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Fabiana Bruno mora com os filhos em um barraco – nem isso os irmãos dela têm | Brunno Covello/Gazeta do Povo
Fabiana Bruno mora com os filhos em um barraco – nem isso os irmãos dela têm| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

Expedição em dados

Os principais indicadores coletados foram organizados e estão abertos para consultas e comparações. Há informações regionais e, em alguns casos, os detalhes por municípios.

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Entreposto logístico saiu do papel, mas não chega em Paranaguá

Brunno Covello/Gazeta do Povo

Terminal do agricultor José Henrique Lustosa Siqueira fica entre a linha ferroviária da Ferroeste e a BR-277

O agricultor José Henrique Lustosa Siqueira colocou para funcionar em janeiro deste ano o entreposto logístico que começou a erguer há cerca de seis anos e que foi mostrado na Expedição Paraná de 2010. Ele conseguiu fazer a interligação de cargas entre a ferrovia da Ferroeste e a BR-277, mas não do jeito que imaginou. "Todo mundo pensa que embarco grãos aqui para Paranaguá. Mas é o contrário. Eu trago grãos de Cascavel até aqui, embarco em caminhões, que seguem até Paranaguá."

A ideia inicial era que o terminal pudesse embarcar soja e milho para exportação, mas o gargalo ferroviário entre Guarapuava e Ponta Grossa impede que isso aconteça. Então, o entreposto está subutilizado. O problema é que a América Latina Logística (ALL) usa 20 vagões para cada locomotiva até Ponta Grossa, pois a estrada de ferro é antiga e o trecho, íngreme. De Cascavel à Guarapuava são 40 vagões por locomotiva. "Se o governo federal fizer a nova ferrovia como anunciaram até o Porto de Paranaguá, nós estamos prontos. Eu não tenho dúvida de que a gente consegue reduzir o preço do frete em 50%, e isso vai gerar um aumento de renda para os produtores."

Na conta, em época de safra, uma tonelada de soja entre Guarapuava e o litoral sairá por R$ 45, contra os R$ 90 atuais. Mesmo utilizando apenas o trecho ferroviário de Cascavel a Guarapuava, Siqueira acredita que o investimento vale a pena. "Na safra, fica 15% a 20% mais barato." Veja matéria da época aqui: http://bitly.com/2010centrosul

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Gasolina, uma despesa médica

Brunno Covello/Gazeta do Povo

Quinze cidades do Centro-Sul precisam levar pacientes a outras cidades para exames e consultas

Leia matéria completa

  • Erondina Aparecida Rosa dos Santos e o filho, Eramos Carlos Rosa dos Santos (18), moradores de Laranjal. Ele vai trabalhar em outras cidades e depois retorna para levar dinheiro para casa
  • Erondina não sabe a idade que tem
  • A pequena Eva, neta de Erondina
  • Novamente Eva
  • Eramos Carlos Rosa dos Santos
  • Erondina em Laranjal
  • Fabiane Bruno (22) e os filhos Luane (4) e Luan (2), em Laranjal
  • Luan e Luane Bruno Thibes
  • Luan e Luane Bruno Thibes
  • Cobertores são usados pela família para diminuir o vento dentro de casa devido ao espaço entre as tábuas de madeira
  • Luan e Luane Bruno Thibes
  • Fabiane ergueu o barraco em que mora nos fundos da casa da mãe, em Laranjal
  • Com poucos recursos, telhado é de lona
  • Crianças brincam ao redor da casa de Fabiane durante a entrevista
  • Reginaldo dos Santos (6), morador de Goioxim
  • O menino Reginaldo já trocou duas vezes de marca-passo
  • Reginaldo com o pai, Joani dos Santos (53), o irmão Jonathan (9) e a mãe, Maria Aparecida dos Santos (44)
  • Em um raro momento de seriedade, Reginaldo olha compenetrado para a foto
  • O menino finge varrer a casa
  • Chapéu sem abas
  • Chapéu com abas
  • Espoleta, Reginaldo inventa uma cambalhota no meio da casa
  • O chimarrão sempre presente durante as conversas no interior
  • Reginaldo e Jonathan tentam tocar enquanto cantam o Lepo-Lepo
  • Reginaldo e Jonathan tentam tocar enquanto cantam o Lepo-Lepo
  • Reginaldo, um menino alegre
  • Reginaldo, um menino alegre
  • Reginaldo, um menino alegre
  • Reginaldo, um menino alegre

Fabiana Bruno tem 22 anos, um marido e dois filhos pequenos. Mora em um barraco erguido por conta própria, com ajuda dos irmãos, nos fundos do terreno da casa da mãe, Dona Roseli. Mesmo com tão pouco, é considerada privilegiada pela família, pois tem um lugar para chamar de seu. Seis de seus irmãos, com idades entre 8 e 27 anos, e dois sobrinhos moram com Dona Roseli, em uma casa de dois quartos. O cantinho de Fabiana não tem piso, a única janela está sem vidros e, para amenizar a entrada do vento frio, as paredes são revestidas de cobertores. Mas pior que a situação atual é o futuro de Fabiana: não há perspectiva de melhora.

