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Polêmicas

Como se posiciona em relação a temas que são ou podem ser alvo de mudanças na legislação:

• Legalização da maconha

Contra. É muito mais importante como senador fazer com que o monitoramento das fronteiras do país funcione, para que não entre droga.

• Redução da maioridade penal

Contra. Você está tratando da consequência e não da causa.

• Ensino religioso nas escolas

Uma dicotomia aí. É uma alternativa nas escolas privadas. Nas públicas, se eu for palpitar, deixaria um Estado Laico.

• União civil de pessoas do mesmo sexo

Sou a favor. O que está no Supremo Tribunal Federal está valendo.

• Descriminalização do aborto

Aí eu sou cristão. A partir do momento que houve a concepção, já é uma vida. Sou contra o aborto. Quem nos deu a vida foi Deus e cabe a Ele nos tirar.

União é a palavra preferida de Marcelo Almeida (PMDB) para expressar o que pretende caso seja eleito senador. "Eu consigo juntar gente. Pessoas diferentes, de partidos diferentes, ao meu redor não brigam", disse ontem, durante sabatina realizada pela Gazeta do Povo.

Candidato mais rico do país, com um patrimônio de R$ 740 milhões declarado à Justiça Eleitoral, o peemedebista diz que decidiu fazer política como uma forma de demonstrar indignação e combater a corrupção. Sobre o pedágio, contrariou a tese do parceiro político e candidato a governador, Roberto Requião (PMDB).

"Você não pode ficar usando isso como bandeira política: ‘ou baixa ou acaba’. Você precisa falar mais a verdade", afirmou Almeida, sócio da CR Almeida, que tem participação em concessionárias de pedágio. Ele também se colocou como favorável a que os valores sejam reduzidos, mas ressaltou que é "óbvio" que isso "não é possível".

Com 47 anos, Marcelo Almeida foi vereador em Curitiba e duas vezes suplente de deputado federal. Hoje, Ricardo Gomyde (PCdoB) encerra a série de sabatinas com os candidatos ao Senado.

O sr. declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 740 milhões. Se todo esse valor fosse aplicado na poupança, o sr. receberia R$ 4 milhões por mês de rendimento. Por que trocar esse conforto financeiro para receber um salário de R$ 29 mil por mês como senador?

Primeiro, se eu tivesse R$ 100 mil de patrimônio, eu seria o mesmo Marcelo. Então, não é porque é rico ou pobre que você tem que se candidatar. Você tem que se candidatar se você tem uma indignação, se você tem uma dor. Eu tenho uma dor, e essa dor começou [quando eu era] muito novo, quando eu fui candidato a vereador. Eu já era rico vereador, já era rico quando fui diretor do Detran, então não é isso que me fez ser político. Eu tinha uma indignação, um pavor de gente que é corrupta, vereador que mente, prefeito que desvia. E esses vinte anos da minha conduta é isso. É arrebentar os privilegiados, ir contra os privilégios dos deputados e vereadores, e ser um cara que combate a corrupção. Essa é a minha bandeira nesses vinte anos que começaram na Câmara Municipal [de Curitiba].

A Gazeta do Povo publicou um levantamento essa semana mostrando que, dos dez maiores doadores para campanhas do país, cinco são empreiteiras. Sua família é dona de uma das mais importantes, o Grupo CR Almeida. O sr. não vê um conflito ético em se candidatar?

O que eu vejo é o seguinte: quem é favor da reforma política? Quem é a pessoa, o deputado federal, que acha que tem que acabar com o financiamento feito por empreiteira, por banqueiro? Sou eu. Eu percebo na pele o quanto é importante todo mundo ficar igual. Todo mundo ter a mesma quantidade de adesivos, a mesma quantidade de combustível. Quer dizer, a pessoa física pode ajudar? Pode. Pode ajudar de que maneira? Com R$ 300,00, R$ 400,00. Pessoa jurídica, não importa se é a Gazeta, se é a CR Almeida, se é o Boticário, se é a Casas Bahia. Por que não estipula um valor para cada um? Particularmente, em duas eleições não me elegi. Porque não uso caixa dois, não sou financiado por empreiteira, não sou financiado por banco, não recebo dinheiro do partido. O que mais tinha que se fazer no Brasil é isso. Uma reforma política, que todo mundo tivesse as mesmas condições. Mesmo sendo o homem mais rico do Congresso, eu não cheguei a deputado federal. Por quê? Não comprei gente, não usei caixa dois e gastei um valor que eu achava que era razoável. Para cima daquilo, no meu entender, já não é uma eleição, já é compra de mandato.

