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29,2 assassinatosa cada 100 mil habitantes foi a taxa de homicídios no Paraná em 2009. No ano anterior, havia sido de 26,7, enquanto em São Paulo, onde foi criada uma divisão qualificada para investigar homicídios, o índice foi de apenas 10,8. Os dados são do Fórum Nacional de Segurança Pública, da Secretaria da Segurança Pública e do IBGE |
29,2 assassinatosa cada 100 mil habitantes foi a taxa de homicídios no Paraná em 2009. No ano anterior, havia sido de 26,7, enquanto em São Paulo, onde foi criada uma divisão qualificada para investigar homicídios, o índice foi de apenas 10,8. Os dados são do Fórum Nacional de Segurança Pública, da Secretaria da Segurança Pública e do IBGE| Foto:

Opinião

Denis Mizne, diretor executivo do Instituto Sou da Paz

"É preciso chegar antes do crime"

É preciso ter uma agenda para as polícias e investir em treinamento e inteligência, chegar antes do crime para evitá-lo. A nossa realidade é de polícias trabalhando com instrumentos rudimentares. O governo estadual precisa cobrar metas de esclarecimentos de crimes e incentivar e premiar quem as cumpre. Em outra frente, o governo estadual precisa trabalhar nos municípios mais violentos. Treinar, investir, fazer o conjunto de políticas públicas necessárias, que incluem educação, saúde, opções de lazer, emprego. Precisamos de mais opções de penas alternativas e de políticas para os egressos do sistema penitenciário. O governador pode cobrar da União uma presença maior da Polícia Federal na fronteira e pressionar por mudanças na Constituição. Mas não precisa esperar por isso para viabilizar um relacionamento maior entre a Polícia Civil e a Militar, com equipes responsáveis pela mesma área, para que os comandantes dialoguem e tenham metas conjuntas.

Candidatos apostam em policiais comunitários

Os dois principais candidatos ao governo do estado, Beto Richa (PSDB) e Osmar Dias (PDT), têm algumas propostas similares para a segurança, como investimento na inteligência policial, modernização de estruturas e equipamentos de segurança e a implantação do policiamento comunitário.

Richa se compromete com alguns números: ele pretende que, em 2014, Curitiba se torne a primeira cidade do país a ser atendida exclusivamente por policiamento comunitário. Seriam 387 módulos e 12 mil PMs fazendo esse serviço. Outra medida que ele pretende adotar, caso eleito, é o monitoramento por câmeras em Curitiba, Foz do Iguaçu, Guarapuava, Ponta Grossa e Cascavel.

Osmar propõe a implantação de Centros Integrados de Segurança Pública (CISPs), na qual as polícias Civil e Militar, os Bombeiros e as guardas municipais atuariam de forma integrada. O pedetista também ressalta a necessidade de melhorar a remuneração dos policiais e de treiná-los adequadamente.

Na área prisional, o tucano não detalhou as propostas. Ele afirmou que "ações no âmbito do sistema presidiário e carcerário serão adotadas paralelamente, com a construção de novos presídios e de delegacias-padrão".

No plano de governo de Osmar, há a proposta de ressocialização dos presos, a oferta de cursos de profissionalização nas prisões e a revisão de processos. Ele também pretende revitalizar a Colônia Penal Agrícola. E, junto com o Poder Judiciário e Ministério Público, promover ações conjuntas de combate ao crime e de democratização da Justiça.

Os índices crescentes de furtos, roubos e homicídios e a proliferação do consumo e tráfico de drogas estão perturbando os paranaenses. Levantamento inédito do Instituto Paraná Pesquisa, feito a pedido da Gazeta do Povo, mostra que a segurança pública, de uma forma genérica, é a área que mais preocupa a população do estado. Em terceiro lugar aparece um assunto relacionado, mas mais específico: o tráfico de drogas – que não está sendo combatido adequadamente, segundo especialistas. O cenário caótico, porém, pode melhorar, desde que o próximo governador faça mudanças urgentes na gestão do policiamento e invista mais em serviços de inteligência e modernização.Nos últimos anos, o número de homicídios no Paraná teve um crescimento vertiginoso. No primeiro semestre de 2010, foram 1.795 mortes violentas, contra 1.344 no mesmo período de 2007 – alta de 33,5%. Outro indicador que piorou muito foi o de veículos furtados ou roubados (este último, quando há ameaça de agressão física ao proprietário). O aumento foi de 26,3%.

