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Eroni Firmino da Luz (33), pequeno agricultor em Cruz Machado | Brunno Covello/ Gazeta do Povo
Eroni Firmino da Luz (33), pequeno agricultor em Cruz Machado| Foto: Brunno Covello/ Gazeta do Povo

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Poeira e lama seguem na PR-364

Brunno Covello

A ligação entre duas das três principais cidades do Sul do Paraná ocorre pela PR-364, entre São Mateus do Sul e Irati. A rodovia, porém, é subutilizada. O motivo está na pista, que é de terra. São 47 quilômetros de muita poeira nos dias de sol e de muita lama quando chove. Por isso, quase todo o tráfego é desviado para a PR-151, passando por Palmeira. A viagem aumenta em 100 quilômetros.

A promessa de asfaltar a PR- 364 é do início da década de 80. A rodovia seria a principal ligação entre a BR-476, a Rodovia do Xisto, com a BR-153, a Transbrasiliana, e a BR-277, que corta o Paraná de Foz do Iguaçu a Paranaguá. O único trecho em que a 364 tem asfalto é nas proximidades da Usina de Xisto da Petrobras, em São Mateus do Sul.

Em 2010, a estrada já foi mostrada como um gargalo pela reportagem da Gazeta do Povo. Os irmãos Antônio Alceu da Silva e José Ivo da Silva ilustraram a matéria enquanto circulavam na estrada com uma carroça puxada por dois cavalos. Eles reclamaram e disseram que os filhos ficavam sem conseguir ir às aulas nos dias de chuva. Dessa vez, eles não foram encontrados, mas a poeira da estrada permanecia lá.

Outro desafio logístico reportado na época foi a BR-153, que estava esburacada e com péssimas condições de sinalização. A rodovia está sendo reformada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) desde 2012 e a revitalização – com alargamento de pontes, construção de terceiras faixas e viadutos – deve ser concluída no fim desse ano. O trecho paranaense da Transbrasiliana é cotado, porém, para entrar no pacote de concessões do governo federal e passar a ser conservado por uma empresa mediante cobrança de pedágio.

Veja matéria da época aqui: http://bitly.com/2010sul

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Uma dívida para salvar o filho

Brunno Covello

Marlise Schreiner gastou R$ 30 mil para não perder o filho Maicon, 20 anos, mais uma vítima da falta de serviço de emergência na Região Sul

Leia mais

  • Eroni, a esposa Érica Desidério (26) e a pequena Luana
  • Luana, de 10 meses. Filha de Eroni e de Érica
  • Eroni não enxerga com um dos olhos depois de um acidente neste ano
  • O agricultor foi atropelado e quebrou uma das pernas. A outra havia sido quebrada em 2006 enquanto ele transportava 60 quilos de feijão nas costas
  • Maicon Schreiner, morador de Teixeira Soares e um Acidente Vascular Cerebral (AVC) aos 20 anos
  • Maicon descobriu uma má formação na artéria cerebral após o AVC
  • O garoto irá precisar colocar mais extensores dentro da artéria cerebral para diminuir os riscos de um novo problema vascular
  • Detalhe de um dos exames de Maicon
  • Marlise Schreiner (49) e o filho Maicon. Rifa entre os colegas de faculdade dele e mobilização do comércio da cidade para diminuir o prejuízo financeiro da família com a falta de atendimento no SUS
  • Marlise Schreiner (49) e o filho Maicon. Rifa entre os colegas de faculdade dele e mobilização do comércio da cidade para diminuir o prejuízo financeiro da família com a falta de atendimento no SUS
  • Rosenilda dos Santos, de 30 anos, tem cinco filhos, mora em Rebouças
  • Curso de cabeleireira é a esperança para Rosenilda mudar a vida dela e dos filhos
  • Rosenilda dos Santos, de 30 anos
  • Rosenilda dos Santos, de 30 anos
  • Rosenilda dos Santos, de 30 anos
  • Emilaine dos Santos (10), filha de Rosenilda
  • Richard (5), filho de Rosenilda
  • Richard (5), filho de Rosenilda
  • Richard (5), filho de Rosenilda
  • Asfaltamento da PR-364, entre São Mateus do Sul à Irati, é promessa política há anos. Na foto, trecho da rodovia perto de Rebouças
  • Asfaltamento da PR-364, entre São Mateus do Sul à Irati, é promessa política há anos. Na foto, trecho da rodovia perto de Rebouças
  • Asfaltamento da PR-364, entre São Mateus do Sul à Irati, é promessa política há anos. Na foto, trecho da rodovia perto de Rebouças
  • Asfaltamento da PR-364, entre São Mateus do Sul à Irati, é promessa política há anos. Na foto, trecho da rodovia perto de Rebouças