Sim, mas do ponto de vista prático: digamos que o sr. tenha que votar alguma proposta relacionada a mudanças na lei de licitações. Qual vai ser a postura?

Nem precisa, pode pegar o passado. Vamos lá. O André [Gonçalves] sabe disso. Eu sou o deputado federal que mais entende de orçamento, devo ser um dos dez que mais entende de orçamento no Congresso Nacional. Por que eu não entro para a comissão de orçamento? Porque eu sou um homem que tem prudência, tem bom senso. Por que na votação dos portos eu tenho que me ausentar, sabendo que eu entendo muito de porto? Porque o Grupo CR Almeida tem um porto em Santos. Essa é a lei natural, não precisa me avisar que eu não posso entrar numa votação. Eu tenho a fidalguia de não entrar em nenhum lugar que pode ajudar ou prejudicar alguma coisa que o grupo tem. Eu me ausento, tomo falta, para não ter um conflito de interesse.

Esse é um compromisso então?

Passado, né, foi sempre assim. Então eu não vejo problema nenhum quando você tem bom senso.

Similar a um juiz, por exemplo, se declarando impedido de julgar alguma causa. Esse seria o seu comportamento?

Eu, em todas as bolas divididas que tinham alguma coisa que poderia ajudar ou prejudicar, que envolvia alguma coisa das empresas do grupo, eu sempre me ausentei. Jamais você vai achar alguma votação em que eu votei favorável ou contrariamente.

O seu candidato ao governo, Roberto Requião, é o maior crítico do pedágio aqui no Paraná, criando a célebre frase "ou baixa ou acaba". A sua família também tem concessionária de pedágio. Como o sr. vê essa relação?

Se você for para a Europa, você paga pedágio. Depois, o Brasil tomou uma decisão errada no século passado que é crescer sobre pneus, e não crescer sobre ferrovias. Aí chega aqui no estado, primeiro caso, o Paraná não tinha, não sabia [como fazer]. É o ônus de ser pioneiro. Não sabíamos, o Jaime Lerner faz um pedágio, e acaba fazendo isso a todos nós. Então, o pioneirismo do pedágio faz com que tenha isso [preços altos]. Sempre que se pergunta isso parece que só tem pedágio no Paraná. Entre baixa ou acaba, eu ficaria com o baixa. Eu acho um pavor um país que não tenha mais pedágio. Claro que o pedágio é caro. Eu sempre digo, se eu fosse dono eu baixava. Mas eu não sou dono. Eu sou dono de uma empresa que tem ações na bolsa de valores. Eu não tenho o dinheiro que ele falou. O André [Gonçalves] faz uma conta rápida: "Ah, ele tem R$ 700 milhões, põe na conta do banco, vai dar 4%". Não existe isso. Não é dinheiro. As pessoas acham que eu tenho R$ 700 milhões.

Mas é o patrimônio declarado.

Não é patrimônio. Isso é uma ação na bolsa. Eu não tenho isso. Isso é diferente. Vamos reduzir de R$ 740 para R$ 370 milhões. Vai dar um rendimento de R$ 1,5 milhão. É uma conta que passa pela cabeça do eleitor. Mas vamos dizer assim, eu não tenho nada. Tenho R$ 200 mil. Eu não posso ser candidato?

Pode.

Aí tenho R$ 700 milhões. Não posso ser candidato? É que é assim: "Por que você é candidato se você é rico?" Você já colocou assim, se é para ele ir para a política, é para ganhar dinheiro.

