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Militantes na eleição municipal de 2012 em Curitiba:cidades acabam regendo o ciclo político nacional | Henry Milleo/ Gazeta do Povo
Militantes na eleição municipal de 2012 em Curitiba:cidades acabam regendo o ciclo político nacional| Foto: Henry Milleo/ Gazeta do Povo

Regiões

Colonização e educação elevam índice de filiações no Sul e no Sudeste

Os estados do Sul e do Sudeste, proporcionalmente à população, têm mais filiados do que os das demais regiões brasileiras. "Sul e Sudeste têm maior qualidade de educação. Isso se revela numa maior participação, que se expressa no vínculo partidário", diz o cientista político Paulo Moura. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o índice de 15,8% do eleitorado filiado a partidos (ante 11% da média nacional) é atribuído ao associativismo, à influência europeia e ao maior acesso à informação. "O estado tem um nível de associativismo elevado. E não só em partidos", afirma o cientista político Benedito Tadeu César, que atribui o fato à colonização europeia da região. Edinei Machado, de Mostardas, no litoral gaúcho, é um exemplo disso. Ele vem de uma família engajada. "Sou filiado ao PMDB há cinco anos. Aqui, as pessoas estão abertas à filiação."

A cada quatro anos, uma onda de filiações a partidos sacode o cenário político brasileiro. O surpreendente é que isso não ocorre durante as eleições nacionais ou estaduais. Das 13,8 milhões de pessoas que assinaram ficha de adesão a alguma legenda desde 1995, 70% o fizeram no ano anterior a uma eleição municipal. É possível ainda relacionar essas ondas periódicas ao resultado das urnas. Partidos com mais filiados têm maiores chances de conquistar prefeituras, principalmente nas cidades menores.

Para decifrar a periodicidade das ondas de filiações, foram analisados 18 milhões de registros que os partidos entregaram em outubro ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os dados revelam que são os pequenos municípios – aqueles com menos de 20 mil votos válidos nas eleições para prefeito – que determinam a lógica das filiações partidárias no Brasil.

O levantamento indica também como se dá a formação de um ciclo eleitoral que, em sucessivas votações, vai da esfera municipal ao plano federal. Partidos mais bem-sucedidos na cooptação de filiados conquistam mais prefeituras. Os prefeitos, na sequência, agem como cabos eleitorais de parlamentares e ajudam suas siglas a conquistar mais vagas nas assembleias legislativas e na Câmara dos Deputados. E partidos com mais deputados acabam com mais tempo de propaganda na TV para promover seus candidatos a governador e a presidente.

De todos os filiados a alguma sigla, 41% estão nos menores municípios, que, por outro lado, são responsáveis por apenas 31% dos votos nos pleitos municipais no país. Ou seja: há mais filiações por eleitor nas menores cidades que nas maiores. Nesses municípios menores, um crescimento de um ponto porcentual no número de filiados a um partido em relação às legendas rivais aumenta em quase 50% as chances de aquele partido lançar candidato a prefeito.

O cientista político Ri­­­cardo Ceneviva, da USP, acredita que as filiações são resultado de disputas internas: "Elas têm muito mais a ver com a briga pelo controle da máquina partidária do que com mobilização popular. Quanto mais gente o sujeito consegue trazer para o diretório municipal, maiores são as chances de que ele consiga lançar seu candidato a prefeito".

Foco

O professor do Insper Humberto Dantas afirma que as cidades acabam governando o ciclo político nacional. "Muita da nossa atenção é voltada às campanhas para presidente e governador, mas a maior parte dos cargos é disputada nos municípios. Não é de estranhar que tantos partidos concentrem seus esforços nas eleições municipais."

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