
Por pelo menos quatro anos, a principal representatividade política do Brasil deve estar a cargo de uma mulher: Dilma Rousseff. É a primeira vez que isso acontece em 121 anos de República e em 80 anos desde que as mulheres passaram a poder votar e ser votadas. Embora uma mulher esteja ocupando o posto máximo do Executivo brasileiro, no Congresso Nacional e nos estados, a representatividade feminina não é tão expressiva, cenário que demonstra o caráter essencialmente masculino da política brasileira.
No pleito deste ano, o porcentual de eleitas ficou estagnado em relação a 2006. Em outubro, duas mulheres foram escolhidas como governadoras de estado, uma a menos que na campanha anterior. As mulheres representavam 8% dos 513 ocupantes das cadeiras da Câmara dos Deputados, porcentual que não mudou nas últimas eleições. No Senado, o índice era de 13%, ou seja, oito mulheres. Nesta eleição, sete senadoras foram escolhidas.
Para Alberto Carlos Almeida, autor do livro A Cabeça do Eleitor, o fato de uma mulher ter obtido êxito na disputa presidencial não significa que o eleitorado tenha pesado o fato de Dilma Rousseff ser mulher na hora de votar. "O voto nela não significa o voto na mulher. Ela foi eleita porque estava na esteira de um governo bem avaliado. Então se fosse homem, negro ou homossexual, provavelmente o desempenho não seria muito diferente", aponta. No entanto, Almeida considera que o desempenho da presidente vai determinar a ampliação da votação em mulheres nos próximos pleitos. "Ela é que vai dar o exemplo. Se a Presidência conseguir mudanças significativas, se o mandato for considerado bom, vai ser um pontapé inicial para avanços na representatividade feminina."
A cientista política e professora da Universidade Federal de São Carlos Maria do Socorro Braga compartilha da mesma opinião. De acordo com ela, a eleição de Dilma não se tratou de uma questão de gênero: "Eleger uma mulher não foi uma bandeira levantada pelos partidários", aponta. Porém, para a socióloga, parece ser o indicativo de uma mudança. "É uma sinalização. Elas estão ocupando vários cargos de chefia, em diversas áreas. Esse processo forte de modernização de comportamentos acontece não só no Brasil, mas em toda a América Latina."
A professora Maria do Socorro também afirma que a chegada de Dilma à Presidência pode instigar a participação de outras mulheres. "Quanto melhor for o desempenho delas, mais serão instigadas. A sociedade brasileira é tradicional, mas se a governança em si for positiva, todos vão olhar com outros olhos a situação e passar a entender que tanto um homem quanto uma mulher podem gerir ou governar o que é público", diz.
De acordo com estimativas da União Interparlamentar, organização que reúne representantes de parlamentos do mundo todo, o Brasil está em uma das últimas posições do ranking quando o assunto é equilíbrio na participação de homens e mulheres na política: o país ocupa a posição de número 106, na frente apenas da Colômbia e Honduras. "Somos a 8.ª economia do mundo, mas quando se trata de igualdade e representação dos gêneros, nossa situação é vergonhosa", avalia a cientista política e consultora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA) Fernanda Feitosa.
Para ela, há motivos bem delineados que inibem essa participação: "O preconceito para com a condição feminina, as jornadas múltiplas como profissional e mãe, a falta de estrutura e incentivo por parte dos partidos políticos e a legislação eleitoral, que privilegia o voto personalista".
Ações positivas
A pretensão da presidente eleita Dilma Roussef (PT) de destinar um terço dos ministérios para mulheres tem o intuito de elevar e intensificar a participação feminina no governo. Hoje, três mulheres ocupam cargos de chefia das pastas. Se a indicação de Dilma for seguida à risca, 12 representantes serão do sexo feminino.
Mas, de acordo com especialistas, a indicação de mulheres não basta para que elas deixem de ser subrepresentadas na política. Para Fernanda Feitosa, é essencial que a iniciativa da participação feminina seja feita de dentro dos partidos. "As siglas têm de investir em cursos de formação política, colocando-as em cargos de chefia", comenta.