Não foi essa a premissa. Foi a lógica de subsistência. Por que uma pessoa deixa uma opção que é mais confortável para a sua família?

É que eu gosto do que eu faço. Eu amo o que eu faço. Eu faço por vocação, eu não faço por profissão. Eu faço por paixão. Podia ter outra situação, podia morar em outro país. Eu não quero. Eu quero morar aqui. Eu quero viver em Curitiba, eu quero ser senador do Paraná. Eu quero. Se eu vou ser é outra coisa, mas eu quero. É uma paixão, uma vocação, eu faço porque gosto. Eu me financio. Nunca vou ajudar a CR Almeida, não vou ajudar empreiteira, não vou ajudar banco. Eu não tenho dono, eu sou independente, então eu faço como manda meu coração. E eu acho, como sou um homem dos livros, que o que eu faço é muito mais perto da verdade do que da mentira. E é isso. Sobre o "baixa ou acaba", eu acho que tem que baixar. Dá para baixar? É óbvio que não dá para baixar. Mas não pode ficar usando isso como uma bandeira política. "Ou baixa ou acaba". Você precisa falar mais a verdade. Também você não pode trazer um problema jurídico, uma insegurança para todo mundo. Vai acabar isso, depois abaixa, faz outro pedágio, mas se pudesse baixar eu também gostaria, sou o primeiro a assinar.

Mas o sr. acha então que essa negociação que o atual governo vem fazendo nos últimos quatro anos para repactuar esses contratos não vai ter futuro?

Acho que era mais fácil me chamar para sentar na mesa do que eles. Não dá para mentir. Acho que tem que parar de demagogia, falar a verdade. É caro? É caro. É pioneirismo? É pioneirismo. A gente paga caro? Paga caro por ser o primeiro. Só que tem que mudar esse assunto.

Esperar acabar o contrato e fazer um novo então, em tese é isso?

Eu acredito.

Não é uma contradição em relação ao que defende o cabeça de chapa, Roberto Requião?

Por que ele pode me levar para o Detran, já com pedágio? Por que eu posso cuidar do órgão mais corrupto, que mais tem dinheiro? Passo pelo Detran, acaba a corrupção, deixo dinheiro no Detran, invisto R$ 400 milhões em estradas esburacadas no Paraná, gasto R$ 22 milhões para reformar, colocar sinalização vertical e horizontal nas cidades, R$ 137 milhões para recuperar a Polícia Militar do Paraná, faço o Mutirão Pela Vida, converso com mais de cem mil crianças... E eu já era dono de pedágio, já era o filho do Cecílio Almeida. O que ele tem por mim? Confiança, fidelidade e amizade. Ele sabe que eu sou competente, que eu não vou roubar e que não vou deixar os outros roubarem. Eu ainda sou, no PMDB, uma peça incorruptível. Que não se curva, que não faz parte da quinta coluna, que são os homens que se vendem.

Então não há contradição nenhuma? Em relação a uma aliança com o Requião?

Mas esse é o meu casamento. Eu só casei com ele. É igual a minha mulher, eu não tenho outra mulher. Eu casei com ele quando tinha 24 anos, com o Requião, como você quer que eu me separe? Ele me fez ser vereador de Curitiba duas vezes. Lá, com ele, aprendi a denunciar a corrupção. Foi lá, que agora todos os jornais dão como a limpeza a saída do ex-presidente da câmara [João Cláudio Derosso, que deixou a presidência da Câmara de Curitiba, em 2012, após denúncias de corrupção]. Mas eu, com 25 anos, com o Requião, ele falou: "vá lá e faça uma ação popular. Entre na justiça contra esse assunto, que vereadores têm três automóveis cedidos pela URBS, e denuncie o esquema de corrupção". Então denunciei. Hoje, vinte anos depois, ganhei uma ação popular. Três ex-presidentes da Câmara, junto com um empresário da cidade, têm que devolver R$ 14 milhões. Mas porque eu tinha lá um pai político, que era o Requião, que me deu sustentação. Aí me traz para ser diretor do Detran, faço a limpa, mostro que o Detran podia ser a grande saída para um governo, consigo mostrar para o Tribunal de Contas do Estado que a inovação é, sim, gastar o dinheiro da taxa do Detran com tudo que envolve trânsito. Consigo fazer isso, que é inovar. Também mudei uma regra do Tribunal de Contas do Estado. Já esse governo não conseguiu. Colocou a taxa três vezes mais alta e não conseguiu passar para a segurança pública. Eu consegui no meu mandato. Aí vou ser coordenador da bancada do Paraná... E por que eu sou candidato a senador? Porque no PMDB eu fiz a diferença na convenção. É o Requião para um lado, o Marcelo Almeida para outro, e eu tive a habilidade de convencer os convencionais de que era melhor ter candidato próprio. Aí, por conseguinte, veio o convite para o Senado.

