
A cada quatro anos, uma onda de filiações a partidos sacode o cenário político brasileiro. O surpreendente é que isso não ocorre durante as eleições nacionais ou estaduais. Das 13,8 milhões de pessoas que assinaram ficha de adesão a alguma legenda desde 1995, 70% o fizeram no ano anterior a uma eleição municipal. É possível ainda relacionar essas ondas periódicas ao resultado das urnas. Partidos com mais filiados têm maiores chances de conquistar prefeituras, principalmente nas cidades menores.
Para decifrar a periodicidade das ondas de filiações, foram analisados 18 milhões de registros que os partidos entregaram em outubro ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os dados revelam que são os pequenos municípios aqueles com menos de 20 mil votos válidos nas eleições para prefeito que determinam a lógica das filiações partidárias no Brasil.
O levantamento indica também como se dá a formação de um ciclo eleitoral que, em sucessivas votações, vai da esfera municipal ao plano federal. Partidos mais bem-sucedidos na cooptação de filiados conquistam mais prefeituras. Os prefeitos, na sequência, agem como cabos eleitorais de parlamentares e ajudam suas siglas a conquistar mais vagas nas assembleias legislativas e na Câmara dos Deputados. E partidos com mais deputados acabam com mais tempo de propaganda na TV para promover seus candidatos a governador e a presidente.
De todos os filiados a alguma sigla, 41% estão nos menores municípios, que, por outro lado, são responsáveis por apenas 31% dos votos nos pleitos municipais no país. Ou seja: há mais filiações por eleitor nas menores cidades que nas maiores. Nesses municípios menores, um crescimento de um ponto porcentual no número de filiados a um partido em relação às legendas rivais aumenta em quase 50% as chances de aquele partido lançar candidato a prefeito.
O cientista político Ricardo Ceneviva, da USP, acredita que as filiações são resultado de disputas internas: "Elas têm muito mais a ver com a briga pelo controle da máquina partidária do que com mobilização popular. Quanto mais gente o sujeito consegue trazer para o diretório municipal, maiores são as chances de que ele consiga lançar seu candidato a prefeito".
Foco
O professor do Insper Humberto Dantas afirma que as cidades acabam governando o ciclo político nacional. "Muita da nossa atenção é voltada às campanhas para presidente e governador, mas a maior parte dos cargos é disputada nos municípios. Não é de estranhar que tantos partidos concentrem seus esforços nas eleições municipais."



