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Marlene espera há três anos por uma cirurgia no joelho direito para recompor a cartilagem. Fêmur e a tíbia, ossos da perna, encostam um no outro e causam dor por conta do problema | Brunno Covello / Gazeta do Povo
Marlene espera há três anos por uma cirurgia no joelho direito para recompor a cartilagem. Fêmur e a tíbia, ossos da perna, encostam um no outro e causam dor por conta do problema| Foto: Brunno Covello / Gazeta do Povo
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Pescadores de desilusões

O Litoral tem a maior taxa de evasão do ensino fundamental no Paraná. Dificuldades de deslocamento até a escola e falta de perspectiva de emprego qualificado levam os jovens a abandonar os estudos para trabalhar.

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Após alguns segundos em pé para uma foto, Marlene Dias Pereira, de 52 anos, faz uma careta e pergunta se já pode se sentar. Ela não suporta a dor no joelho direito porque não há mais cartilagem entre o fêmur e a tíbia. O contato direto entre os dois ossos causa um sofrimento visível no rosto da dona de casa. Por isso, não consegue nem andar, quanto mais trabalhar. Ela espera por uma cirurgia desde 2011 e o resultado da demora em conseguir atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a levou a engordar 30 quilos.

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Cercada por exames e receitas médicas na casa em Pontal do Paraná, no Litoral paranaense, Marlene explica que precisa tomar diversos remédios para a dor e para evitar inflamações. Além do joelho, ela trata ainda de uma hérnia de disco na coluna. Com lágrimas nos olhos, conta que, se pelo menos resolve o problema do joelho, poderia ter uma rotina próxima da normalidade. "Eu voltaria a caminhar, visitar os lugares e lavar a louça, pelo menos. Nem em pé, em frente da pia, eu aguento." O marido, José Almeida de Oliveira, de 50 anos, confirma. É ele quem cuida dos serviços domésticos, além de trabalhar como borracheiro.

Viagem a Curitiba

A secretária de Saúde da Pontal do Paraná, Sandra Luiza Machado, faz uma queixa comum a gestores municipais: gasta ao menos 30% dos R$ 9,6 milhões do orçamento da pasta em transporte de pacientes para cidades com mais estrutura e atendimento. São dois micro-ônibus, uma van e três carros usados para levar moradores a Paranaguá e Curitiba. A maioria das viagens é para a capital, já que o Hospital Regional do Litoral não oferece consultas de diversas especialidades. "A média e alta complexidade é um gargalo, principalmente pediatria, ortopedia, dermatologia e ecografias", diz Sandra. Além disso, Pontal é o único município do Litoral que não oferece leitos para internamento.

Mas a situação não é muito melhor no restante da região. O Litoral tem a pior oferta de leitos hospitalares por habitante do Paraná. Existe uma vaga para cada mil habitantes. A média do estado é praticamente a metade disso: um leito para 548 pessoas.

A prefeita de Guaratuba e presidente da Associação dos Municípios do Litoral do Paraná, Evani Cordeiro Justus, acredita que seja possível melhorar a oferta de saúde em Paranaguá – o que teria reflexos em todas as cidades da região. "Os municípios litorâneos dependem de Curitiba para vários tratamentos, como diálise e quimioterapia. Por que o governo estadual não faz um convênio e oferece tratamento em Paranaguá? Seria mais econômico e daria conforto para as famílias", sugere a prefeita. Ela lembra que os municípios, sozinhos, não conseguem dar conta da demanda da saúde devido à falta de médicos e ao alto valor dos salários pedidos por eles. "Os profissionais não gostam de trabalhar no Litoral. Não se consegue médico para morar aqui. Eles vêm, ficam um mês ou dois meses e pedem para ir embora. Eles não querem fazer raiz."

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