Eroni Firmino da Luz, de 33 anos, é um pequeno agricultor em Cruz Machado, onde mora com a mulher e três filhos. Aluga um alqueire de terra para plantar sozinho feijão, milho, mandioca e verduras. Um terço da produção é utilizada para pagar a terra. O restante é para consumo e o pequeno excedente acaba sendo vendido na cidade. Rosenilda dos Santos, de 30 anos, tem cinco filhos, é separada e mora em Rebouças. Sustenta a casa com o Bolsa-Família e faz curso de cabeleireira para tentar mudar de vida. Eroni e Rosenilda não se conhecem, mas têm muito em comum: ambos batalham duro e têm dificuldades para reverter a situação de pobreza em que vivem no Sul do Paraná.

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A região é a segunda pior empregadora do estado. Apenas 16% da população trabalha com carteira assinada, enquanto a média estadual é de 29%. O índice de trabalho formal mostra que a situação não vai bem. O Sul é o sétimo colocado entre as 11 regiões do Paraná em população, mas foi a nona economia em produção de riqueza em 2011. E o desempenho caiu. No ano 2000, o Sul ocupava a oitava posição.

Entre os 21 municípios da região, 16 têm índice de beneficiários do Bolsa-Família – um indicador de pobreza – acima da média estadual de 4%. Em Rebouças, onde vive Rosenilda, 11% dos 14,7 mil moradores têm a renda complementada pelo programa. Em Cruz Machado, o índice é de 7% entre os 18,7 mil habitantes. Mudar de vida num cenário assim é mais difícil.

Érica Desidério, esposa de Eroni, é uma das beneficiárias. O marido anda com dificuldade: no início do ano, foi atropelado por uma caminhonete, quebrou a perna esquerda e ficou cego de um olho. Ele já mancava antes disso. A perna direita quebrou em 2006 enquanto ele carregava um saco de 60 quilos de feijão. Nos últimos meses, sobrevive de uma cesta básica doada pela prefeitura – já que não consegue trabalhar – e gastou R$ 300 em duas consultas com um oftalmologista em União da Vitória por causa da fila de espera do Sistema Único de Saúde (SUS). Mas ainda não sabe se a cegueira é reversível ou não. O plano dele para o futuro é voltar a trabalhar o quanto antes para colher o que está plantado e poder fazer um dinheiro. "Agora vou tirar nota de produtor rural. Isso vai me ajudar no dia em que eu precisar de aposentadoria."

Rosenilda trabalhou mais de cinco anos como doméstica para sustentar os filhos. Hoje, dedica-se ao curso de assistente de cabeleireira com o objetivo de começar a atender clientes em casa e, em seguida, fazer curso de manicure. Cortar cabelo e pintar a unha é a forma que ela enxerga para melhorar a vida sem depender de ajuda. "Quero dar um bom estudo para meus filhos, uma casa melhor e um lugar melhor para viver. Meu piá quer fazer faculdade para ser professor de física."

Geração de emprego

Mudar o cenário econômico do Sul passa pela atração de investimentos e abertura de postos de trabalho. A psicóloga e coordenadora do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) de Rebouças, Vanessa Molinari, constata que atualmente não adianta a criação de cursos de capacitação para as famílias pobres se depois não há empresas para absorver essa mão de obra. "Capacitar não é difícil. O problema é que hoje não tem para quê capacitarmos."

Julio Takeshi Suzuki Júnior, diretor do Cen­­tro de Pesquisa do Ins­­ti­­tuto Paranaense de Desen­­vol­­vimento Econômico e So­­cial (Ipardes), diz que uma das indústrias fortes nos municípios do Sul é a ligada à exploração florestal, mas que o setor passa por uma crise devido a restrições ambientais. "A indústria da madeira passa por um dilema e precisa se reinventar."

Poder público

Para reverter o cenário econômico é necessário melhorar as estradas da região, segundo o prefeito de Rebouças e presidente da Associação dos Municípios do Centro-Sul do Paraná, Claudemir dos Santos Herthel. O prefeito de Cruz Machado e presidente da Associação dos Municípios do Sul Paranaense, Antonio Luis Szaykowski, afirma que o governo estadual precisa acreditar no pequeno produtor, ajudar na criação de cooperativas e melhorar a assistência técnica. "O caminho está na diversificação da agricultura familiar, fortalecendo os escritórios da Emater com mais técnicos para desenvolver projetos, investir na formação [do agricultor] e na industrialização."

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