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Ricardo Barros (PP) conhece os meandros do Congresso Nacional. E se orgulha disso. Tanto que não encara o fato de ter sido líder dos governos FHC e Lula como uma incoerência ideológica. Pelo contrário. Diz que a credibilidade é resultado da habilidade com que transita entre seus pares – o que lhe garante uma fatia considerável do orçamento de emendas. É nesse poder de convencimento, na transferência de votos do correligionário Beto Richa (PSDB) e em projetos polêmicos que Barros aposta para chegar ao Senado após uma temporada de 16 anos na Câmara dos Deputados.

O senhor construiu uma carreira parlamentar focada na articulação política, sempre com acesso aos governos. Não é uma ambiguidade ideológica e partidária ter sido líder na Câmara dos presidentes Lula e FHC?

É uma posição de partido e o PP é um partido da governabilidade. Ainda assim, em um período do primeiro mandato do presidente Lula eu fui da oposição. E como oposição fui um dos deputados mais combativos. O primeiro requerimento de convocação para que a então ministra Dilma Rous­­­seff comparecesse ao Congresso para dar explicações foi meu, na Comissão de Orçamento. Eu toco minhas convicções com clareza. Nas eleições de 2006, só dois deputados eleitos do nosso partido eram da oposição. Então decidimos nos alinhar ao governo. A partir dessa decisão, fui convidado a ser vice-líder do governo, o que eu acho uma honra, porque eu fui nomeado pelo presidente, não pedi para ser. Fui nomeado tanto pelo FHC quanto pelo Lula para fazer articulação política. Sou capaz de fazer com que as coisas aconteçam no Congresso. É uma habilidade que eu tenho em função dos anos de credibilidade que conquistei junto aos meus pares.

O senhor recebeu uma série de críticas da bancada federal do PSDB quando fechou aliança com a chapa de Beto Richa. Antes, foi o principal defensor de uma ampla aliança de partidos da base governista em torno de Osmar Dias. Há compatibilidade ideológica na aliança?

Se você olhar todas as entrevistas que eu dei durante o período de construção da aliança, dei no sentido conciliador porque o PSDB havia fechado um pré-acordo com o PDT pela vice e pela vaga no Senado. Na verdade, era o Osmar que estaria invadindo um espaço, porque o PDT também é um partido da base do governo. Depois o Osmar decidiu tomar o seu rumo próprio, o espaço ficou à disposição e eles [PSDB] preencheram esse espaço. Não vejo nenhuma dificuldade nisso. Para mim foi uma op­­­ção confortável, porque eu apoiei o Beto Richa em 2002, em 2004 e 2008. Nós ficamos do mesmo lado sempre. Apoiei FHC, Serra e Alckmin. Agora, nosso papel em Brasília, de dar a governabilidade, se concretiza lá. Na nossa base, nós temos essa coerência. Não vejo nenhum problema na aliança, ela é bem feita, tranquila.

A sua chapa majoritária tem três nomes do PSDB e um do PP. O senhor se sente um estranho no ninho?

Eu sou realmente o único não tucano. Mas eu estou muito satisfeito com a postura do Beto Richa, que tem proposto de forma bastante leal a eleição da chapa em conjunto. Que é o que eu acho que vai acontecer, em função da ampla vantagem que ele apresenta para governador. Nós já tivemos esses candidatos que estão aí, Roberto Requião e o próprio Osmar, segurando empréstimos para o Paraná no Senado, atrasando o desenvolvimento do estado. Eles não queriam dar para o então governador Jaime Lerner a possibilidade de ficar mais popular porque queriam disputar eleições contra ele. Esperamos que o povo do Paraná perceba isso.

O senhor escolheu José Richa Filho, irmão de Beto Richa, como primeiro suplente para garantir que não seria abandonado pelo PSDB durante a campanha?

A minha escolha de suplente é absolutamente política. Meu primeiro suplente é o José Richa Filho porque é um nome conhecido em todo estado, que me dá a oportunidade de garantir a caravana progressista. Meu segundo suplente é o vereador de Curitiba Mário Celso Cunha, vice-presidente da União dos Vereadores do Paraná. Meus suplentes não estão comigo para financiar a minha campanha. Eu não estou aqui para fazer negócio.

Mas não teme um abandono?

Não, o interesse do Beto na minha eleição como senador se dá por ele querer ter no Senado aliados que possam ajudá-lo a cumprir o plano de governo.

O senhor está em campanha há pelo menos um ano e tem uma longa carreira de 16 anos na Câmara, mais um mandato como prefeito de Maringá. Ainda assim, aparece mal nas pesquisas. Dá para reverter essa situação?

Dá. Eu não estou preocupado com isso agora, neste momento. O fato de eu ter ido a cada cidade do Paraná significa que em cada cidade eu tenho um grupo de lideranças que vai levar adiante a minha campanha. Isso vai ocorrer durante o processo da eleição.

Entre os principais candidatos ao Senado, o senhor é o único do interior. Há uma disputa regional?

