
Tachada de gestora inexperiente, enfrentando um racha no PSB e vendo expostas as divergências programáticas que tinha com Eduardo Campos. Os primeiros dias da campanha presidencial de Marina Silva (PSB) contrastam com a competitividade eleitoral que as pesquisas atribuem à ex-senadora. Apesar de o plano de governo de 2010, quando foi candidata pelo PV, ser bastante semelhante ao texto apresentado neste ano pelo PSB, paira sobre ela um enorme ponto de interrogação. Como seria um governo Marina Silva? Por enquanto, ainda não é possível dar uma resposta definitiva.
O cacife obtido por Marina há quatro anos, quando recebeu quase 20 milhões de votos, garantiu a ela relativo poder de decisão na elaboração das diretrizes do plano de governo entregues pelo PSB ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o texto definitivo só será lançado no próximo dia 29. No geral, os programas de 2010 e de 2014 trazem bastante semelhanças, a ponto de o PSB ter dado destaque a itens como sustentabilidade e empregos verdes (veja mais nesta página).
Mesmo sendo uma estranha no ninho, a ex-senadora teve em Eduardo Campos uma espécie de fiador. "O Eduardo sempre foi aglutinador. Além disso, ele era visto por vários setores como confiável. Por isso, quando a Marina veio para o partido, ele foi o fiador dela", afirma Severino Araújo, presidente da legenda no Paraná.
Sem a figura do ex-governador de Pernambuco, porém, a desconfiança de correligionários e, sobretudo, do setor produtivo do país recaiu sobre a nova candidata do PSB à Presidência. Em primeiro lugar, Marina nunca ocupou um cargo eletivo no Executivo. Mesmo pessoas que conviveram com ela no Congresso e a classificam como séria e competente dizem ter receio da capacidade gerencial da ex-senadora. Há quem cite, por exemplo, o fato de ela ter sido incapaz de obter o registro formal da Rede Sustentabilidade a tempo de disputar a eleição deste ano. Além disso, desde a morte de Campos, começaram a vir à tona as primeiras divergências entre ele e Marina. Uma delas dizia respeito à autonomia do Banco Central, defendida pelo ex-governador pernambucano. Agora, na cabeça de chapa, a ex-senadora tem manifestado que vai seguir a posição de Campos nesse tema e, na tentativa de conseguir a simpatia do setor produtivo, vem se cercando de conselheiros econômicos liberais.
"A declaração dela é que vai assumir todos os compromissos do Eduardo. O mercado visualizando as pessoas que estão ao lado dela vai ter muito mais segurança", disse Maria Alice Setubal, coordenadora do programa de governo de Marina, ao jornal Folha de S. Paulo. "[O importante é] escolher as pessoas certas. E a Marina é uma pessoa de equipe."
Agronegócio
Também pesa contra Marina a restrição em receber doações de campanha de empresas de armas, bebidas, tabaco e agrotóxicos. Soma-se a isso a histórica defesa da causa ambientalista e a consequente resistência dela em relação ao agronegócio um dos principais setores econômicos do país , que, inclusive, a motivou a deixar o Ministério do Meio Ambiente. "Ela está pensando que esses setores vão se ajoelhar aos pés dela. Ela tem obrigação de conhecer e dialogar com o país como um todo ou não vai chegar a lugar nenhum", critica Severino Araújo. "O Eduardo nunca foi contra o ambientalismo, mas não se pode demonizar o agronegócio."
Candidata prega fim da reeleição
Folhapress
A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, assumiu ontem compromisso com o fim da reeleição e afirmou que o presidente da República "não deve ser tratado como propriedade de um partido". "Farei um mandato de apenas quatro anos", disse ela, que foi oficializada ontem como líder da chapa "Unidos pelo Brasil" pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em substituição a Eduardo Campos, morto na semana passada depois de ameaçar desistir da coligação, o PSL segue apoiando Marina.
As declarações ocorrem em meio à crise que acomete a campanha da ex-senadora. Alguns integrantes do PSB estão insatisfeitos com a oficialização de sua candidatura porque acreditam que, se eleita, Marina não irá permanecer no partido após a criação da Rede. A candidata já deixou claro que migrará para seu grupo político assim que este conseguir seu registro na Justiça Eleitoral.
"Não devemos tratar o presidente da República como propriedade de um partido. A sociedade está dizendo que quer se apropriar da política e as lideranças políticas têm que entender que o Estado não é um partido e que o governo não é o Estado", disse a presidenciável, que teve registrada ontem a oficialização da chapa.
Coordenação
Após a saída do primeiro-secretário do PSB, Carlos Siqueira, da coordenação-geral da campanha, o partido indicou a deputada Luiza Erundina para substituí-lo Marina nomeou Walter Feldman para ser o adjunto. Bazileu Margarido, um dos aliados mais próximos a ex-senadora, assumiu o comitê financeiro ao lado de Márcio França, indicado pelo PSB.