O que o sr. tem em comum com o Requião e o que os separa?

Eu acho que o Requião, para mim, lembra muito o temperamento do meu pai. A pessoa que eu mais amei na vida e que mais me amou foi o Cecílio. E eu aprendi com ele como é que a gente trata com as pessoas muito inteligentes. Pessoa muito inteligente a gente fica nem muito perto e nem muito longe. Eu sei medir a distância do Requião, eu sei o que o Requião não gosta de ouvir, e eu sei as virtudes e os defeitos do Requião. Por isso, em mais de duas décadas, eu nunca tive sequer um atrito com o Requião. É o homem mais dócil que eu conheço, é o homem mais fácil de conversar, e é o homem no Paraná que ainda, para mim, é incorruptível.

O sr. se apresenta como um novo político, da mudança. Por que escolheu Antonio Anibelli (PMDB), veterano na política, para ser seu suplente?

Primeiro: por que a tua primeira proposta é acabar com os suplentes e acabar com a reeleição dos senadores? Já vou respondendo por aí. Por que tem que ser um mandato de quatro anos e acabar com os suplentes? Primeiro, porque suplente a gente não escolhe, suplentes são escolhidos. E se não são escolhidos pelo partido, às vezes são escolhidos pelos senadores, que geralmente escolhem pessoas que têm dinheiro para pagar a sua campanha. E assim, não por causa do Anibelli, nem por causa do Herculano [Lisboa, outro suplente], que são escolhas do partido, mas eu acho que é uma pena, na saída do senador, o suplente se tornar senador sem a gente saber sequer a vida dele, sem ele nunca ter passado por uma urna. A gente não sabe os princípios éticos e morais de um senador e o povo fica refém desse suplente. E por que mandato de oito anos? Isso eu fui atrás para entender. Por que vereador é quatro, presidente é quatro, prefeito é quatro, deputado federal é quatro? Só porque é câmara alta? Então acho que [deve haver] isonomia. Deixar todos iguais.

Sendo eleito, como seria seu comportamento no Congresso, já que o PMDB é visto como um dos partidos mais fisiológicos, tendo nomes envolvidos em denúncias, como Renan Calheiros. O sr. seria mais um soldado desse grupo? Manteria o status quo lá dentro?

Dos 96 deputados federais, quatro são independentes. Eu sou um dos quatro deputados que votou independentemente do partido pedir ou não. Eu votei contra o orçamento impositivo e o PMDB é a favor de que todos os deputados tenham R$ 15 milhões por ano para ser repassados para as prefeituras. Eu votei contra a mudança de regime da Petrobras, porque eu sabia que ia virar uma caixa de corrupção, que era o regime jurídico. Eu votei contra o PMDB no fim do foro privilegiado, eu acredito que deputado federal bandido tem que ir para a cadeia, e é melhor ser julgado lá no Supremo Tribunal Federal, com Joaquim Barbosa e companhia, agora não mais com ele, do que cair aqui no Tribunal de Justiça. É muito mais difícil comprar aquele colegiado do que comprar alguém no TJ. Então, por ter a minha independência, eu sou, dentro do PMDB, o PMDB do bem. Eu faço o que é correto. Eu sou um PMDB mais parecido com o Pedro Simon. Eu sou o PMDB do Requião, o PMDB do Michel Temer.