Não. Mas pode acontecer de as lideranças do interior entenderem que é importante ter a sua representação na chapa majoritária.

O senhor construiu a carreira em partidos de direita, primeiro o PFL (atual DEM), depois foi para o PPB, que se transformou no PP. O que pensa sobre a fidelidade partidária?

Temos praticado isso a partir da determinação do Tribunal Superior Eleitoral e acredito que os partidos devem ter sim uma capacidade de estabelecer as tarefas que seus filiados devem cumprir.

O seu partido tem um grande número de filiados que foram envolvidos em escândalos, como Paulo Maluf, Severino Cavalcanti e, aqui no Paraná, Antonio Belinati. Como o senhor vê a questão ética no PP?

Todos os partidos têm uma lista enorme de filiados envolvidos em escândalos. Não é privilégio do meu partido. A política é assim. Agora, cada um sabe o político que tem. Só não erra quem não faz.

O senhor falou sobre a Lei da Ficha Limpa. O presidente do PP, Francisco Dornelles, tentou fazer uma modificação que mudaria o alcance do projeto no Senado, que depois foi derrubada. Qual a sua opinião sobre o projeto?

O partido votou favoravelmente, eu votei favoravelmente. Eu acho que é um avanço, até pelo apoio popular que representou. Parece de novo que a sociedade se manifestou corretamente.

O senhor se orgulha de dizer que está entre os parlamentares que trazem mais recursos para o estado. Como vê essa função? Vale tudo para conseguir recursos, votar sempre com o governo?

Acho que brigar por recursos é uma coisa importante. Mais saúde, mais educação, mais segurança pública dependem de recursos. É a base de tudo. Se não há recursos, não há avanço para a sociedade. Eu tenho essa habilidade, me especializei na Comissão do Orçamento. Maringá foi o município que mais recebeu recursos federais por habitante do Brasil. Tenho também o meu lado legislador e o meu lado fiscalizador. Participei de várias CPIs, como a dos Combustíveis, que teve grande repercussão.

Uma de suas propostas fala em renda mínima para trabalhadores que nunca puderam contribuir com a Previdência. O projeto é semelhante ao que a Gleisi Hoffmann, candidata do PT ao Senado, apresentou para as donas de casa. Quem é afinal o autor da proposta?

É um projeto do Suplicy [Eduardo Suplicy, senador do PT por São Paulo]. Só estou defendendo porque acho que é justo. As pessoas que chegam a uma idade avançada – estou falando dos autônomos, do pipoqueiro, do jardineiro – já sem disposição para fazer esse tipo de serviço precisam viver com dignidade. Estou propondo que tenham uma renda mínima, não necessariamente um salário mínimo. Com R$ 4 bilhões nós suprimos essa demanda. São pessoas que não recebem da previdência nem estão nos programas de assistência social. Não é muito dinheiro para o orçamento da União. E quero deixar claro que não sairia da Previdência, que é um caixa de contribuição e repartição, e sim do Tesouro. Não podemos tirar de quem contribui para beneficiar quem nunca contribuiu. É como se fosse o Bolsa Família.

O senhor propõe uma série de mudanças polêmicas no Estatuto da Criança e do Adolescente. Muitas exigem mudanças constitucionais, como a redução da idade mínima para começar a trabalhar. Não são propostas inviáveis?

Estou preocupado com a questão das drogas e da formação da nossa juventude. Enquanto não existe escola integral para todos, o que seria ideal, proponho que quem está no ensino regular [com mais de 14 anos] possa trabalhar meio período. O jovem ajudaria no orçamento familiar e ainda aprenderia um ofício. Sem contar que eles ficariam em um ambiente saudável. Outra coisa: por que o maior traz um menor para a quadrilha? Para poder ficar com a ficha limpa. Proponho que a pena do maior seja dobrada. O menor vai ser tratado dentro do Estatuto. Só que é preciso mexer na ficha do menor, para que ele não chegue aos 18 anos como um cidadão que nunca cometeu crimes. Ao não zerar a ficha, ele pensará duas vezes antes de cometer uma irregularidade.

Mas tem ciência de que é um assunto polêmico, que deve gerar uma reação muito grande dos Diretos Humanos por exemplo.

Várias dessas propostas já estão tramitando. É verdade que nós temos que garantir o direito das crianças de brincar, do lazer, mas o que vamos fazer é tirá-las do ócio.

Vencendo ou não as eleições, faz parte dos seus planos disputar a prefeitura de Maringá?

Não. Fui prefeito de Maringá [de 1989 a 1993] e nunca mais quis concorrer, apesar de o meu nome sempre liderar as pesquisas. Sem contar que há o impedimento legal. Não poderia substituir o meu irmão [Silvio Barros].

Cogitou concorrer ao governo nessas eleições?

Poderia ser, se a conjuntura favorecesse. Trabalhei para o Senado e estou confiante na vitória.

Mas a sua ambição é essa?

Não. A cada momento estamos em um momento diferente. Sou um político de resultados e tenho muito a contribuir com Paraná.

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