Petistas não querem limitar debate; tucanos atacam

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Brasília e São Paulo - Acuada pelo debate sobre as declarações que deu no passado a favor da descriminalização do aborto, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, disse ontem em Brasília que o tema não pode dominar a discussão política no segundo turno das eleições. "É ela e mais uma porção de outras questões", afirmou Dilma. Enquanto isso, a coordenação da campanha do presidenciável do PSDB, José Serra, partiu para o ataque contra a petista, ao dizer que ela usa a "tática da mentira". Na noite de quinta-feira, ao se reunir com lideranças do DEM em um hotel em São Paulo, Serra disse que "a torrente de mentiras e futricas" dos adversários vai aumentar na reta final da campanha.

O que motivou os ataques dos tucanos foi o primeiro programa de tevê de Dilma no segundo turno. Às acusações de que o PSDB nunca criou projetos como o Bolsa Família ou o Minha Casa, Minha Vida, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, disse que os adversários estão usando a "tática da mentira" porque "estão perdendo votos". "Essas acusações são tipicamente manifestações de alguém que está perdendo voto. Estão usando as velhas armas de sempre, reproduzindo a tática da mentira. E como todo mundo sabe, o mentiroso mente a vida toda", afirmou. "Essa já foi a arma deles na eleição passada, usada pelo Lula."

No ninho tucano, a análise é de que a campanha de Dilma terá dificuldade para encontrar o eixo, uma vez que os petistas acreditariam que a eleição terminaria já no primeiro turno. Guerra diz acreditar que Dilma está perdendo votos por causa das "trapalhadas" na campanha. Ele citou como exemplo as diferentes visões, dentro da própria candidatura, sobre temas como o aborto.

Ontem, os tucanos definiram uma estratégia para tentar evitar que votos dados no primeiro turno a Marina Silva (PV) em São Paulo migrem para Dilma. O governador eleito, Geraldo Alckmin, o senador eleito Aloysio Nunes Ferreira, e o prefeito paulistano, Gilberto Kassab (DEM), visitarão as 100 maiores cidades paulistas. "O tempo de tevê será igual, e Marina teve 20% dos votos. Em quem vai votar esse eleitor no segundo turno? Acho que ele tem uma afinidade maior conosco", disse Alckmin. Marina teve 4,8 milhões de votos no estado.

Na noite de quinta-feira, Serra alfinetou a adversária e sugeriu que ela tenta esconder seu passado dos eleitores. "Nunca joguei fora nada do meu passado. Eu tenho orgulho do meu passado. Tem gente que esconde, mas eu faço questão de mostrar o meu passado."

Lula na campanha

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu mão de viagens internacionais de despedidas e homenagens para se dedicar à campanha de Dilma nos grotões e capitais onde a oposição teve votos expressivos. Assessores do Pla­­nalto informaram que estão suspensas todas as discussões sobre temas externos e participações em eventos. Ontem, a agenda do presidente foi alterada quatro vezes. Ele cancelou encontros com ministros e técnicos para discutir um cronograma de deslocamentos pelo país e gravar programas de tevê, em um estúdio a 15 quilômetros do Planalto.

Na segunda-feira, Lula e a candidata farão um comício em Ceilândia, para tentar arrancar os votos dos simpatizantes de Marina Silva. A candidata do PV ficou em primeiro lugar no Distrito Federal no primeiro turno. Na quarta-feira o presidente embarcará para Teresina, onde participará de mais um comício, e no dia seguinte estará no Piauí e no Pará. Até o fim da semana ele deverá visitar ainda Chapecó (SC) e Curitiba.

Ontem, Dilma disse que a discussão sobre o aborto é válida, mas não pode pautar o segundo turno. "Eu acho que essa discussão é legítima, você pode fazer, mas ela não pode ser o centro de todo debate no Brasil. A petista negou que esteja abatida. "Você está achando [que eu estou desanimada]? Olha pra minha cara. Pelo contrário, nunca tive tão animada", afirmou.