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A família Fortuna com fotos de familiares mortos: sensação de que, se houvesse mais estrutura de atendimento médico no Noroeste, alguns parentes ainda estariam vivos | Brunno Covello/ Gazeta do Povo
A família Fortuna com fotos de familiares mortos: sensação de que, se houvesse mais estrutura de atendimento médico no Noroeste, alguns parentes ainda estariam vivos| Foto: Brunno Covello/ Gazeta do Povo
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A invasão das cortadeiras

Formigueiros se espalham pelo Noroeste do Paraná. Esse é apenas um dos problemas ambientais da região, que causam grandes prejuízos aos produtores rurais.

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O número de pessoas que morreram no Noroeste do Paraná – de todas as causas – aumentou 13% nos últimos cinco anos, entre 2009 e 2013. É o maior índice de crescimento do estado, alcançado também por outras duas regiões: Centro-Sul e Norte. As três tiveram crescimento de óbitos acima da média do Paraná: 7%. Em 2009, 4,5 mil pessoas faleceram na região e, em 2013, esse número passou para 5,1 mil. Em todo o estado, o crescimento foi de 66,1 mil para 70,8 mil, de acordo com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade da Secretaria de Saúde do Paraná.

Parte dessas mortes poderia ser evitada com um atendimento de emergências mais ágil, com uma medicina preventiva mais eficiente e com maior oferta de consultas e exames de média e alta complexidade. Uma boa parcela das mortes do Noroeste ocorre em decorrência de doenças tratáveis – como as ligadas a problemas vasculares, cardíacos, respiratórios e diabetes – e da falta de estrutura para tratá-las nos municípios.

Esse é o caso, por exemplo, de Querência do Norte, município do Noroeste que teve aumento de 69% no número de mortes nos últimos cinco anos. A cidade não tem hospital. E isso custa vidas. Se tivesse, talvez hoje a agricultora Rosa Fortuna Lopes, morta de infarto aos 49 anos, em maio deste ano, poderia estar viva.

A agricultora passou mal de madrugada e foi levada para o pronto-socorro da cidade depois de 12 quilômetros de estrada de chão. Como não há hospital no município, ela permaneceu no posto de saúde esperando uma vaga em alguma unidade hospitalar mais equipada da região. A referência de atendimento cardíaco para Querência é Arapongas, a 259 quilômetros de distância – ou 4 horas de viagem. A UTI mais próxima está em Paranavaí, a 127 quilômetros e duas horas de carro.

Um eletrocardiograma foi feito em Rosa. Mas, devido à falta de um médico especialista em Querência, o exame foi encaminhado pela internet para Ponta Grossa. O laudo retornou à tarde informando que ela estava bem do coração – a família alega que isso atrasou ainda mais o atendimento. Após mais de 18 horas de ter se sentido mal, uma vaga de internamento surgiu. Mas Rosa morreu logo depois de embarcar na ambulância. "Se tivessem tratado dela antes, ela poderia estar aqui", lamenta Karen Rafaela Lopes, filha da agricultora.

Infelizmente, Rosa não é um caso único na família Fortuna. Desde 2000, 12 pessoas da família morreram – dez delas na cidade de Querência. E, em alguns casos como o de Rosa, ficou a sensação de que uma estrutura de saúde melhor salvaria vidas.

João Fortuna, de 77 anos, morreu em 2011 em decorrência de uma pancreatite não diagnosticada. João estava com a barriga volumosa e queixando-se de dores. Foi medicado no pronto-socorro da cidade e liberado. À noite, voltou a passar mal e acabou encaminhado para Paranavaí, onde passou por uma cirurgia após fazer um ultrassom, que mostrou o problema. Porém, não resistiu e faleceu. "Se tivessem feito [o ultrassom] antes, talvez fosse diferente", diz a filha Janete Fortuna Viganigo.

Prevenção

A secretária de Saúde de Querência, Maria Izabel Berto, vê possibilidade de melhorar a prevenção com o aumento de equipes do Programa Saúde da Família. Hoje são quatro equipes na cidade e, segundo ela, seria necessário mais uma. "Mas isso não é só o poder público. A prevenção tem que partir da população também." A secretária vê também outra mudança necessária: "Um trabalho efetivo de atenção básica".

O diretor do Paraná Urgência, Vinicius Filipak, explica que, para evitar casos como os da família Fortuna, um dos caminhos é aumentar a presença do Samu. Além disso, o aumento da oferta de atendimento especializado depende do crescimento econômico da região, que a tornaria mais atrativa para médicos especialistas.

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