
A duas semanas da eleição, as privatizações e as comparações entre os governos Fernando Henrique Cardoso e Lula voltaram à tona e substituíram temas ético-religiosos como o aborto e a homofobia no debate entre presidenciáveis de ontem à noite, na RedeTV!. Dilma Rousseff (PT) retomou a tese de que José Serra (PSDB) pode privatizar a Petrobras e o pré-sal. O tucano contra-atacou e disse que é a favor da "reestatização" de órgãos como a própria Petrobras, evitando as nomeações político-partidárias que, segundo ele, dominaram a gestão petista.
Foi o segundo encontro televisivo entre os dois após o primeiro turno. Como era previsto, permaneceu o tom áspero e truncado do debate do último dia 10, na Band TV. Logo na abertura ambos foram instados a falar sobre qualidades e defeitos do rival, mas fugiram da proposta, preferindo falar sobre eles próprios. O tema "escolas técnicas" tomou boa parte do primeiro bloco.
Apesar de o debate ter um formato que privilegiou o confronto direto, os dois se evitaram durante quase um bloco e meio, utilizando a estratégia de não responder ao que o outro perguntava. De cara, Dilma disse que espera ser eleita "graças a Deus". Já Serra abriu as questões perguntando sobre investimentos em educação no governo Lula com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Dilma evitou e logo puxou o tema das privatizações.
Ela levantou uma suposta manobra da administração Serra em São Paulo para que uma concessão de exploração de gás natural do estado ficasse com uma empresa privada. Segundo a petista, a Petrobras ficou em primeiro lugar em uma concorrência pelos serviços da Gas Brasiliano, empresa que atende 375 municípios do Noroeste paulista, mas estaria sendo preterida por um grupo privado japonês. "Mesmo dando maior preço, por que é que a agência reguladora e a Secretaria de Energia (órgãos do estado de São Paulo) não são favoráveis (ao negócio)?"
Serra hesitou, mas disse que respeitou a decisão da agência, "ao contrário do que o PT costuma fazer com as agências reguladoras (nacionais)". O tucano também disse que a discussão sobre privatizações não faz sentido. "Não há empresas para serem privatizadas."
Ao longo do encontro, Dilma usou números para comparar os modelos do PSDB e do PT na Presidência da República. A candidata também criticou várias vezes a administração tucana em São Paulo especialmente na área de educação e segurança pública. Ela disse trabalhar com a meta de "livrar o estado" do grupo criminoso PCC (Primeiro Comando da Capital), mas frisou que não tem nada contra o povo paulista. Serra ironizou o interesse da opositora na gestão do estado.
O debate teve poucos confrontos técnicos de propostas. Na área de segurança, Dilma defendeu a utilização dos veículos aéreos não-tripulados no monitoramento das fronteiras, enquanto Serra disse que as aeronaves compradas no governo Lula sequer estão funcionando. Ele também voltou a associar o problema do tráfico de drogas no país a uma suposta leniência nas relações com a Bolívia.
Nas considerações finais, o tucano tentou passar otimismo e voltou a usar o bordão de uma campanha de "coração leve". Já Dilma disse que luta contra o ódio dos rivais e que fará uma administração voltada à defesa das "pessoas humanas". Ainda que sutil, foi a única alusão às cobranças de líderes religiosos, especialmente contra a proposta de legalização do aborto.