SLIDESHOW: Veja fotos de personagens do Centro-Sul

INFOGRÁFICO: Confira informações sobre a região Centro-Sul

• Veja as propostas dos candidatos ao governo do Paraná para o Centro-Sul

O marido, que trabalha como boia-fria na agricultura, está desempregado. A renda dos quatro vem dos R$ 130 do programa Bolsa Família e do pouco dinheiro extra que ela consegue lavando roupa de outras famílias — Fabiana não concluiu o ensino médio. "Eu não posso dar para eles [os filhos: Luan (2) e Luana (4)] a vida que eles merecem, mas dou o que eu posso." O possível é dar educação moral, amor e uma casa asseada. Qualquer coisa além disso é difícil.

Fabiana vive em Laranjal, cidade com o terceiro pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Paraná. A região dela, o Centro-Sul, é a mais pobre e atrasada economicamente do estado. "Não tem emprego aqui. Aparece serviço de doméstica, para lavar roupa. E tem gente que ainda não paga", reclama Cidineia Massaneiro Alexandre, 18 anos, irmã de Fabiana.

Em Laranjal, 15% dos 6,3 mil moradores dependem do Bolsa Família para o sustento. No conjunto das 24 cidades do Centro-Sul, 8% das pessoas usam o benefício — maior índice do Paraná e o dobro da média estadual, de 4%. A região é a pior empregadora na relação entre o número de carteiras assinadas (71,9 mil) e a população total (454,6 mil): 16%. A média do Paraná é quase o dobro disso: 29%.

Outro exemplo da dificuldade da região para criar oportunidades vem de Eramos Carlos Rosa dos Santos, de 18 anos. Ele vive em trânsito, entre o trabalho e a casa da mãe, Erondina Aparecida Rosa dos Santos. Desde os 16 anos, o rapaz vai a outras cidades para trabalhar, retornando depois de um tempo, com o dinheiro que conseguiu. "Em Curitiba, trabalhei numa fábrica de chocolates por três meses. Em Joinville, fiquei seis meses como servente de pedreiro, e, em Laranjeiras do Sul, fiquei um tempo numa fazenda cuidando do gado."

Há vários indicadores sociais ruins no Centro-Sul: a maior proporção de extremamente pobres do estado, o menor índice de coleta de lixo e a segunda maior proporção de domicílios sem esgoto. O Centro-Sul tem a oitava economia entre as 11 regiões do estado, com R$ 6,3 bilhões de Valor Adicionado Bruto a Preços Básicos – um índice que mede a geração de riquezas. Os dados apontam para a grande desigualdade social da região.

Distribuição de terras

Diretor do Centro de Pes­­­­quisa do Institu­­to Para­­naen­­se de Desenvolvimen­­to Econômico e Social (Ipardes), Júlio Takeshi Suzuki Júnior diz que o Centro-Sul tem a maior média de tamanho das propriedades rurais, com muitos latifúndios. "A região tem uma estrutura fundiária que é um dos fatores impeditivos de desenvolvimento, junto com restrições ambientais, devido aos remanescentes florestais e ao baixo potencial do solo."

O prefeito de Marquinhos, Luiz Cesar Batistel, acrescenta que boa parte dos grandes proprietários de terra não mora na região. "Tenho aqui de 15 a 20 grandes fazendas, com 300 a 1,5 mil alqueires, em que os donos são de Campo Mourão, Cascavel e Maringá. Eles criam gado e, quando o animal está quase pronto para o abate, eles levam os bichos para essas cidades, onde terminam de engordar. O ICMS fica lá. Esses caras não gastam aqui."

Professor de Desenvolvi­­mento Regional e Agronegócio da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Moacir Piffer concorda que parte da pobreza do Centro-Sul é alimentada pela elite que investe dinheiro em outras cidades. Para ele, dinamizar a economia da região passa por melhorar as estradas rurais e o acesso às cidades. "As estradas influenciam em tudo: no escoamento da produção, na ida das crianças para a escola e na questão da saúde. O pequeno agricultor está largando a terra e vindo para a cidade, porque os filhos precisam estudar", diz Joceli de Fátima Ramos Zeni, coordenadora da pastoral em Guarapuava.

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