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A Operação Lava Jato chegou a Lula, não só ao quintal, mas pela porta da frente – do sítio, do triplex e da residência. Ao despacho de Sérgio Moro que autorizou a 24ª Fase da Lava Jato segue-se a interrogação que faz as vezes de título.

Qualquer resposta para esta questão esbarra na dificuldade representada pela anormalidade do Brasil. Em qualquer nação minimamente civilizada, onde vige a rule of law, menos da metade do que acontece por aqui teria provocado a queda do governo. Não somos, definitivamente, um país comum.

O toc-toc de Moro soando à porta de Luiz Inácio permite, porém, vislumbrar algumas faces do momento.

De início, é consenso que o governo Dilma precisa acabar. O povo o exige soberanamente e o mercado reage bem.

Clima para impeachment já existe há meses, mas os membros do Legislativo insistem em afirmar que “tudo agora só depende do povo”, como se dois milhões de pessoas já não tivessem dito nas ruas o que queriam. Se o impeachment não ocorreu ainda é porque a opção, que é política, encontra empecilhos... políticos.

O PMDB, força decisiva para tanto, enfrenta o fato de que os processos de cassação no âmbito do TSE resultam, invariavelmente, na queda conjunta de Dilma e Temer. Não parece oportuno realizar o impeachment para, depois, o próprio Temer ser derrubado. Muito mais confortável é que a primeira zumbi presidente do Brasil receba o ônus por completo e o seu vice saia por anexo a ela.

Enquanto houver incerteza sobre o TSE, o PMDB preferirá o distanciamento disfarçado na forma de planos e agendas de salvamento do país, propostos como se o partido desejasse fazer algo, mas, infelizmente, não pudesse.

Paralelamente, avoluma-se com força titânica aquela outra corrente que começa a trabalhar às 6 da manhã: a popular, secundada pela própria Lava Jato. Caminhando a passos largos, não mais admite o espectro criminoso que ronda o país. Resolver a situação, e rápido, é inegociável. Formada por mais de 90% dos brasileiros, foi esta corrente que comemorou, com “buzinaços” e “aplausaços”, a condução coercitiva de Luiz Inácio para depor.

Por quanto tempo ainda o establishment conseguirá conter, com desculpas e “Planos Temer”, os ânimos do povo é algo que parece cada vez mais breve.

Mas se há uma coisa que o establishment já mostrou não poder conter é a Operação Lava Jato, aplicadora da regra da lei àqueles que dela sempre se furtaram. É curioso que, num lugar onde o discurso das “instituições” seja tão importante, uma Operação que vem mostrando o quão carcomida elas estavam goze de tanto apoio popular. A Operação Lava Jato, hoje, é a única instituição amada pelo povo brasileiro e detentora de sua confiança – justamente, e nisto reside sua singularidade, porque escancara a podridão das instâncias oficiais.

A condução coercitiva do Sr. Luiz Inácio para depor e a nota do Ministério Público Federal sobre os desvios do tristemente afamado têm o valor de reacender a esperança de que a lei, como diz o despacho do juiz Sérgio Moro, seja aplicada a todos. Se existe rule of law, a “ocupanta” do Palácio do Planalto, introduzida pelos braços de uma organização criminosa intercontinental, deve ser despejada de seu apartamento alugado a preço de propina inexoravelmente. Haverá instituições no Brasil para isso?

Dizia-se, entre os petistas, que Lula era, ele mesmo, uma “instituição”. Coube à Operação Lava Jato conduzi-lo de volta ao seu patamar real: um homem comum, abaixo da lei. Condução coercitiva, no banco traseiro de uma suv policial federal.

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