
Respeito à vida, mas ataques ao adversário. A polêmica sobre a descriminalização do aborto que tomou conta do debate político embalou o primeiro dia da propaganda eleitoral do segundo turno na disputa pela Presidência da República. Tanto Dilma Rousseff (PT) quanto José Serra (PSDB) exploraram a defesa dos valores cristãos e familiares durante os 20 minutos a que tiveram direito na tevê, divididos em dois blocos, um à tarde e outro à noite, relegando a um plano secundário as propostas de governo. Partiram também para a troca de farpas, com acusações pesadas dos dois lados. Neste primeiro dia de horário eleitoral, os programas foram direcionados para a desconstrução dos adversários. Para Serra, eleger Dilma pode significar para o Brasil repetir o "estrago" chamado Fernando Collor. Já a petista reforçou a ideia de que o país não pode andar para trás, comparando as conquistas do governo Lula com as do período Fernando Henrique Cardoso.
Serra reforçou a posição contra o aborto, enquanto Dilma intensificou os argumentos na busca por se desvincular da pecha de favorável ao relaxamento da questão, o que lhe rendeu pesadas críticas do eleitorado religioso.
"Quero ser um presidente com postura, equilíbrio, que defenda os valores da família brasileira, os valores cristãos, a democracia, o respeito à vida e o meio ambiente", afirmou o tucano, no momento em que apresentava o programa Mãe Brasileira, versão ampliada do Mãe Curitibana criado pelo prefeito Luciano Ducci (PSB), quando era secretário de Saúde de Curitiba, que visa oferecer acompanhamento e pré-natal às mulheres grávidas. "Não vamos andar de mãos dadas com governos que apedrejam mulheres, perseguem a imprensa e tem vocação para a ditadura", emendou, intensificando às críticas à política de relações internacionais do governo Lula, principal cabo eleitoral de Dilma.
A petista respondeu aos ataques com um discurso direcionado aos religiosos, sem, no entanto, mencionar em nenhum momento de forma direta o tema aborto. "Quero começar esse segundo turno agradecendo a Deus por me ter concedido uma dupla graça: ter sido a candidata mais votada no primeiro turno e ter a oportunidade agora de discutir melhor as minhas propostas e me tornar ainda mais conhecida", disse ela, abrindo na sequência espaço para o locutor do programa ressaltar que "Dilma vai fortalecer e apoiar a família brasileira", apresentando a candidata como mãe, avó e "mulher que respeita a vida".
Outro ponto que uniu os dois concorrentes foi o cortejamento a Marina Silva (PV), terceira colocada no primeiro turno com quase 20 milhões de votos. O programa de Serra exibiu trechos do pronunciamento que fez assim que soube que iria para o segundo turno, ainda no domingo, destacando especialmente o agradecimento a Marina. Já Dilma disse que ao somar a sua votação com a da candidata do PV (cerca de 67,2 milhões), fica claro a vontade do brasileiro de eleger uma mulher presidente.
Mais bem produzido do que as peças exibidas no 1.º turno, o programa de Serra ressaltou ainda a biografia do tucano, pregando sempre a maior experiência em relação à concorrente. Exibiu imagens do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, avaliado como o responsável pelo controle da inflação, algo raro na fase inicial da campanha.
Beto Richa, governador eleito do Paraná, gravou depoimento a favor do correligionário ressaltando o aspecto ético da candidatura. Aécio Neves (senador eleito por Minas), Geraldo Alckmin (governador de São Paulo), Antonio Anastasia (governador de Minas) e Raimundo Colombo (governador de Santa Catarina) completaram o time pró-Serra.
Já Dilma voltou a dizer que vai dar continuidade as obras de Lula, que apareceu no vídeo defendendo a petista dos ataques adversários. A ex-ministra da Casa Civil disse que está "sofrendo na pele uma das campanhas mais caluniosas", em referência aos ataques que recebe há algumas semanas pela internet.
O programa da petista afirmou que "uma corrente do mal tem usado a rede para espalhar mentiras contra a Dilma" e pede para quem receber "algo assim" que envie "uma mensagem de amor para quem lhe enviou a mentira". Recém-eleito senador, Roberto Requião (PMDB) apareceu ao lado de Eduardo Campos (governador de Pernambuco), Jaques Wagner (governador da Bahia), Sérgio Cabral (governador do Rio de Janeiro) e Tarso Genro (eleito no Rio Grande do Sul), entre outros, fazendo afagos a Dilma.








