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Entrevista

"Marina é desprovida de condições de representar o legado de Campos"

Como o senhor tem visto os desentendimentos entre a Marina e pessoas ligadas à campanha do Eduardo Campos?

Não me surpreendi, porque essas divergências já aconteciam. Veja o exemplo da autonomia do Banco Central. Sempre falei ao Eduardo que não tinha boa impressão de qualquer pessoa que discordasse publicamente das posições dele enquanto candidato e líder do partido. Isso não ajudava em nada, só atrapalhava.

O senhor discorda da postura dela de se recusar a fazer campanha em estados como São Paulo e Paraná, onde o PSB é aliado do PSDB?

O Walter Feldman [novo coordenador adjunto da campanha] disse que 90% da Rede voltou para a campanha. E essas pessoas estavam aonde, não estavam com o Eduardo? Ela precisa de humildade para entender que não manda no partido. Esse comportamento desagregador dela está me deixando revoltado.

O partido errou em escolhê-la como candidata?

Como vice, é natural que ela se credenciasse a presidente. Mas a minha preocupação é que precisamos representar o legado do Eduardo, e ela é desprovida de quaisquer condições de representar o legado dele. É evidente que ela não é uma pessoa sem importância por tudo que já fez, mas tem limitações, é limitadíssima para isso. Vou abraçar a candidatura dela, mas lamento muito esse quadro que está aí.

Severino Araújo, presidente do PSB do Paraná

Veja o que dizia o plano de governo de Marina Silva na eleição de 2010 e o que diz o texto de Eduardo Campos em 2014. As semelhanças são muitas, mas a versão deste ano é muito mais genérica, o que reforça a incógnita em torno de um eventual governo da ex-senadora.

Marina 2010

Respeito a metas de inflação, responsabilidade fiscal e câmbio flutuante. Redução do nível de endividamento do setor público.

Reforma tributária que busque a simplificação do sistema e a redução dos impostos sobre a folha de pagamento.

Institucionalização do Bolsa Família.

Universalização do acesso dos usuários do SUS ao Programa Saúde da Família.

Construir do Sistema Nacional de Educação, além de garantir o crescimento do número de matrículas e evitar a evasão de alunos no ensino médio.

Dar ênfase a ferrovias, hidrovias e sistemas híbridos, combinando biocombustíveis e eletricidade.

Direcionar o agronegócio para o aumento da produtividade aliado à conservação e restauração dos recursos naturais.

Campos 2014

Reforma política que permita candidaturas avulsas e acabe com a reeleição para o Executivo.

Reforma administrativa para diminuir a quantidade de cargos em comissão.

Reforma tributária que assegure maior autonomia a estados e municípios.

Ampliar o uso de fontes limpas e renováveis e implementar a economia de baixa emissão de gás carbônico para modernizar a agricultura.

Investimento de 10% do PIB na educação e criação do Sistema Nacional de Educação. Erradicar o analfabetismo absoluto.

Reforçar o SUS, a atenção básica de saúde e o atendimento às famílias.

Priorizar o transporte público e ampliar as ciclovias.

Combater o tráfico de armas e drogas e reforçar o policiamento na fronteira.

Reduzir o déficit habitacional, ampliar os investimentos em saneamento básico e extinguir os lixões.

  • A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) é a nova coordenadora da campanha presidencial de Marina Silva

Tachada de gestora inexperiente, enfrentando um racha no PSB e vendo expostas as divergências programáticas que tinha com Eduardo Campos. Os primeiros dias da campanha presidencial de Marina Silva (PSB) contrastam com a competitividade eleitoral que as pesquisas atribuem à ex-senadora. Apesar de o plano de governo de 2010, quando foi candidata pelo PV, ser bastante semelhante ao texto apresentado neste ano pelo PSB, paira sobre ela um enorme ponto de interrogação. Como seria um governo Marina Silva? Por enquanto, ainda não é possível dar uma resposta definitiva.

O cacife obtido por Marina há quatro anos, quando recebeu quase 20 milhões de votos, garantiu a ela relativo poder de decisão na elaboração das diretrizes do plano de governo entregues pelo PSB ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – o texto definitivo só será lançado no próximo dia 29. No geral, os programas de 2010 e de 2014 trazem bastante semelhanças, a ponto de o PSB ter dado destaque a itens como sustentabilidade e empregos verdes (veja mais nesta página).