No Senado, o PMDB é marcado por ser até mais fisiológico do que na Câmara. Há o grupo do Renan Calheiros, do José Sarney...

Acho que é muito similar à Câmara. É porque a imprensa dá mais ênfase ao Senado. Continuo com a minha independência [caso eleito] no Senado.

Tem como ser independente? A pressão desses grupos é forte...

Vocês têm que me eleger. Me elejam, depois a gente conversa.

E a maior tendência é sempre votar de acordo com as ordens das lideranças partidárias.

A Casa Alta [Senado] tem mais ressonância. Eu acho que vou para um espaço único, por ter menos de meio século de vida, por ser uma pessoa que vem com uma nova maneira de fazer política. Acho que ali eu vou ser ouvido. Mais ouvido do que fui na Câmara dos Deputados. Ali tem mais sapiência, gente mais rodada. É um espaço em que se pode mostrar que se pode fazer política diferente no Brasil.

O portal Congresso em Foco fez, no primeiro semestre de 2010, um levantamento dos deputados federais mais faltosos naquele período. O sr. foi o que mais faltou, de 59 sessões, não compareceu a 28. O que aconteceu?

Não sei se alguém aqui perdeu um pai e um irmão em dois anos. Eu perdi. Quando eu perdi o Cecílio [pai], eu perdi o chão. Eu era o filho que mais o amava e era o filho mais amado por ele. Logo atrás, veio mais a morte de um irmão. Fui à Câmara e falei: eu não consigo. É imensurável a dor. O luto é um negócio endoidecido. Eu preferi ser faltoso do que ser mentiroso. Eu poderia mentir minhas faltas, não ter falta e receber o salário de deputado. Eu preferi faltar pelo luto e não receber o salário. Poderia falar que estava todos os dias em eventos do PMDB para justificar as faltas, como me recomendaram, mas eu não aceitei.

O sr. é um nome pouco conhecido do eleitorado. O que fazer para competir com um candidato há tanto tempo com mandato, como Alvaro Dias ?

Eu não tinha nem carteira de habilitação e o Alvaro já estava na política. Se for para ser um candidato que é de renovação, tem que ser eu, não ele. Porque eu tenho uma maneira de ver o mundo diferente. Você não vê um senador junto com os deputados federais discutindo o Paraná. A diferença entre mim e o Alvaro é que eu estou varrendo para dentro. É que eu tenho um caminho diferente do dele, que é esse caminho de articulador, um homem que constrói pontes, que não tem inimigo. Eu consigo [caso eleito] ser um belíssimo senador para o Paraná, mesmo se for eleito o Beto, a Gleisi ou o Requião. A minha facilidade de falar com a Dilma ou a Marina é muito maior do que a dele. Claro que nesse momento eu vejo que ele é um homem muito conhecido, eu sou pouco conhecido. Mas ainda há tempo de chegar muito perto. Minha fala nos programas eleitorais não é montada, ela vem mais do coração. Eu acredito que eu tenho mais a voz da renovação, do grito que veio das ruas em junho do ano passado, do que o Alvaro.

Nesse sentido, é melhor ser conhecido que desconhecido?

As pessoas querem uma mudança com segurança. Eu seria isso.

O sr. se diz conciliador, de diálogo. Qual é o seu posicionamento neste momento sobre os candidatos a presidente?

Faltava um homem, uma mulher, mais estadista. Com um plano para o Brasil. Gente que tivesse mais a característica da inovação. Alguém que tivesse capacidade de medir o país não só pelo PIB. Gente que tenha uma visão capaz de ir mudando as coisas a cada seis meses e não com o discurso que os três têm. Acho que a Dilma e a Marina chegam ao segundo turno. Eu, particularmente, voto pela minha coligação. Por ser fiel ao PMDB, voto na Dilma.

Sente alguma insegurança caso a Marina seja eleita?

Independentemente, se é presidente, governador, vereador, não poderia ter mais de dois mandatos. Acho que tinha que ser mais oxigenado. A mudança tem um papel fundamental. Por fidelidade ao partido voto na Dilma, mas a gente tinha que experimentar também.

