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Antônio Carlos Atella Ferreira, que usou documento falsificado para ter acesso a dados fiscais da filha de  José Serra | Rede Globo / Reprodução
Antônio Carlos Atella Ferreira, que usou documento falsificado para ter acesso a dados fiscais da filha de José Serra| Foto: Rede Globo / Reprodução

O contador Antonio Carlos Atella Ferreira, o homem que recebeu os dados sigilosos da filha de José Serra usando uma procuração falsificada, afirma que pediu e retirou as informações fiscais de Veronica Serra a mando de terceiros. Segundo ele, o pedido fazia parte de "um lote". O contador disse que não se deu conta de quem se tratava e deu pistas de mais uma pessoa supostamente envolvida no esquema.

"Eu não sabia que essa pessoa existisse fisicamente e nem que fosse filha de uma pessoa que eu aprecie e respeito", disse Ferreira. O contador afirma que não trabalha para politicos nem é filiado a partido algum. "Se alguém me filiou, nem conheço quem é, se caso eu ‘tiver’ filiado."

Em entrevista ao repórter César Tralli, da TV Globo, Antonio Carlos negou ter falsificado a assinatura de Veronica Serra. "Se fosse eu, o senhor acha que eu teria assinado que teria retirado o documento?" Veja como foi a entrevista:

Foi o senhor que falsificou os carimbos do tabelião e o reconhecimento de firma? "Se fosse eu, o senhor acha que eu teria assinado a retirada dela?"

Se não foi o senhor, o senhor sabe quem entregou esse documento falsificado para o senhor?

"Eu lembro que pessoas pediam lotes, e essas pessoas pertenciam a um seleto grupo de meia dúzia de pessoas que pediam."

Que são o quê? "São contadores, advogados, contadores que têm escritórios maiores, advogados..."

O contador cita o nome de Ademir, outra pessoa supostamente envolvida no caso. Ele esclarece que Ademir encomenda serviços e trabalha para outras pessoas.

Quem é o Ademir?

"Ele é colega meu. Ele tá no meio da meia dúzia de pessoas. O que ele dizia na época é que as pessoas que solicitavam pra ele tinham pressa."

E ele dizia pro senhor que vinha gente de onde buscar essa solicitação?

"Do Brasil inteiro, de Minas, de Brasília, do interior de São Paulo, de vários lugares."

O Ademir comentou com o senhor que esse documento teria um uso político?

"Nunca na vida."

A colega de escritório de Ademir confirma a ligação dele com o contador Antonio Carlos, mas duvida que Ademir Estevam Cabral seja o autor da falsificação.

"O Ademir não sabe nem escrever direito, como ele vai falsificar alguma coisa? O Ademir é um tipo de um boy. Ele vai, pega os documentos dos advogados e vai protolocar", afirmou a assessora contábil Helena Barbosa.

Por telefone, Ademir disse que não passou por ele o pedido de cópia de documentos em nome de Veronica Serra e nem foi ele quem falsificou a assinatura dela. "Isso aí eu desconheço. Desconheço totalmente."

Ademir Estevam Cabral não apareceu no escritório como tinha prometido à reportagem. Depois de duas horas de espera, ele avisou por telefone que iria procurar um advogado. Ademir não foi encontrado em casa e desde o fim da tarde não atende mais aos dois celulares.

Investigações

A Polícia Federal assumiu nesta quinta o comando das investigações sobre o vazamento de dados sigilosos de integrantes do PSDB e da filha de José Serra. O anúncio foi feito pelo ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto.

Segundo ele, foi instaurada oficialmente uma investigação criminal por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A PF, até então, vinha "acompanhando" as investigações administrativas da Receita, de acordo com o ministro.

Nesta quinta, a Polícia Federal recebeu, para perícia, os computadores da Receita Federal supostamente usados na violação dos dados de dirigentes tucanos e de Veronica Serra,. Segundo a PF, os computadores foram entregues pela Receita Federal por determinação da Justiça.

Receita

O secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, afirmou que, diante do não reconhecimento por Veronica Serra da assinatura do documento entregue para obter suas declarações de renda e da afirmação do cartório de que não houve reconhecimento da firma no local, o caso foi encaminhado ao Ministério Público Federal.

Documento da Corregedoria da Receita Federal mostra que a Receita já suspeitava que uma procuração falsificada havia sido utilizada para acessar os dados fiscais de Veronica.

Em ata de reunião da última terça (31), a Corregedoria pede que seja encaminhado ao Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF-DF) pedido de solicitação de documentos da "pessoa 'supostamente autorizada para a retirada das declarações'" de Veronica (Antônio Carlos Atella Ferreira). A ata informa ainda que objetivo é confirmar a autenticidade da procuração.

Nesta quinta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que não pensava em exonerar o secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo. "Não estou cogitando fazer isso", afirmou.

Entenda o caso

Reportagem publicada pelo jornal "Folha de S.Paulo" em 19 de junho deste ano afirma que teriam saído dos sistemas da Receita Federal dados fiscais sigilosos do vice-presidente executivo do PSDB, Eduardo Jorge, destinados à montagem de um suposto dossiê contra o presidenciável tucano José Serra.

Posteriormente, revelou-se que, em 8 de outubro de 2009, além de Eduardo Jorge, também tiveram o sigilo quebrado irregularmente o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, o ex-diretor da Previ Ricardo Sérgio de Oliveira e Gregório Marin Preciado, primo de Serra.

O secretário nacional da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, foi convocado a prestar esclarecimentos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. No dia 14 de julho, em depoimento à CCJ, ele disse uma "apuração especial" identificou acessos feitos por alguns funcionários a declarações de Imposto de Renda de Eduardo Jorge. Essas informações, segundo afirmou, foram encaminhadas para a Corregedoria da Receita e abriu-se um processo administrativo disciplinar para investigar o caso.

No dia 21 de julho, a Receita informou que investigava a servidora Antonia Aparecida Rodrigues dos Santos Neves Silva, uma analista locada em Santo André, na região metropolitana de São Paulo, como suspeita de quebrar o sigilo dos tucanos.

Em 24 de agosto, a Justiça Federal autorizou Eduardo Jorge a ter acesso às investigações da Receita Federal.

Segundo os dados da investigação, os acessos às declarações de renda dos tucanos ocorreram no dia 8 de outubro de 2009, entre 12h27 e 12h43. O terminal usado foi o da servidora Adeilda Ferreira Leão dos Santos. A senha era de Antonia Aparecida Rodrigues dos Santos Neves Silva. Em depoimento à Corregedoria da Receita, as duas funcionárias negam envolvimento na quebra de sigilo.

No dia 27 de agosto, o corregedor-geral da Receita Federal, Antonio Carlos Costa D’Avila, afirmou que o trabalho do órgão na apuração do caso identificou indícios da existência de um "balcão de compra e venda" de informações da Receita.

O Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF-DF) recebeu no dia 30 de agosto representação da Corregedoria da Receita Federal com os resultados da investigação interna sobre a quebra de sigilo fiscal de Eduardo Jorge.

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