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Luciana Panke, especialista em Comunicação Política, torce por renovação na Assembleia | [Aurea Cunha/Arquivo/Gazeta do Povo
Luciana Panke, especialista em Comunicação Política, torce por renovação na Assembleia| Foto: [Aurea Cunha/Arquivo/Gazeta do Povo

Luciana Panke chega a interromper por uns instantes a conversa quando questionada sobre a influência da série de reportagens "Diários Secretos", da Gazeta do Povo e RPC TV, na reno­­­vação da Assembleia Legis­­­lativa nas eleições deste ano. Apesar de torcer por uma "limpa geral", a professora da Univer­­­sidade Federal do Paraná (UFPR), especialista em Comuni­cação Política, admite não ser fácil. Parte por culpa do próprio eleitor, que, nas suas palavras, "precisa pensar um pouco no papel que exerce".Nesta entrevista, Luciana analisa vários pontos desta eleição. Critica a falta de transparência na corrida pelo Palácio Iguaçu, fruto das recentes im­­pugnações de pesquisas. Diz, ainda, que o Partido Verde (PV), Marina Silva e Dilma Rousseff saem das urnas como os grandes vencedores. Acompanhe os principais trechos da entrevista:

Mesmo diante das denúncias relacionadas ao caso dos "Diários Secretos", as projeções apontam para uma renovação pequena no quadro legislativo paranaense. Há uma explicação para esse fenômeno?

É lamentável ver deputados claramente envolvidos com os "Diários Secretos" tentando a reeleição. Mais lamentável ainda é vê-los eleitos. Não dá para entender. O eleitor precisa pensar um pouco no papel que exerce, não pode ser complacente. Há várias denúncias, investigação e, em alguns casos, a comprovação de que algo errado aconteceu. Não dá para dar anuência a esse tipo de coisa.

Chega a ser decepcionante?

Particularmente, ainda espero que as denúncias surtam efeito, sejam capazes de fazer uma limpa na Assembleia. O movimento político que surgiu [O Paraná que queremos] é muito forte. Mas, caso a renovação não aconteça, não se pode adotar uma posição de conformismo, como se o mundo fosse assim mesmo. É preciso muito cuidado para que não se perca a capacidade de se indignar, reagir, não deixar o movimento morrer.

Ainda sobre renovação, o que se vê são duas correntes. A passagem do mandato dentro da família, normalmente de pai para filho, ou o sucesso eleitoral de figuras exóticas como o Tiririca em São Paulo...

Na verdade isso é uma repetição. Em todos os pleitos temos essas figuras meio caricatas se elegendo. Neste ano o personagem parece ser o Tiririca. Quem vota nessas pessoas ou é por protesto ou para tentar algo novo, por simpatia, para ver o que acontece. Em relação aos parentes, aqui no Paraná há uma espécie de cultura familiar partidária. São várias famílias marcantes, Richa, Stephanes, o próprio Ratinho... Enfim, são tendências se repetindo.

Outro aspecto marcante desta eleição é a série de pesquisas impugnadas pelo TRE a pedido da coligação encabeçada pelo ex-prefeito Beto Richa (PSDB). A senhora já tinha visto algo semelhante? Até que ponto esse tipo de decisão da Justiça Eleitoral pode influenciar no resultado das urnas?

É prejudicial, sem dúvida nenhuma. Quando acontece isso, dá para se perguntar: "O que está querendo esconder?". Sem dúvida que fi­­­ca no ar uma insinuação de falta de transparência, uma história mal explicada que não pega bem para um governante. Por outro lado, não podemos esquecer o tal do voto útil, de as pessoas escolherem quem está ganhando. Isso não existe mais. É como votar no escuro.

Os levantamentos passaram a ser proibidos depois que a eleição, especialmente para o governo, ganhou outro ritmo – resultado da participação direta do presidente Lula na campanha do Osmar Dias (PDT). Como a senhora analisa a participação do presidente – e o desempenho de Lula – nesta eleição?

Lula exerce um papel extremamente forte. É o presidente da República com mais aceitação na história, gosta de uma campanha e que conseguiu transferir votos, o que deixou a eleição acirrada. O apoio dele aqui no Paraná é significativo. Mas não é só isso. Se trata de uma estratégia do partido [PT] muito bem construída, que pensou na eleição como um todo, em todos os estados.

Isso mostra também que a oposição, de uma maneira geral, errou na estratégia?

A oposição errou muito, sem dúvida. Errou na escolha do nome [do candidato à presidência]. O [José] Serra não emplacou. O discurso personalista dele, de que eu fiz isso, fiz aquilo, criou uma certa resistência, uma antipatia. Aliado às conquistas sociais do governo Lula, pesou muito.

A tendência é que a oposição saia ainda menor desta eleição. Fala-se em uma reestruturação geral, até com uma possível fusão de partidos. Há um caminho a ser seguido para esta reformulação?

Dá a impressão de que a oposição será mais fragmentada daqui em diante. PSol e PV, por exemplo, ganharam mais projeção, poderão ocupar o espaço deixado por PSDB e DEM. A Marina Silva [candidata do PV à presidência] ga­nhou grande destaque, influenciou na ascensão do Partido Verde. Ela roubou votos precisos daqueles eleitores que não queriam votar nem no Serra nem na Dilma. O mesmo vale para o Plínio Arruda [candidato do PSol à Presidência] e suas ironias polêmicas.

Isso significa que, mesmo não vencendo, a Marina se fortalece para daqui a quatro anos?

Claro. Apesar de não ter ainda o mesmo status de PT e PSDB, o PV cresceu muito por causa da Marina.

O mesmo raciocínio vale para a Dilma Rousseff (PT), que pode encerrar a eleição já neste domingo, fato que nem mesmo o Lula conseguiu?

A verdade é que nem no PT havia a expectativa de uma diferença tão grande [nas pesquisas]. A Dilma ganhou muita força. Se confirmar a vitória no primeiro turno, terá uma projeção extraordinária.

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