Mesmo sendo uma estranha no ninho, a ex-senadora teve em Eduardo Campos uma espécie de fiador. "O Eduardo sempre foi aglutinador. Além disso, ele era visto por vários setores como confiável. Por isso, quando a Marina veio para o partido, ele foi o fiador dela", afirma Severino Araújo, presidente da legenda no Paraná.

Sem a figura do ex-governador de Pernambuco, porém, a desconfiança de correligionários e, sobretudo, do setor produtivo do país recaiu sobre a nova candidata do PSB à Presidência. Em primeiro lugar, Marina nunca ocupou um cargo eletivo no Executivo. Mesmo pessoas que conviveram com ela no Congresso e a classificam como séria e competente dizem ter receio da capacidade gerencial da ex-senadora. Há quem cite, por exemplo, o fato de ela ter sido incapaz de obter o registro formal da Rede Sustentabilidade a tempo de disputar a eleição deste ano. Além disso, desde a morte de Campos, começaram a vir à tona as primeiras divergências entre ele e Marina. Uma delas dizia respeito à autonomia do Banco Central, defendida pelo ex-governador pernambucano. Agora, na cabeça de chapa, a ex-senadora tem manifestado que vai seguir a posição de Campos nesse tema e, na tentativa de conseguir a simpatia do setor produtivo, vem se cercando de conselheiros econômicos liberais.

"A declaração dela é que vai assumir todos os compromissos do Eduardo. O mercado visualizando as pessoas que estão ao lado dela vai ter muito mais segurança", disse Maria Alice Setubal, coordenadora do programa de governo de Marina, ao jornal Folha de S. Paulo. "[O importante é] escolher as pessoas certas. E a Marina é uma pessoa de equipe."

Agronegócio

Também pesa contra Mari­­na a restrição em receber doações de campanha de empresas de armas, bebidas, tabaco e agrotóxicos. Soma-se a isso a histórica defesa da causa ambientalista e a consequente resistência dela em relação ao agronegócio – um dos principais setores econômicos do país –, que, inclusive, a motivou a deixar o Ministério do Meio Ambiente. "Ela está pensando que esses setores vão se ajoelhar aos pés dela. Ela tem obrigação de conhecer e dialogar com o país como um todo ou não vai chegar a lugar nenhum", critica Severino Araújo. "O Eduardo nunca foi contra o ambientalismo, mas não se pode demonizar o agronegócio."

Candidata prega fim da reeleição

Folhapress

A candidata do PSB à Presi­­dência, Marina Silva, assumiu ontem compromisso com o fim da reeleição e afirmou que o presidente da República "não deve ser tratado como propriedade de um partido". "Farei um mandato de apenas quatro anos", disse ela, que foi oficializada ontem como líder da chapa "Unidos pelo Brasil" pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em substituição a Eduardo Campos, morto na semana passada – depois de ameaçar desistir da coligação, o PSL segue apoiando Marina.

As declarações ocorrem em meio à crise que acomete a campanha da ex-senadora. Alguns integrantes do PSB estão insatisfeitos com a oficialização de sua candidatura porque acreditam que, se eleita, Marina não irá permanecer no partido após a criação da Rede. A candidata já deixou claro que migrará para seu grupo político assim que este conseguir seu registro na Justiça Eleitoral.

"Não devemos tratar o presidente da República como propriedade de um partido. A sociedade está dizendo que quer se apropriar da política e as lideranças políticas têm que entender que o Estado não é um partido e que o governo não é o Estado", disse a presidenciável, que teve registrada ontem a oficialização da chapa.

Coordenação

Após a saída do primeiro-secretário do PSB, Carlos Siqueira, da coordenação-ge­ral da campanha, o partido indicou a deputada Luiza Erundina para substituí-lo – Marina nomeou Walter Feldman para ser o adjunto. Bazileu Margarido, um dos aliados mais próximos a ex-senadora, assumiu o comitê financeiro ao lado de Márcio França, indicado pelo PSB.

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