria, a Projeto.
A decisão da presidente de aguardar a manifestação da PGR tem dois motivos. Primeiro, se afastar Palocci de imediato, corre o risco de depois ser cobrada por uma atitude "injusta", caso a procuradoria não veja motivos para pedir a abertura de inquérito. E, no caso de a PGR encontrar os indícios, o afastamento de Palocci seria facilitado, sob o argumento de que o governo não quer atrapalhar as investigações.
No entanto, a decisão de Dilma, que teria sido tomada após uma consulta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, terá um efeito colateral adverso ao governo: a crise política, que já dura 22 dias, continuará até que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, emita seu parecer sobre o caso.
No último dia 20, Gurgel pediu esclarecimentos a Palocci sobre seu enriquecimento. Ao informar que tinha pedido de dados a Palocci, Gurgel, no entanto, antecipou que não via como crime a prestação de serviços de consultoria. Ele ponderou que o caso poderia ser questionado do ponto de vista ético. A oposição enviou ao procurador duas representações contra Palocci. A partir das respostas do ministro, o procurador irá decidir sobre um eventual pedido de abertura de investigação.
No Planalto, parte da equipe de Dilma trabalha com a perspectiva de que Gurgel apresentará sua decisão até a quarta-feira. Outra parte dos auxiliares da presidente diz que não é possível prever um prazo. Gurgel pode adiar o anúncio de sua posição para as próximas semanas, o que esticaria a crise política vivida pelo governo.
Auxiliares da presidente disseram ainda que ela acertou também com o ministro Palocci que os dois tentarão manter uma agenda normal nesta segunda-feira, quando o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, será recebido no Palácio do Planalto e no Itamaraty (leia mais sobre a visita do venezuelano na página 14).
Avaliação de performance
Durante o fim de semana, Dilma e auxiliares diretos fizeram avaliações sobre a performance do ministro nas entrevistas ao Jornal Nacional e à Folha de S.Paulo. A presidente se sentiu incomodada ao ouvir do ministro que não podia divulgar a lista de clientes de sua consultoria. Além disso, neste fim de semana houve mais desgaste político com a divulgação de que Palocci aluga um apartamento de 640 metros quadrados em São Paulo de uma empresa que usa "laranjas" para esconder os verdadeiros donos do imóvel. Em nota, o ministro ressaltou que não tem responsabilidade sobre os atos do proprietário do imóvel.
Interatividade
A presidente Dilma Rousseff está certa ao manter Antonio Palocci no governo? Por quê?
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