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Em nome do combate à corrupção, PT “ressuscita” ideia de reforma política

Proposta de constituinte exclusiva para mudar o sistema eleitoral ressurge na campanha, um ano após ter sido apresentada como resposta às manifestações de rua

Manifestantes ocupam o Congresso Nacional em junho de 2013: Planalto propôs reforma política por meio de 
constituinte como resposta aos protestos populares. Mas a proposta é tida como inconstitucional por especialistas | Valter Campanato/ABR
Manifestantes ocupam o Congresso Nacional em junho de 2013: Planalto propôs reforma política por meio de constituinte como resposta aos protestos populares. Mas a proposta é tida como inconstitucional por especialistas (Foto: Valter Campanato/ABR)
Gilberto Carvalho: votação mostra vontade popular |

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Gilberto Carvalho: votação mostra vontade popular

No início da próxima legislatura do Congresso, o PT pretende apresentar um projeto para instalar uma assembleia constituinte exclusiva para fazer a reforma política. Pela proposta, a população elegeria representantes para debater exclusivamente o tema – e eles não poderiam ser eleitos parlamentares posteriormente para que pudessem ter mais isenção ao apreciar a reforma. A apresentação do projeto, porém, seria feita por meio de iniciativa popular para dar mais peso à proposta. Na semana passada, o PT, junto com outros partidos e movimentos sociais, organizou uma consulta popular informal para divulgar a ideia. No ano passado, o PT já havia proposto uma constituinte exclusiva para fazer a reforma política para como respostas às manifestações de junho. Especialistas, porém, dizem que a ideia do PT é inconstitucional.

A campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição tem colocado a reforma política como um ponto essencial no combate à corrupção. O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gil­­ber­­to Carvalho, por exemplo, culpou em entrevista no último domingo o sistema vigente de financiamento eleitoral pelos escândalos de corrupção na Petrobras. "Enquanto houver financiamento empresarial de campanha e as eleições continuarem sendo um momento de muita gente ganhar dinheiro, não há quem controle a corrupção. Isso é com todos os partidos. Não há, infelizmente, nenhuma exceção", disse.

O ministro disse ainda que o Congresso é formado por políticos que têm maior "capacidade de mobilização de recurso" e que, por isso, acabam cedendo aos interesses dos financiadores nas votações. Para ele, esse cenário "deturpa a representação popular no Congresso".

Vice-presidente nacional do PT, Gleide Andrade coordena o projeto de reforma política do partido e tem um discurso parecido com o de Carvalho. Para ela, a escolha por uma constituinte exclusiva se dá pela natureza conservadora do Congresso. Por serem eleitos pelo sistema vigente, os parlamentares não têm interesse em mudar o sistema político brasileiro, afirma. Prova disso seriam as inúmeras tentativas de se votar a reforma política ao longo dos últimos anos. Na legislatura atual, por exemplo, duas comissões foram montadas para discutir o tema, uma no Senado e outra na Câmara. Entretanto, nenhuma mudança significativa chegou até o plenário.

Questionamentos

No entanto, a proposta pode ser encarada como inconstitucional. No entendimento de Vera Karam Chueiri, professora de Direito Constitucional da UFPR, a definição de um poder constituinte é, como o próprio nome diz, o de criar uma Constituição. Logo, ele não pode ser restrito a um tema específico. Para a professora, já existem ritos estabelecidos para mudanças constitucionais – emendas e revisões – e não há motivos que justifiquem que eles não sejam utilizados.

Opinião parecida tem Ingo Sarlet, professor de Direito Constitucional da PUCRS. Ele considera, inclusive, que a questão é quase consen­sual entre constitucionalistas. Para ele, não é possível estabelecer um limite do que pode e do que não pode ser alterado, visto que o conceito de reforma política pode ser elástico. "Apesar de muitos terem boas intenções com essa constituinte, não há como garantir que ela não seria um golpe contra a própria Constituição", afirma.

Partido conclui seu "plebiscito"

Além da constituinte exclusiva, o PT, em conjunto com outros partidos e movimentos sociais, realizou um "plebiscito" pela constituinte exclusiva – a votação começou no dia 1.º de setembro e se encerraria no domingo, mas foi prorrogada por mais um dia. Nesse caso, não se tratou de um plebiscito oficial, realizado pela Justiça Eleitoral, com efeitos práticos. Na verdade, foi mais uma estratégia política de divulgação da ideia de constituinte exclusiva e de mobilização de militantes da causa.

A pergunta realizada no plebiscito foi: "Você é a favor de uma constituinte exclusiva e soberana do sistema político?", e o eleitor poderia votar sim ou não. Era possível votar pela internet ou em urnas espalhadas por todo o país.

Segundo a vice-presidente nacional do PT, Gleide Andrade, o movimento foi feito nos moldes do plebiscito da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), realizado em 2002. Na época, mais de 60 movimentos sociais, junto com partidos políticos então de oposição ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, organizaram um plebiscito perguntando aos eleitores se eles queriam ou não que o Brasil aderisse à Alca. Mais de 10 milhões de pessoas votaram, 98% delas contrárias a adesão. Na prática, não se tratou exatamente de uma votação, e sim de uma demonstração de força política. Os 10 milhões de votos contrários deram visibilidade à causa e ajudaram, junto com outros fatores, a suspender a criação e o ingresso do Brasil na Alca.

Dilma

No último domingo, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com um grupo de jovens ligados a movimentos sociais, culturais e de direitos da comunidade LGBT. A expectativa era de que ela votasse no plebiscito, o que acabou não ocorrendo. Mesmo assim, ela se declarou favorável à consulta popular.

O ministro Gilberto Car­­valho, da Secretaria-Geral da Presidência, também se mostrou simpático ao plebiscito. Ele destacou que o resultado do plebiscito não poderá ser usado oficialmente pelo governo, mas pode mostrar que "a sociedade brasileira quer a reforma política".

Você acha que é preciso fazer uma reforma política? E qual seria a reforma ideal?Deixe seu comentário abaixo e participe do debate.

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