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O brasileiro recebeu 92 votos contra 88 do principal oponente | Andreas Solaro/AFP
O brasileiro recebeu 92 votos contra 88 do principal oponente| Foto: Andreas Solaro/AFP

Desafios

Agência tem orçamento de R$ 1 bilhão

José Graziano da Silva assume o poder num momento de volatilidade dos preços mundiais dos alimentos, que alcançaram níveis recordes no início do ano. A FAO é a maior agência da ONU, com um orçamento anual de US$ 1 bilhão e 3.600 empregados. A organização, de 66 anos, tem sede em Roma e sua missão é acabar com a fome no mundo.

Em 2000, os líderes mundiais estabeleceram a meta de baixar à metade a parte da população mundial que passa fome, reduzindo-a a 7%. Cerca de 13% da população mundial está desnutrida, segundo mostram os mais recentes números da FAO.

Perfil

Engenheiro agrônomo, economista, professor e escritor, Graziano já ocupou o cargo de diretor-regional da FAO e foi ministro da Segurança Alimentar e do Combate à Fome entre 2003 e 2004, no primeiro mandato do governo Lula. Ele coordenou a elaboração do programa Fome Zero, dando também início à implementação.

O brasileiro José Graziano da Silva – um dos mentores do programa Fome Zero, plataforma política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – foi eleito ontem diretor-geral da Orga­­­nização das Nações Uni­­das para a Agricultura e Alimentação (FAO). Ele vai suceder o senegalês Jacques Diouf e é o primeiro latino-americano a ocupar o posto. José Graziano ganhou do espanhol Miguel Angel Moratinos, de 92 a 88 votos.

Para o Itamaraty, o apoio dos países em desenvolvimento pavimentou a vitória brasileira na disputa pela direção-geral da agência e foi a primeira conquista diplomática da presidente Dilma Rousseff (PT).

Na primeira rodada da eleição, o brasileiro teve 77 votos, contra 72 do espanhol. Dos 191 países membros, 179 votaram e, como ninguém recebeu a maioria absoluta, os membros passaram diretamente à segunda rodada de votação. Antes disso, entretanto, o Brasil pediu um recesso de 30 minutos para se reunir com o G77 (bloco dos países em desenvolvimento) e consolidar o apoio do grupo a Graziano. "Foi uma iluminada decisão brasileira de acertar o jogo", afirmou o porta-voz do Itamaraty, Tovar Nuves.

O novo diretor assumirá no dia 1º de janeiro de 2012 e devepermanecer na função até 31 de julho de 2015. Ele poderá ser reeleito para um mandato adicional de quatro anos. Diouf foi eleito em 1994 para um mandato de seis anos e foi reeleito duas vezes.

Discurso

Ao ser declarado vencedor, Graziano foi bastante aplaudido pelo plenário da FAO, com sede em Roma. No breve discurso que fez, o brasileiro se disse emocionado e pediu licença para falar em espanhol, em vez de inglês. A primeira coisa que fez foi agradecer a Dilma, Lula e ao ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota. Também citou o apoio dado pelos países em desenvolvimento e, em especial, pelos países africanos.

"Quero agradecer aos cinco candidatos e já solicitei a todos colaboração e apoio para dirigir a FAO", declarou. Ele ressaltou a necessidade de união dentro da organização. "Betinho, um brasileiro que liderou a luta contra a fome no Brasil nos anos 70 e 80, dizia que quem tem fome tem pressa. Por isso, durante toda minha campanha insisti na necessidade de obter consensos para superar a divisão interna que tanto tem impedido essa instituição de vencer a luta contra a fome", declarou.

Repercussão

O resultado do pleito foi recebido pela presidente Dilma com "enorme satisfação", segundo nota divulgada ontem à tarde pela assessoria de imprensa do Palácio do Planalto. "A vitória do candidato brasileiro reflete, igualmente, o reconhecimento pela comunidade internacional das transformações socioeconômicas em curso em nosso país – que contribuem de forma decisiva para a democratização de oportunidades para milhões de brasileiras e brasileiros –, bem como o compromisso do Brasil de inserir o combate à fome e à pobreza no centro da agenda internacional. Um objetivo possível de ser alcançado com o fortalecimento do multilateralismo e com o aprofundamento da solidariedade e da cooperação entre as nações e os povos."

Antecessores

O resultado é a primeira vitória de uma aposta internacional do Brasil, depois de algumas derrotas e frustrações em outras candidaturas. Em 2005, o embaixador Luiz Felipe de Seixas Correa foi lançado candidato à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) para contrapor o uruguaio Carlos Pérez Del Castilho. A divisão ajudou na vitória do francês Pascal Lamy. Também na OMC, em 2009, o governo brasileiro apostou na ministra do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie para uma vaga no Órgão de Apelação, mas ela foi derrotada, menos por ser brasileira e mais porque, como confessou, conhecia pouco de temas comerciais.

No Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Brasil lançou João Sayad, em 2005, mas perdeu para o colombiano Luís Alberto Moreno, reeleito em 2010 com o apoio brasileiro. Em 2009, era dada como certa uma candidatura brasileira para a Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura). Apesar do apoio ao Brasil por parte de diversos países, o governo de Lula preferiu apoiar o candidato do Egito, ex-ministro da Cultura Farouk Hosny, acusado de antissemitismo pelos Estados Unidos, Europa e Israel, e sem apoio dos demais países árabes.

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