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“Ele [Lula] está sempre reclamando que a imprensa é contra ele, quando na verdade não existe esse problema. A imprensa tem o dever de fiscalizar e deve continuar fiscalizando", Hélio Bicudo, jurista que já foi filiado ao PT | Valterci Santos / Gazeta do Povo
“Ele [Lula] está sempre reclamando que a imprensa é contra ele, quando na verdade não existe esse problema. A imprensa tem o dever de fiscalizar e deve continuar fiscalizando", Hélio Bicudo, jurista que já foi filiado ao PT| Foto: Valterci Santos / Gazeta do Povo

CUT e Força: Centrais têm posturas diferentes

As regionais paranaenses das duas principais centrais sindicais do país – CUT e Força Sindical – divergem em relação ao "Ato contra o golpismo midiático". Enquanto a CUT encampa o discurso do PT, a Força fala em "manifesto exagerado".

"A mídia brasileira está batendo muito nesta questão da Casa Civil. Quer colar o que vem acontecendo [no governo] na campanha da Dilma de qualquer maneira", afirma Regina Cruz, presidente da CUT-PR. "Não concordo. A Força Sindical integra o Movimento Paraná que Queremos e é a favor que se denuncie toda e qualquer falcatrua", diz Paulo Zanetti, secretário-geral da Força Sindical no Paraná.

Duas importantes entidades de classe que representam os jornalistas declararam apoio ao "Ato contra o golpismo midiático", que será promovido hoje, em São Paulo, por sindicatos, centrais sindicais e movimentos sociais ligados ao PT. Tanto o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (Sindijor) quanto a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), que representa os sindicatos de todo o país, se mostraram favoráveis ao protesto.

O encontro tem por objetivo dar publicidade ao que classificam como "ofensiva antidemocrática" da mídia – que estaria tentando levar o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, ao segundo turno das eleições.

"O manifesto [dos sindicatos] não é nada exagerado. Pelo contrário, é certo. Sou a favor de qualquer liberdade de expressão. Se há exageros, precisam ser revelados. É um ótimo momento para discutir a comunicação neste país", afirmou Márcio Rodrigues, presidente do Sindijor. "Sobre a questão partidária, não queremos nos manifestar, mas estamos em sintonia com as críticas à mídia. E reagir a essas manifestações como se fosse censura é que é muito perigoso", emendou Celso Schröder, presidente da Fenaj.

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) não quis comentar o ato antimídia. Já a Associação Nacional de Jornais (ANJ), por meio de seu diretor executivo, Ricardo Pedreira, informou que "todo mundo tem o direito de se manifestar, assim como a imprensa de informar".

O ato público, cujo convite distribuído pelo PT fala em "castrar o voto popular" e "deslegitimizar as instituições", vem na sequência dos ataques do presidente Lula à atuação da imprensa. Durante comício em Campinas, no sábado passado, Lula acusou parte da mídia de não agir de forma democrática na divulgação dos escândalos que envolvem a Casa Civil. As denúncias, dentre outras baixas, resultou na demissão da ministra Erenice Guerra, que foi assessora de confiança da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. "Não vamos derrotar apenas nossos adversários tucanos. Vamos derrotar alguns jornais e revistas, que se comportam como se fossem um partido político e não têm coragem de dizer que são um partido político", disse o presidente.

Manifesto

Confira a íntegra do documento que defende a liberdade de expressão e de imprensa:

"Em uma democracia, nenhum dos Poderes é soberano. Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo.

Acima dos políticos estão as instituições, pilares do regime democrático. Hoje, no Brasil, os inconformados com a democracia representativa se organizam no governo para solapar o regime democrático.

É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais.

É inaceitável que a militância partidária tenha convertido os órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos.

É lamentável que o presidente esconda no governo que vemos o governo que não vemos, no qual as relações de compadrio e da fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos interesses do país, negando-se a qualquer controle.

É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade.

É constrangedor que o presidente da República não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas 24 horas do dia. Não há "depois do expediente" para um chefe de Estado. É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura. Ele não vê no ‘ ‘ ‘outro’ um adversário que deve ser vencido segundo regras da democracia , mas um inimigo que tem de ser eliminado.

É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses.

É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, com o fim da inflação, a democratização do crédito, a expansão da telefonia e outras transformações que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.

É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É um escárnio que o mesmo presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário.

Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe confere licença para rasgar a Constituição e as leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las. É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo.

Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade.

Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos.* * * * *

Interatividade

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