
- Doleiro Alberto Youssef decide fazer delação premiada, diz advogado
- Parecer do MPF é contra recursos de presos da Lava Jato
- Réu da Lava Jato fala em 'conivência' de bancos em depoimento
- Justiça nega acesso da CPI à delação
- Deputada contratou como assessora amiga de Youssef
- Juiz nega cópia de delação premiada de ex-diretor da Petrobras a CGU e CPMI
O doleiro Alberto Youssef já está negociando um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF) e com a Polícia Federal (PF) para esclarecer os fatos ligados às investigações sobre desvios em contratos de grandes empreiteiras com a Petrobras, dentro da operação Lava Jato. O Ministério Público Federal e o advogado do doleiro, Antônio Figueiredo Basto, confirmaram a negociação. O MPF tem interesse na delação premiada de Youssef, confirmam fontes ligadas ao órgão. O acordo seria, porém, "naturalmente rígido" devido ao fato do doleiro ter quebrado a primeira delação premiada feita em 2004 no caso Banestado, em que acabou condenado a quatro anos de prisão.
De acordo com o advogado de Youssef, Antônio Figueiredo Basto, o MPF ofereceu uma proposta de acordo que deve ser analisada pelo doleiro. "O que meu cliente pediu hoje (terça-feira) é que seja apreciada a proposta de negociação que foi feita", disse. O que precisa ser acordado entre o doleiro e o MPF é em troca do quê Youssef colaboraria com a investigação da Lava Jato. Isso deve ser acertado nos próximos dias.
A colaboração de Alberto Youssef à Justiça poderá ser decisiva. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa listou, em acordo de delação premiada, a relação de mais de 30 políticos envolvidos com esquema de corrupção na estatal. Seriam pelo menos 25 deputados federais, seis senadores, quatro governadores, um ministro e pelo menos três partidos políticos PT, PMDB e PP, que teriam tirado proveito de parte do dinheiro roubado dos cofres da Petrobras. Entre os envolvidos estão o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Youssef seria o responsável, segundo a investigação, de operar o esquema, ou seja, fazer o dinheiro desviado da Petrobras chegar às mãos dos envolvidos. Num acordo de delação, ele poderia detalhar quais empresas foram usadas, em quais contas bancárias no exterior a propina teria passado e de que forma cada um dos envolvidos recebia uma parte do dinheiro supostamente oriundo da corrupção. Em suma, ele produziria provas para a investigação.
Apesar do desejo de Youssef em colaborar, Basto afirmou que é contra a delação premiada. "Ainda vou tentar demover meu cliente de fazer isso", garantiu o advogado. O advogado afirmou que caso seja firmado um acordo com o MPF, ele deve deixar a defesa de Youssef. "Não sei o conteúdo, não tenho a menor ideia do que do que ele pode falar e não quero ouvir nenhum depoimento", disse. Antonio Figueiredo Basto confirmou a negociação de delação premiada no início da noite dessa terça, depois de negar a hipótese durante a tarde.
Entre os motivos que levaram Youssef a resolver colaborar com a Justiça, Basto cita o estado de saúde e a influência da família. "As circunstâncias foram terríveis. Primeiro a saúde ele já perdeu 18 kg desde que foi preso e foi hospitalizado duas vezes -, depois o tempo de encarceramento", explica o advogado. "A família foi preponderante nisso", finaliza Basto. Além disso, o advogado cita outros acordos de delação premiada firmados no processo. Entre os delatores estão Alberto Pereira da Costa, Ediel Viana e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa.
Esquema
De acordo com as investigações da Polícia Federal durante a Operação Lava Jato, grandes empresas pagavam entre R$ 130 mil e R$ 150 mil para fazer parte de um esquema que desviava dinheiro da Petrobras. As empresas, indicadas por Alberto Youssef, prestavam serviços fictícios à estatal e repassavam parte do valor do contrato a intermediadores do negócio, diretores da estatal e políticos. Youssef era um dos principais operadores do esquema e era responsável por receber o dinheiro que as empreiteiras pagavam para fazer negócios com a Petrobras.
O doleiro está preso desde março, suspeito de ter remetido para fora do país, de forma fraudulenta, US$ 444,7 milhões entre julho de 2011 e março de 2013. Segundo a Justiça, ele cometeu esse crime 3.649 vezes. Na terça-feira (16), Youssef negou envolvimento com transações financeiras vinculadas ao tráfico internacional de drogas. Ele é suspeito de ter realizado operação de câmbio de US$ 36 mil para importação de cocaína da Bolívia.



