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Internos que cumprem medida socioeducativa seguram o título de eleitor: neste ano irão votar pela primeira vez | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Internos que cumprem medida socioeducativa seguram o título de eleitor: neste ano irão votar pela primeira vez| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

500 presos podem ir às urnas no PR

Os presos provisórios têm seu direito de voto assegurado por lei, mas não votavam por problemas de logística e segurança, já que não poderiam deixar a carceragem. Até que, no dia 2 de março, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou resolução que permite o voto dos presos provisórios e dos jovens que cumprem medida socioeducativa dentro das próprias penitenciárias e centros de socioeducação.

Este ano, no Paraná, as seções eleitorais especiais vão funcionar apenas em Curitiba e região metropolitana, em caráter experimental. De acordo com dados do governo do estado, aproximadamente 500 presos provisórios, da Penitenciária Feminina do Paraná, em Piraquara, do Centro de Detenção Provisória de São José dos Pinhais e da Casa de Custódia de Curitiba, terão o direito de participar das eleições.

Leia a matéria completa.

Carlos e Luiz, de 17 anos, e Pe­­dro*, de 18, com títulos de eleitor em mãos, ainda olham desconfiados para o retângulo de papel verde. Dos 104 meninos que hoje cumprem medida socioeducativa no educandário São Francisco, em Piraquara, 49 responderam sim a uma pergunta que nunca tinham ouvido antes: "você quer votar?". No próximo dia 3 de outubro, dia do 1.° turno das eleições, o centro de socieducação vai se transformar em zona eleitoral, com direito a mesário, secretário e suplente – todos funcionários do local. E vai ser para eles que os meninos terão que apresentar seus títulos de eleitor e exercer um direito que todo cidadão tem. Foram convidados a tirar os títulos todos os internos que tivessem entre 16 e 21 anos incompletos e não fossem ganhar liberdade antes de outubro – um total de 52 garotos. Só três não quiseram.

O número surpreendeu tanto o diretor, Lazaro de Almeida Ramos, quanto a terapeuta ocupacional do centro, Flávia Amorim Borges, – foi ela a responsável, inclusive, pelo questionamento feito aos meninos. "Esperava ouvir vários ‘nãos’, mas, felizmente, foram só três. Tivemos até quem mudasse de ideia depois de conversar sobre o assunto com os colegas", conta Flávia. Mas o evento não vai se resumir a apertar o botão verde e confirmar a escolha do candidato.

Com horário livre para assistir à televisão, depois das 17 horas, os garotos vão acompanhar a propaganda eleitoral e discutir sobre o assunto em sala de aula. Para ninguém fazer feio no dia da eleição, todo o educandário vai se envolver com ações e oficinas de cidadania – não só quem vai votar.

O plano educacional que prevê a inserção do assunto em todas as disciplinas acabou de ser aprovado. "Não sei dizer se estou ansioso, acho que estou mais é curioso para ver como será. Nunca prestei muita atenção nisso, mas tenho que prestar, quero me sentir incluído", diz Pedro. Ele já terminou o ensino médio e se prepara para prestar o vestibular. "Sempre quis ser médico, mas Direito também está me parecendo muito legal."

Aula de cidadania

O juiz da 155.ª Zona Eleitoral de Piraquara, Ruy Alves Fernandes Filho, só aguarda um telefonema de Ramos, diretor do centro, para vir mais uma vez conversar com os meninos e apresentar a eles a urna eletrônica. Fernandes já esteve no educandário para entregar, em mãos, os títulos de eleitor dos internos.

Segundo a coordenadora do Programa de Educação nas Unidades de Socioeducação (Proeduse) no São Francisco, Elizabeth Brunken, o objetivo é fazer com que os internos saibam o que acontece fora das grades do educandário. Esse, segundo Carlos, foi um dos motivos pelos quais ele aceitou o desafio de votar este ano. "Dessa vez não tem jeito, vou ter que estar atento ao que os políticos falam. Espero poder ajudar a escolher um bom representante", diz.

*Os nomes são fictícios.

Interatividade

E você, leitor? É a favor ou contra o voto dos detentos? Por quê?

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