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Emerson Cervi: faz sentido proibir Tiririca. | Rodolfo Bührer/Arquivo/ Gazeta do Povo
Emerson Cervi: faz sentido proibir Tiririca.| Foto: Rodolfo Bührer/Arquivo/ Gazeta do Povo

Opinião

Daniela Neves, repórter da Gazeta do Povo e mestranda em Ciência Política

O tempo a favor de quem o aproveitou

Em 30 de março, o então prefeito de Curitiba Beto Richa renunciou ao cargo em uma atitude confiante. Se perdesse as eleições, teria abandonado um posto conquistado com 77% dos votos válidos e uma ótima aprovação da gestão. Começava nessa data sua corrida para o governo? Há controvérsias.

Antes mesmo de renunciar à prefeitura, Beto andou pelo interior. Recebeu homenagens em diversos municípios do estado e ia costurando sua candidatura em eventos por todas as regiões. O resultado foi visto na apuração dos votos. Não conseguiu entrar nos rincões, porém conquistou votantes nos maiores colégios. A região metropolitana, seu território, garantiu-lhe a vitória, mesmo com a força do governador Roberto Requião nessa área do estado. Isso porque, diferentemente de Lula, Requião até apareceu ao lado de Osmar, mas não se mostrou tão engajado na campanha do pedetista, seu adversário na última eleição ao governo.

E essa rivalidade foi um dos problemas de Osmar. Como explicar que estava ao lado de quem travou uma disputa há quatro anos, com direito a acusações mútuas?

Porém, o maior erro de Osmar parece ter sido a demora para definir a candidatura. Pediu mais do que podia para fechar uma grande aliança pró-Dilma, saiu atrás na corrida, em todos os sentidos. A presença de Lula na campanha foi a grande cartada de Osmar, que parece ter lhe revertido em votos. Porém, faltou um pouco mais de tempo. Quem sabe exatamente aquele tempo que ele levou para se lançar na disputa.

Os altos índices de aprovação po­­pular do ex-prefeito Beto Richa (PSDB) foram determinantes na sua eleição para o governo do estado, ainda no primeiro turno. Mas não foi esse o único ingrediente da vitória. Os abalos que mexeram com o jogo-ganho do PT, nas últimas semanas, teriam atingido o can­­didato da oposição, Osmar Dias, abrindo vantagem para Ri­­cha. Não fosse isso, o eleitor ficaria no tanto-faz. "Os dois candidatos são muito parecidos. Até pouco tempo estavam juntos no mesmo palanque", avalia o cientista político Emerson Cervi.Para Cervi, a juventude de Richa não ganhou o primeiro plano no debate político. Poderia. Ele tem 45 anos, é recém-saído de uma administração municipal de perfil desenvolvimentista, dada a propostas arrojadas, como o metrô, a concessão aos automóveis e a prevenção no uso de drogas.

"Mas ele não se apresentou como um jovem. Pelo contrário", analisa o cientista, lembrando que tanto Beto quanto Osmar se escoraram num discurso da tradição, invocando antepassados da longa linhagem política a que pertencem, apostando no eleitor que tem um olho no passado, outro na acomodação. "Eu não diria que foi uma escolha conservadora. Na verdade, não havia muita escolha."

A opção pela "tradição", no entanto, acabou empobrecendo o debate, como de resto em todo o país. A indigência de ideias pode não ter afetado o público menos exigente, mas despertou insatisfação nos formadores de opinião. O que vem pela frente deve ressentir da falta de propostas. Um governo não se resolve com a invocação de linhagens políticas.

"Beto teve sucesso como gestor municipal. Mas é pouco. No plano estadual ele vai ter muitos problemas a resolver. A começar pela Assembleia Legislativa. Pesa agora sua falta de experiência. É preciso estar atento a como ele vai formar seu secretariado", comenta Cervi.

Mesmo tendo suas origens familiares em Londrina, o forte de Richa se deu em Curitiba e região. Nesse quesito, o ex-prefeito leva alguma vantagem em relação a Jaime Lerner, cuja aprovação como governador está a anos-luz da conseguida como prefeito. Embora as duas gestões tenham semelhanças, Richa não mimetizou de todo a política lernista. "Ele imprimiu seu próprio estilo em determinados setores. Essa tática pode liberá-lo do estigma dos prefeitos de Curitiba que chegam ao Palácio Iguaçu". A lista de tarefas do novo governador é das mais árduas. Os paranaenses se dizem preocupados com a violência, com a escola pública, com a falta de perspectiva no interior. Um rosário. É preciso muita juventude para dar conta. De experiência, nem se fale.

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