
Carlos e Luiz, de 17 anos, e Pedro*, de 18, com títulos de eleitor em mãos, ainda olham desconfiados para o retângulo de papel verde. Dos 104 meninos que hoje cumprem medida socioeducativa no educandário São Francisco, em Piraquara, 49 responderam sim a uma pergunta que nunca tinham ouvido antes: "você quer votar?". No próximo dia 3 de outubro, dia do 1.° turno das eleições, o centro de socieducação vai se transformar em zona eleitoral, com direito a mesário, secretário e suplente todos funcionários do local. E vai ser para eles que os meninos terão que apresentar seus títulos de eleitor e exercer um direito que todo cidadão tem. Foram convidados a tirar os títulos todos os internos que tivessem entre 16 e 21 anos incompletos e não fossem ganhar liberdade antes de outubro um total de 52 garotos. Só três não quiseram.
O número surpreendeu tanto o diretor, Lazaro de Almeida Ramos, quanto a terapeuta ocupacional do centro, Flávia Amorim Borges, foi ela a responsável, inclusive, pelo questionamento feito aos meninos. "Esperava ouvir vários nãos, mas, felizmente, foram só três. Tivemos até quem mudasse de ideia depois de conversar sobre o assunto com os colegas", conta Flávia. Mas o evento não vai se resumir a apertar o botão verde e confirmar a escolha do candidato.
Com horário livre para assistir à televisão, depois das 17 horas, os garotos vão acompanhar a propaganda eleitoral e discutir sobre o assunto em sala de aula. Para ninguém fazer feio no dia da eleição, todo o educandário vai se envolver com ações e oficinas de cidadania não só quem vai votar.
O plano educacional que prevê a inserção do assunto em todas as disciplinas acabou de ser aprovado. "Não sei dizer se estou ansioso, acho que estou mais é curioso para ver como será. Nunca prestei muita atenção nisso, mas tenho que prestar, quero me sentir incluído", diz Pedro. Ele já terminou o ensino médio e se prepara para prestar o vestibular. "Sempre quis ser médico, mas Direito também está me parecendo muito legal."
Aula de cidadania
O juiz da 155.ª Zona Eleitoral de Piraquara, Ruy Alves Fernandes Filho, só aguarda um telefonema de Ramos, diretor do centro, para vir mais uma vez conversar com os meninos e apresentar a eles a urna eletrônica. Fernandes já esteve no educandário para entregar, em mãos, os títulos de eleitor dos internos.
Segundo a coordenadora do Programa de Educação nas Unidades de Socioeducação (Proeduse) no São Francisco, Elizabeth Brunken, o objetivo é fazer com que os internos saibam o que acontece fora das grades do educandário. Esse, segundo Carlos, foi um dos motivos pelos quais ele aceitou o desafio de votar este ano. "Dessa vez não tem jeito, vou ter que estar atento ao que os políticos falam. Espero poder ajudar a escolher um bom representante", diz.
*Os nomes são fictícios.
Interatividade
E você, leitor? É a favor ou contra o voto dos detentos? Por quê?



