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Independentemente de quem vença a eleição para governador, o novo chefe do Executivo estadual terá maioria na Assembleia Legislativa. Ainda que comece o governo pressionado pela oposição, Beto Richa (PSDB) ou Osmar Dias (PDT) não terão dificuldades em cooptar adversários. A opinião é de especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo.

Desde a redemocratização, em 1985, nenhum governador encontrou resistência no Legislativo para aprovar projetos. A gestão de Roberto Requião (PMDB) é um exemplo: os dois principais partidos de oposição estavam ligados de alguma forma à base governista. O deputado Nelson Garcia (PSDB) foi secretário do Trabalho no segundo mandato de Requião e Nelson Justus (DEM) se elegeu presidente da As­sembleia com o aval do governador e da bancada do PMDB.

Para o professor de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ricardo Costa de Oliveira, o fato de não haver no estado partidos ideologicamente definidos faz com que prevaleça o jogo de relações pessoais e de cooptação do Executivo sobre os deputados. "Há uma relação muito forte de dependência, que é mais importante que o partidarismo. Em vez da coerência partidária, priorizam-se os benefícios de ser situação, com poucas exceções", analisa. "O governador eleito terá maioria segura de pelo menos 40 deputados. Tanto o Beto quanto o Osmar têm trânsito e uma área de influência grande em todos os partidos."

A mesma avaliação é feita pelo professor de Ciência Política e Direito Constitucional Carlos Luiz Strapazzon, para quem a classe política em geral está "muito mais oportunista do que ideológica". "Uma vez eleito, o governador rapidamente consegue cooptar parte importante da base que seria de oposição. Enquanto o governo se dispõe a distribuir emendas orçamentárias, os deputados fazem o jogo do Executivo, se rendendo às delícias dos recursos do orçamento", afirma. "O Beto ou o Osmar terão maioria com o tempo." Para aprovar emendas à Constituição, por exemplo, o governo precisa de aprovação da chamada maioria qualificada – pelo menos 3/5 dos 54 deputados, o que corresponde a 33 votos.

Pouca renovação

Os especialistas também concordam que a renovação deverá ser baixa nessa eleição. "Quando há renovação, ela inclui herdeiros políticos com sobrenomes já conhecidos. Portanto, por se tratar de uma transmissão de parentesco em famílias tradicionais do estado, não podemos considerar uma renovação autêntica", argumenta Oliveira. "Os chapões também limitam uma possível renovação, na medida em que são necessários mais de 40 mil votos para se eleger."

Nem mesmo a onda de denúncias dos Diários Secretos deve ter grandes reflexos nas urnas, projeta Strapazzon. "O caso não repercutiu nas eleições como deveria; não se tornou um assunto da agenda eleitoral. Houve um deslocamento injustificável entre os anseios da sociedade e a atuação da classe política", critica.

"Certamente, haverá uma corrosão eleitoral dos envolvidos no escândalo, mas não a ponto de os deixarem sem mandato. Eles controlam a distribuição de recursos a municípios muito pobres e essa rede política de influência no interior tende a escapar do impacto das denúncias", completa Oliveira.

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