Em quais circunstâncias o sr. é fiel ao partido e quando é independente?

É óbvio, né? Assim: o PMDB decidiu dentro da Câmara separar duas comissões, Educação e Cultura. Fez isso com mais alguns pequenos partidos, graças a alguns cargos que seriam abertos. Aí eu voto contra. Educação e cultura é a alma com o corpo. Outro exemplo: eu votei contra o orçamento impositivo. Isso aí é contra a reforma política. A renovação no Congresso Nacional vai ser muito mais difícil porque os deputados federais vão garantir metade da eleição com dinheiro público, que são as emendas com arrecadação dos impostos.

O que dá para fazer para melhorar a relação entre a União e o estado do Paraná?

Esse é um dos grandes porquês de eu ser candidato. Acho que é o principal. A primeira questão é a do federalismo fiscal. Se você mexer um pouquinho com um assunto criado há 20 anos, que é o Fundo de Participação dos Municípios, você passa a colocar mais R$ 500 milhões para as prefeituras. Hoje há um Fundo Nacional de Segurança no Trânsito, em que 5% de qualquer multa de trânsito vai para ele. Você tem R$ 3 bilhões lá, que devem ser gastos com campanhas de educação, mas que acabam sendo reservados para fazer superávit primário. Dá para trazer esse dinheiro aqui para o Paraná. Tem o Plano Nacional da Educação, que é um momento único para qualquer senador, que vai definir o percentual que as cidades, estados e União vão contribuir para compor os 10% do PIB que vão para educação. Precisamos resolver o problema do mar territorial, para o Paraná não ser um Piauí. São dois únicos estados que estão fora do jogo do pré-sal. Se forem descobertos novos campos do pré-sal, serão os únicos que não vão receber. Por que você não pega as 16 universidades estaduais e federaliza logo todas? Eu não sou da geração do Alvaro e do Requião, mas também não sou da geração de menos de 30 anos. Estou com 47 anos, sou de uma geração intermediária, que descobriu que não dá para fazer política do mesmo jeito. Eu farei essa aproximação do estado com a União com qualquer um [governador ou presidente]. O Alvaro, por exemplo, não vai conseguir fazer com a Dilma, caso ela seja eleita. Temos que ter um senador que una as pessoas.

Como é possível unir a bancada? Um exemplo: na última reunião sobre a questão do mar territorial, feita pelo deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB) no primeiro semestre de 2014, havia só três deputados.

Eu trago a minha experiência de união das pessoas, de vida, de unir família. A minha experiência de ser o homem do PMDB que consegue unir a convenção do partido com o Requião. Sou uma pessoa que não tem qualquer problema com o Alvaro, com o Gomyde. Essa fidalguia de fazer política da cintura para cima. Com uma conversa sincera, sem cera. Eu consigo juntar gente. Pessoas diferentes, de partidos diferentes, ao meu redor não brigam. Eu saí da coordenadoria da bancada do Paraná, mas continuam me ligando, me chamando para participar de algumas discussões. E eu não sou nem deputado mais.

O que sr. entende como fundamental para a reforma política?

Fundamental é o que é possível. O Brasil melhora se a próxima presidenta, pelo jeito uma das duas [Marina Silva ou Dilma Rousseff], já queimar o cacife nos primeiros três meses. Como se fosse Réveillon, carnaval, pega os primeiros três meses e já coloca as reformas mais difíceis para serem aprovadas. Só é aprovada com um reforma constituinte. Tem de criar um outro grupo para cuidar, como foi feito na constituição de 1988. É para dar independência aos parlamentares, para não serem ligados a grupos econômicos, com independência para legislar e fiscalizar o Executivo. Minha tese é a seguinte: no Acre um candidato deputado federal tem de gastar menos do que em São Paulo. E São Paulo vai gastar mais do que no Paraná. Só há duas maneiras. Vamos estipular que vai ser X mil reais na campanha do Acre e X mil reais na campanha em São Paulo. Divide em duas pessoas, físicas e jurídicas. O dono de uma grande empresa está na mesma coluna do dono de uma banca de revista. Do outro lado as pessoas físicas. O que a gente faz? Estipula valor. Como pessoa jurídica pode doar apenas R$ 7 mil. Na pessoa física, pai, sogro, irmão, amigo, você pode pegar dois salários mínimos, um salário mínimo. No meu entender essa seria a grande sacada para começarmos a ter uma reforma política. E você não pode mais ter apoio das grandes empresas. O interesse delas é outro.

