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A eleição presidencial deste ano parece a menos ameaçadora à estabilidade econômica em 25 anos, mas diferenças vitais entre os principais candidatos significam que muito estará em jogo para empresários e investidores.

Sete anos de estabilidade e prosperidade sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva estabeleceram um novo consenso econômico no Brasil que nenhum dos dois que aparecem à frente nas pesquisas parece estar disposto a quebrar.

Tanto a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), quanto o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), estão comprometidos com os princípios de taxa de câmbio flutuante, metas de inflação e de superávit primário que ancoraram o renascimento econômico brasileiro.

Isso é um alívio aos executivos, que por muito tempo associaram as eleições no Brasil com grande incerteza em meio à hiperinflação e à crise econômica na década que se seguiu ao retorno do país à democracia em 1985.

"As eleições não são mais o fantasma que costumavam ser. Quem quer que vença, haverá uma certa continuidade", disse Claudio Miccieli, diretor-executivo da Giraffas, uma rede de 300 restaurantes fast-food.

Ainda assim, diferenças importantes entre os dois principais candidatos em questões de disciplina fiscal, política externa e intervenção estatal podem mudar significativamente o clima para os investimentos no país.

Serra e Dilma, que obtiveram respectivamente 37 por cento e 23 por cento na mais recente pesquisa Datafolha, têm muito em comum, incluindo um passado de ativismo de esquerda durante a ditadura militar de 1964 a 1985. Economistas experientes, ambos falam como tecnocratas e parecem um tanto formais em público.

Pela lei, Lula não pode concorrer à Presidência de novo. Será a primeira vez desde 1989 que ele não disputará o principal cargo do país.

Governo forte

Serra e Dilma são favoráveis à forte regulamentação governamental e Serra quebrou patentes de laboratórios farmacêuticos multinacionais como ministro da Saúde do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

É provável, porém, que Dilma amplie o papel do Estado na economia, uma tendência iniciada por Lula em 2009 quando tomou medidas para mitigar os efeitos da crise financeira global.

A ex-guerrilheira ajudou a redigir um projeto de lei, atualmente no Congresso, para aumentar o controle estatal sobre a indústria do petróleo e do gás e apoiou a iniciativa de Lula para expandir os bancos estatais.

Em contraposição, Serra vendeu o bancou Nossa Caixa, do Estado de São Paulo. O PSDB, que privatizou estatais ineficientes nos anos 1990, advertiu que o projeto do petróleo de Lula reduziria o investimento privado. Dilma defende a racionalização do Estado, mas não é favorável à redução do seu tamanho ou dos generosos benefícios aos funcionários públicos.

O saneamento básico, ainda ausente em grande parte do país, é um enorme setor de serviços que Serra estaria mais inclinado a abrir ao setor privado do que Dilma, dizem especialistas.

"Enquanto um governo de Dilma provavelmente estenderia a estratégia atual do governo em depender mais pesadamente em empresas de propriedade do Estado, como a Petrobras, um governo Serra tenderia a se apoiar com mais força nos investimentos privados", disse o grupo de consultoria Eurasia Group em um relatório.

Orçamento, moeda, taxa de juros

Embora ambos os candidatos provavelmente mantenham o superávit primário, acredita-se que Serra administraria um orçamento mais apertado e racionalizaria o aparato estatal de forma mais agressiva, terceirizando mais para o setor privado.

"Serra seria mais rigoroso com a disciplina fiscal e terceirizaria mais, enquanto Dilma não mudaria muito em termos de gastos públicos", afirmou Roberto Piscitelli, professor de finanças públicas da Universidade de Brasília.

O gasto público subiu drasticamente em 2009, reduzindo o superávit primário para apenas pouco mais de 1 por cento do PIB, em comparação com 4,3 por cento do ano anterior.

Alguns investidores percebem as críticas de Serra à política monetária e cambial como um sinal de que ele agiria de forma mais agressiva para reduzir as taxas de juros e enfraquecer o real, embora provavelmente não por meio de uma intervenção direta no mercado.

O real valorizou-se 34 por cento ante o dólar no ano passado e deve ajudar a reduzir as exportações e estimular as importações em 2010.

"Ele (Serra) vai mudar a política cambial, os juros - vai acertar", disse o deputado Luiz Paulo Velloso Lucas (PSDB-ES).

Dilma tem dito que o Banco Central deveria considerar o crescimento econômico e o crescimento do emprego para atingir as metas de inflação.

A taxa de juros caiu vertiginosamente no ano passado, mas, a 8,75 por cento, permanece uma das mais altas entre as grandes economias.

Apesar de defender um governo forte, Serra talvez seja o candidato preferido dos investidores financeiros. Uma pesquisa realizada em dezembro pela consultoria MCM em São Paulo mostrou que 73 por cento de seus 154 clientes apoiam Serra como presidente, contra apenas 5 por cento para Dilma.

"Serra não é o candidato dos sonhos do mercado, mas ele é o preferido", disse Ricardo Ribeiro, analista político da MCM.

Política externa

Na política externa, Serra reduziria as relações com líderes como o venezuelano Hugo Chávez e o iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Ele também deve adotar uma linha mais dura nas disputas comerciais com os vizinhos. "Serra seria mais duro, no momento estamos abrindo mão em todos os termos", disse José Augusto de Castro, diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil, no Rio de Janeiro.

Mudar o apoio de parlamentares que tendem à corrupção poderá ser o maior risco para qualquer futuro presidente, que provavelmente não terá a habilidade política de Lula para manter uma coalizão.

"O Brasil pós-Lula não terá a capacidade política dos últimos anos", acredita o Eurasia Group.

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