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Dilma e Lula, durante avaliação do governo em dezembro de 2010: atuações alinhadas, porém com posturas diferentes | Ricardo Moraes/Reuters
Dilma e Lula, durante avaliação do governo em dezembro de 2010: atuações alinhadas, porém com posturas diferentes| Foto: Ricardo Moraes/Reuters

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Núcleo de confiança é restrito

O núcleo de confiança formado pela presidente Dilma Rousseff nos primeiros meses de governo é pequeno. Constitui-se de duas pessoas: os ministros Antonio Palocci (Casa Civil) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). Ao contrário do ex-presidente Lula, que tinha uma meia dúzia de ministros assessores, congregados no chamado "núcleo duro", com Dilma todo assunto de governo começa com ela e acaba nos dois ministros. Eles foram amigos de militância clandestina na esquerda durante a ditadura militar.

Num segundo círculo de proximidade com Dilma estão os ministros Alexandre Padilha (Saúde), Alfredo Nascimento (Transportes), Antonio Patriota (Relações Exteriores), Edison Lobão (Minas e Energia) e Helena Chagas (Comunicação Social).

Entre os atuais 37 ministros – outros 3 estão por vir com as novas pastas da Aviação Civil, Autoridade Olímpica e Micro e Pequenas Empresas –, há alguns com os quais a presidente não demonstra a menor afinidade. É o caso de Wagner Rossi (Agricultura), escolha pessoal do vice-presidente Michel Temer, que só conseguiu a primeira audiência com Dilma já no início de abril. Na lanterna absoluta das preferências está Pedro Novais (Turismo), imposto pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Brasília - Dilma Rousseff chegou ao centésimo dia do governo da primeira mulher presidente do país reforçando seu poder político e impondo a imagem de gestora. O pragmatismo, cultivado em um revezamento nos papéis de "técnica" e "articuladora", serviu para tentar esconder o fato de que, à semelhança dos antecessores, seu governo distribui cargos com o mesmo viés fisiológico de sempre porém sem embaraço – e essa distribuição está longe do fim.

Logo após ser eleita na esteira da popularidade do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e indicar nomes fortes para o ministério como Antonio Palocci, Dilma deixou claro, em entrevista em novembro, que não aceitaria a fama de "rainha da Inglaterra". "Quando há o sol bem violento que atinge a cidade, sou a favor de sombra. Mas quanto às demais sombras, não acho que sejam compatíveis", disse ela sobre a hipótese de ter outros líderes no seu encalço.

Foi a relação de Dilma com Lula, no entanto, o que ganhou destaque nas análises sobre seu desempenho. Ela causou estranheza em assessores que passaram pelo governo anterior ao silenciar diante da tese de que os elogios recebidos eram uma forma de seus opositores tentarem desconstruir a imagem de Lula.

"A segurança de que está sendo leal ao antecessor permite que a presidente se mantenha afastada desse debate", avaliou um ministro próximo dos dois. O desprezo de Dilma pelas insinuações e a decisão de impor uma marca de governo ficou evidente na visita, mês passado, do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil. Ela convidou ex-presidentes para o almoço no Itamaraty, entre eles o tucano Fernando Henrique Cardoso, alvo contumaz dos ataques de Lula.

Enquanto silenciou diante da suposta desconstrução do mito Lula, Dilma executou antigos sonhos do ex-chefe, como a degola de Roger Agnelli do comando da Vale, uma aposta numa área sensível do mercado. A companhia agora é chefiada por Murilo Ferreira, um simpatizante.

A presidente gosta de ser tratada com deferência e demonstrar prestígio e autoridade, observou outro assessor. Isso facilita a relação com o vice Michel Temer, do PMDB, na avaliação do mesmo auxiliar. Nos encontros com a presidente, Temer abusa do cerimonial e dos ritos e sempre observa a hierarquia.

O temor de ser comparada ao mito Lula seria um dos motivos de Dilma não ter dado atenção aos insistentes pedidos de aliados de redutos tradicionais do ex-presidente para participar de eventos públicos. Ela tem ignorado o know-how do governo passado em se comunicar e dialogar diretamente com os grotões, por meio de uma rede de aliados.

No debate do reajuste do mínimo, no qual enfrentou as centrais sindicais para manter o valor R$ 545 mensais, e na repercussão da revolta de operários da usina de Jirau, Dilma, porém, recebeu provas de que a aliança com movimen­­­tos sociais, agora costurada pelo ministro Gilberto Carvalho (Secre­­­taria-Geral), se mantém forte.

Auxiliares da presidente dizem estar certos de que a distensão na briga com os opositores e o fim das cerimônias com jeito de comícios foram previamente acertados com Lula. Sobre essas diferenças o ex-chanceler Celso Amorim disse que, "provavelmente" não votaria resolução da ONU contra o Irã, numa crítica ao seu sucessor, Antonio Patriota. O que alguns classificam de "discrição" outros avaliam como falta de criatividade. "Eu ainda não vi nada no governo Dilma. Ela bate ponto", diz o cientista político e ministro da cultura do governo tucano Francisco Weffort. "Ao menos, ela tem a vantagem de não gritar o tempo todo, a verborragia do Lula. Já é uma grande coisa", completa.

Um dos segredos do governo é mostrar que, mesmo quando cede a barganhas, Dilma foi quem tomou a decisão final. Exemplo: ela tirou o controle de Furnas das mãos do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), suspeito de aparelhar a administração do fundo de pensão da elétrica. Mas, em seguida, pôs no comando da estatal Flávio Decat, da sua cota pessoal, ligado à família do senador José Sarney (PMDB-MA) e citado nas gravações da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal. Sarney ainda ganhou dois ministérios: Minas e Energia e Turismo, entregues respectivamente a Edison Lobão e Pedro Novais – que quando deputado, usou dinheiro da Câmara para pagar despesas em um motel.

Aliados do Planalto se esforçam em manter a cautela ao falar sobre as diferenças de estilo de Dilma e Lula. Em discurso na quinta-feira, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT), afirmou que a presidente manteve programas de Lula e tem luz própria. Segundo ele, Dilma tomou medidas alternativas ao aumento de juros e conseguiu dosar medidas fiscais, sem prejuízo para os investimentos. O deputado cita o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento anunciado pelo Planalto porém até agora obscuro. "Ela mantém o firme propósito de gastar menos e gastar melhor", afirma.

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