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A comunidade do Vidigal, na zona sul do Rio de Janeiro, tem em torno de 45 mil habitantes e muitos problemas, como o tráfico de drogas | Divulgação/Festival Varilux
A comunidade do Vidigal, na zona sul do Rio de Janeiro, tem em torno de 45 mil habitantes e muitos problemas, como o tráfico de drogas| Foto: Divulgação/Festival Varilux

Talentos

Veja quem são os atores que saíram do Morro do Vidigal para a fama

Galã

Entre os nomes revelados pelo Nós do Morro, estão os dos atores Thiago Martins (foto), hoje com 21 anos. Integrante do Nós do Morro, foi revelado pelo filme Cidade de Deus e já participou do longa-metragem Era Uma Vez e das novelas Belíssima e Desejo Proibido.

Nas telas

Também do elenco de Cidade de Deus , Roberta Rodrigues, aos 28 anos, outros filmes como Cidade dos Homens e Noel – O Poeta da Vila, e participou de várias novelas, como Paraíso Tropical e As Três Irmãs.

  • Confira as fases pelas quais o Nós do Morro já passou

Rio de Janeiro - Ele carrega sua comunidade no nome. Luciano Vidigal, aos 30 anos, não quer sair da favela onde nasceu. Lá diz ser feliz, ter tudo que precisa. Mesmo que seja forçado a driblar diariamente o sobe-e-desce das mo­­tocicletas que entram e saem do morro da zona sul do Rio de Janeiro, colocando em movimento o rentável nogócio do tráfico de drogas.

O rapaz, ao invés de ter seguido os passos de muitos jovens de sua geração, ingressando na ilegalidade, tomou outro rumo. O interessante é que o desvio tomado por Luciano não o tirou do Vidigal, acidente geográfico de onde se tem uma das mais belas vistas do Rio de Janeiro: os bairros litorâneos de São Conrado, Leblon, Ipanema e Arpoador em ângulos de cartão-postal. Apenas fincou ainda mais fundo seus pés na comunidade que, na encosta do morro margeado pela Avenida Niemeyer, é lar de 45 mil habitantes.

Aos 10 anos, Luciano entrou para o Nós do Morro, um grupo de teatro que começava a brotar (leia quadro nesta página) e hoje ocupa um velho casarão reformado da estreita Rua Dr. Olinto Magalhães, que serpenteia morro acima, cortando a favela. O imóvel, vizinho de um brexó-ba­­zar, que promete ao freguês a possibilidade de "encontrar tudo o que quer", é um oásis de cidadania em meio à barbárie, aos caos que ainda teima em reinar em vários pontos da Cidade Maravilhosa.

No Nós do Morro, Luciano estudou teatro, iniciou-se na capoeira, virou ator e depois tornou-se professor. Agora é diretor de cinema: acaba de estrear sua carreira de cineasta, assinando o episódio "Concerto para Violino", do longa-metragem 5 Vezes Favela – Agora por Nós Mesmos, nova versão do clássico do Cinema Novo, dirigido em 1961 por Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Marcos Farias e Miguel Borges.

Sob a coordenação de Diegues, a mesma ideia de contar cinco histórias de favelas do Rio ganhou outra perspectiva. A de realizadores que vivem nas próprias comunidades cariocas.

"Concerto para Violino", feito em parceria com o Afroreggae, outro grupo carioca que nasceu no coração de uma favela, a do Morro do Cantagalo, conta a história de Márcia, Jota e Ademir, três crianças que fazem um juramento de amizade eterna. A vida real, no entanto, trata de separá-los.

Com cerca de 20 anos de idade, Jota está no tráfico tráfico de drogas. Ademir tomou rumo contrário: entrou para a polícia. Esse enfrentamento entre os dois pode impedir que Márcia, agora violinista, realize seu sonho de uma bolsa de estudos musicais na Europa.

De certa forma, essa história, embora não seja autobiográfica, reflete um dilema enfrentado no dia-a-dia por Luciano. Muitos dos jovens de sua geração fizeram o mesmo percurso de Jota. Quando a reportagem da Gazeta do Povo pergunta se ele tem ideia de onde estaria se não tivesse ingressado no Nós do Morro, ele fica sério, pensativo. "Poderia ter seguido o mesmo caminho, sim."

De aluno a professor – e líder – no Nós do Morro, Luciano diz que o centro cultural, que hoje tem cerca de 500 alunos com idades de 6 a 70 anos, é uma usina de cidadania. Além de terem aulas de teatro, dança, música, filosofia cinema e de outras manifestações artísticas, o aluno aprende, sobretudo, a gostar de si mesmo, a respeitar o semelhante. E a ter sonhos e ambições.

Como sua personagem Márcia, Luciano já alçou voos bem mais ousados do que poderia sonhar. Em maio último, passou pelo tapete vermelho do Festival de Cannes, na França, onde 5 Vezes Favela – Agora por Nós Mesmos foi exibido fora de concurso, mas como convidado especial. "Foi uma experiência incrível. Nunca imaginei que estaria numa situação como aquelas, sendo entrevistado por jornalistas do mundo todo."

Apesar de adorar essas andanças pelo mundo, Luciano diz que seu lugar é mesmo no Vidigal. Já não vive mais com a mãe e o irmão, que também foi aluno do Nós do Morro e hoje trabalha com futebol. Mudou-se com a namorada para uma casinha. No pé do morro.

Do lado de dentro

O Nós do Morro foi fundado em 1986, com o objetivo de criar acesso à arte e à cultura para as crianças, jovens e adultos do Morro do Vidigal. Hoje, o projeto se consolidou e oferece cursos de formação nas áreas de teatro (atores e técnicos) e cinema (roteiristas, diretores e técnicos), abrindo e ampliando os horizontes para cerca de 500 crianças, jovens e adultos moradores, ou não, da comunidade.

Fruto da idéia do jornalista e ator Guti Fraga, que se uniu a um grupo de moradores do Vidigal, surgiu com o nome de Projeto Teatro-Co­­munidade. A novidade é ele ter rompido com a tradição da maioria dos projetos culturais voltados para as comunidades carentes no Rio de Janeiro vinha de fora e nem sempre se correspondia à realidade do público a que se destinavam.

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