Mas dá para fazer para fazer com uma Constituinte exclusiva? O Michel Temer, vice-presidente da República, diz que não dá.

Será que não dava ou ele não queria? Não lembro. Essa é a dúvida.

O argumento dele é que legalmente não é possível.

É. Aquela ideia do referendo também não é por aí. O Congresso vai escutar o referendo popular e mudar coisas que são maquiagens, não são coisas importantes.

O Requião talvez tenha sido o maior crítico do governo Beto Richa no Congresso. O sr., atuando com ele no Senado, conseguiria manter o diálogo mesmo com o seu colega de partido adotando uma linha diferente?

Essa possibilidade não tem. Essa possibilidade não existe.

Por quê?

Requião governador.

Vamos pegar um caso concreto. Digamos que ele não seja o governador, seja o Beto Richa e for colocado em votação mais um empréstimo internacional como esses que foram colocados recentemente. Qual vai ser a sua postura?

Vou fazer o que fiz neste ano como coordenador da bancada. O governador tem de fazer a lição de casa. Só quem mudou o Detran fui eu. Tem de cortar na própria pele. O governador tem de ter uma habilidade para entender esses números, porque não pega esse dinheiro. Entender a história do Badep, ler a história da Codepar, entender o que era o Paraná na década de 60. A causa está na década de 60, a consequência em 2014. Assim é a vida. Entender o Credit Suisse, entender o que é o BID, estudar o que o BIRD, BNDES e o Banco do Brasil. Lei de Responsabilidade Fiscal. Esse assunto não tem quem está certo e quem está errado. É uma bagunçada tão grande... Percebi que faltou uma ajuda do Senado, mas faltou o governo fazer o dever de casa. Eu, em alguns momentos, fiquei pensando: será que dá para emprestar mesmo? Se o dinheiro do empréstimo for para pagar custeio, é mais ou menos como a dona de casa sair, pegar dinheiro e comprar feijão, arroz e pão. Será que o estado não está fazendo a lição de casa? Eu, particularmente, se for senador da República e o Beto Richa governador do estado, eu vou ajudar a governar esse estado. Como engenheiro civil. É fazer conta.

O compromisso então é de estudar as propostas a fundo?

O compromisso é tão fácil de entender, qualquer cidadão simples, sem curso, entende. Você só pode pegar dinheiro da União ou dinheiro internacional se você fizer a lição de casa. Qual é a lição de casa? Dar uma demonstração de que nos últimos 90 dias você parou de contratar, não repassou a inflação, cortou os cargos comissionados... É essa demonstração que libera o dinheiro. Se não mostrar que está fazendo a lição de casa, não se libera o dinheiro. Seis meses de dedicação, de arrumar a casa, você resolve esse assunto.

Mas foi feita a lição de casa?

Não, não, não. Não foi feita. Vou voltar no Detran, três anos sem aumentar taxa, sem triplicar taxa e deu para ser um grande instrumento de melhoria de vida no Paraná.

Qual é a proposta legislativa que considera mais importante para o Paraná?

Eu sou o Senador das cidades. Então qual é a primeira?

Pacto federativo?

Federalismo fiscal. Pacto federativo é uma coisa. Dentro do pacto federativo tem o federalismo fiscal, que é a mudança dos critérios do repasse dos fundos. Liberar um pouco os prefeitos. Segundo, tem de ter uma lei de compensação. Eu tenho um projeto que é cuidar mais das cidades. O IPVA, por exemplo, tem de ser repassado para as cidades para ser gasto com mobilidade urbana, que não fique no caixa único do governo.

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