Os roubos em geral, de todos os tipos, tiveram leve alta no mesmo período, de 3,1%. Apenas os furtos registraram queda, passando de 53.937 no primeiro semestre de 2007 para 45.320 nos primeiros seis meses deste ano (redução de 16%).

Esses dados todos causaram impacto na população. A sondagem de opinião da Paraná Pesquisas consultou 2.770 pessoas em 96 municípios do estado entre os dias 12 a 17 de julho. Ques­­tionadas sobre a área com mais problemas na região onde viviam, 45,8% responderam que era a segurança. Em segundo lugar aparece a saúde, com 41,4% das menções e, em terceiro, as drogas, com 27,4% – cada entrevistado podia citar duas opções, por isso a soma é maior do que 100%.

Compromisso e soluções

"O próximo governador tem de se comprometer bastante com a questão da segurança. O Paraná tem aparecido nas últimas pesquisas com algumas de suas principais cidades com índices preocupantes de violência", avalia Denis Mizne, diretor executivo do Instituto Sou da Paz.

O professor de Ciências Sociais Pedro Bodê, coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da UFPR, pondera que não é apenas a violência que assusta a população. "As taxas de homicídio são crescentes e muito preocupantes, mas a população tem um medo difuso, de não ter acesso a uma vida de bem-estar."

Para começar a enfrentar para valer a criminalidade crescente, uma das primeiras medidas que o próximo governador deve tomar, segundo especialistas no assunto, é colocar mais policiais nas ruas. "Na Polícia Militar temos uma defasagem de quase 5 mil homens. Hoje eles são em aproximadamente 16 mil. Na Polícia Civil também ocorre isso. São pouco mais de 3 mil homens, e precisaria de outros 3 mil", diz o advogado criminalista Dálio Zippin Filho.

De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2007 o Paraná tinha o pior índice na relação população/ policiais entre os estados do Sul e do Sudeste. Eram 665,6 pessoas para cada PM. O índice de Minas Gerais, por exemplo, era de 404,4 e o de São Paulo, de 413,8.

Além de aumentar o efetivo, é preciso investir na capacitação dos policiais e em melhor remuneração. O professor Pedro Bodê diz que os agentes de seguranças necessitam ser incentivados e cobrados. Por isso, diz ele, é fundamental uma reformulação nas ouvidorias e corregedorias – instituições que investigam os desvios policiais. "Elas precisam ser autônomas e democráticas. O responsável precisa ter um mandato e independência. Hoje, essas estruturas não funcionam porque são extensões das corporações."

Outra ação que deve ser prioritária é o investimento na polícia científica e em ações de inteligência. "Uma das principais ferramentas de segurança são os sistemas de geoprocessamento. Saber onde o crime está acontecendo e quando. Com essa informação, a polícia consegue chegar ao local antes de o crime ocorrer", afirma Denis Mizne. "O melhor trabalho da polícia é ser invisível. É no crime evitado que está o sucesso", acrescenta.

Seguindo essa linha, Mizne sugere que o próximo governador invista em uma Divisão de Homicídios altamente especializada. "São Paulo criou uma divisão assim e isso ajudou muito na redução dos índices de mortes. Se o Paraná tem aparecido com índices de homicídio alarmantes, é preciso ir atrás desses modelos."

Pedro Bodê lembra ainda que a população clama por mais repressão, e o governo acaba respondendo com essa moeda, apesar de não ser o ideal. "As cadeias devem ser utilizadas como último recurso. Há um conjunto imenso de delitos que não deveriam gerar o encarceramento. Só serve para socializar as pessoas no mundo do crime." Os especialistas sugerem penas alternativas e programas para ex-detentos.

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