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Diagnóstico

Discurso da tradição enfraqueceu o debate

Emerson Cervi: faz sentido proibir Tiririca. | Rodolfo Bührer/Arquivo/ Gazeta do Povo
Emerson Cervi: faz sentido proibir Tiririca. (Foto: Rodolfo Bührer/Arquivo/ Gazeta do Povo)

Os altos índices de aprovação po­­pular do ex-prefeito Beto Richa (PSDB) foram determinantes na sua eleição para o governo do estado, ainda no primeiro turno. Mas não foi esse o único ingrediente da vitória. Os abalos que mexeram com o jogo-ganho do PT, nas últimas semanas, teriam atingido o can­­didato da oposição, Osmar Dias, abrindo vantagem para Ri­­cha. Não fosse isso, o eleitor ficaria no tanto-faz. "Os dois candidatos são muito parecidos. Até pouco tempo estavam juntos no mesmo palanque", avalia o cientista político Emerson Cervi.Para Cervi, a juventude de Richa não ganhou o primeiro plano no debate político. Poderia. Ele tem 45 anos, é recém-saído de uma administração municipal de perfil desenvolvimentista, dada a propostas arrojadas, como o metrô, a concessão aos automóveis e a prevenção no uso de drogas.

"Mas ele não se apresentou como um jovem. Pelo contrário", analisa o cientista, lembrando que tanto Beto quanto Osmar se escoraram num discurso da tradição, invocando antepassados da longa linhagem política a que pertencem, apostando no eleitor que tem um olho no passado, outro na acomodação. "Eu não diria que foi uma escolha conservadora. Na verdade, não havia muita escolha."

A opção pela "tradição", no entanto, acabou empobrecendo o debate, como de resto em todo o país. A indigência de ideias pode não ter afetado o público menos exigente, mas despertou insatisfação nos formadores de opinião. O que vem pela frente deve ressentir da falta de propostas. Um governo não se resolve com a invocação de linhagens políticas.

"Beto teve sucesso como gestor municipal. Mas é pouco. No plano estadual ele vai ter muitos problemas a resolver. A começar pela Assembleia Legislativa. Pesa agora sua falta de experiência. É preciso estar atento a como ele vai formar seu secretariado", comenta Cervi.

Mesmo tendo suas origens familiares em Londrina, o forte de Richa se deu em Curitiba e região. Nesse quesito, o ex-prefeito leva alguma vantagem em relação a Jaime Lerner, cuja aprovação como governador está a anos-luz da conseguida como prefeito. Embora as duas gestões tenham semelhanças, Richa não mimetizou de todo a política lernista. "Ele imprimiu seu próprio estilo em determinados setores. Essa tática pode liberá-lo do estigma dos prefeitos de Curitiba que chegam ao Palácio Iguaçu". A lista de tarefas do novo governador é das mais árduas. Os paranaenses se dizem preocupados com a violência, com a escola pública, com a falta de perspectiva no interior. Um rosário. É preciso muita juventude para dar conta. De experiência, nem se fale.

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