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Nestas próximas duas semanas, os candidatos que passaram ao segundo turno das eleições municipais nas capitais e principais cidades de seus estados usarão, como uma de suas armas eleitorais, o peso das máquinas federal, estadual e municipal, além do prestígio pessoal da presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Lula, de governadores e prefeitos.

Há, no entanto, prós e contras nesses apoios, pois dependem muito também da popularidade do governo atual. E, por mais que alguns candidatos explorem à exaustão o apoio que têm dos governantes, analistas avaliam que na curta campanha do segundo turno o impacto da máquina pública é menor. Mas pode ter efeito grande, até devastador, se o comandante dessa máquina gera fato negativo.

Prioridade das prioridades, Lula e Dilma jogarão todas as fichas para eleger Fernando Haddad (PT), em São Paulo. Para bater José Serra (PSDB), terão que neutralizar o apoio do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e do prefeito, Gilberto Kassab (PSD). No caso do prefeito, a máquina pode ajudar, mas a desgastada imagem dele, nem tanto.

O mesmo acontece em Fortaleza, onde a gestão mal avaliada da prefeita petista Luiziane Lins pode atrapalhar o candidato Elmano de Freitas (PT), que disputa com Roberto Cláudio (PSB). Este tem o apoio da máquina estadual do governador Cid Gomes. No caso de Elmano, o jeito é apelar para gravações de apoio de Dilma, que não pretende ir a Fortaleza, para não entrar na briga com aliados, e para a participação de Lula em comício.

Os irmãos Cid e Ciro Gomes, do PSB, esperam que Dilma continue fora da guerra na capital cearense. "Até o momento, a presidente Dilma tem tido um comportamento ético exemplar, e o peso da máquina federal aqui é zero. Já Lula tem agido aqui como chefe de facção. Para a prefeita Luiziane Lins, não há limites entre o público e privado nessa campanha. Está coagindo 26 mil funcionários terceirizados a votar no candidato dela", diz o ex-deputado Ciro Gomes, um dos coordenadores da campanha de Roberto Cláudio, que foi ao segundo turno atrás de Elmano.

Já entre os tucanos paulistas há o receio do uso político de problemas antigos e persistentes em áreas sensíveis como segurança e transportes, de responsabilidade das máquinas municipal e estadual, para abalar a campanha de Serra. Além de abortar uma ameaça de greve do metrô orquestrada pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo, ligado a CUT, na véspera do primeiro turno, integrantes do governo estadual dizem que Alckmin está reforçando o policiamento e ações na área de segurança nesta reta final.

"Sim, o aumento da violência na capital tira votos de Serra. O PSDB está perdendo o controle da segurança pública em São Paulo. Violência policial. Coronel Telhada Vereador. Mortes", provoca o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), referindo-se à eleição do coronel Paulo Telhada, ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), como vereador pelo PSDB. O ex-policial tem, segundo denúncias, um histórico de mortes em ações policiais violentas.

"É lógico que todo mundo fica alerta. Qualquer panezinha no metrô vira um caso eleitoral. Mas o Serra está muito bem preparado para o uso político dessas questões. O Geraldo vem tomando as medidas que tomaria independente da eleição, como o aumento do efetivo, a polícia está atenta para evitar que o clima de violência se exacerbe. No mais, Dilma já veio aqui. Lula já plantou bananeira, deu piruetas, fez o que podia fazer para levantar Haddad. Não tem novidades no segundo turno", retruca o secretário de Habitação do governo de São Paulo, Silvio Torres.

Para bater o demista ACM Neto, Dilma e Lula devem ir em também em Salvador, onde o petista Nelson Pelegrino já tem o apoio do governos do estado - que, neste caso, pode pesar contra, já que o governador Jaques Wagner (PT) amarga índices de rejeição expressivos.

Cientistas políticos consideram que o tempo de campanha do segundo turno é muito pequeno para que a presença das máquinas públicas tenham efeito definidor nos resultados da eleição do dia 28 de outubro.

Na eleição de Belo Horizonte, por exemplo, Dilma esteve no palanque de Patrus Ananias, do PT, falou dos investimentos do governo federal na capital e das parcerias que poderia efetuar com o companheiro, mas ele foi derrotado no primeiro turno pelo prefeito Márcio Lacerda, do PSB, este amparado pelo governo do estado.

"O eleitor vota olhando para os problemas do município. Não vejo como o governo federal possa influir. Mas se houver um problema e o governo não conseguir resolver, aí isso gera um desgaste (para o candidato dele)", diz o cientista político Cláudio Couto, professor do curso de administração pública da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.

Em Manaus, onde Lula e Dilma querem derrotar o tucano Artur Virgílio, o apoio da máquina não significou sucesso no primeiro turno. Com o ex-presidente Lula em seu palanque, mensagem de apoio gravada pela presidente Dilma Rousseff e andando a tiracolo com o governador Omar Aziz (PSD), a candidata do PCdoB à prefeitura, senadora Vanessa Grazziotin, amargou um segundo lugar vinte pontos percentuais atrás do candidato do PSDB.

De tanto a comunista martelar a aliança com os governos estadual e federal, o feitiço parece ter virado contra o feiticeiro. Seus concorrentes exploraram a imagem de um poste, de uma pessoa que não conseguiria andar com as próprias pernas. A campanha de Vanessa conseguiu tirar do ar uma propaganda do candidato do PR, Henrique Oliveira, que a mostrava como uma marionete.

"Eu vejo isso como uma tentativa não só de diminuir minha imagem, mas a própria questão da mulher. Isso é algo que não prospera, na minha opinião, mas você tinha nove candidatos falando disso", justifica a candidata do PCdoB.

No segundo turno, uma das estratégias da senadora é tentar colar no adversário tucano o símbolo de continuidade da gestão Amazonino Mendes (PDT), atual prefeito, que amarga altos índices de rejeição . O PDT apoia Virgílio, embora não esteja coligado, mas Amazonino, pessoalmente, não declarou seu voto.

"A máquina da prefeitura está trabalhando para ele (Virgílio). Ele é financiado pelo cartel de ônibus, pelo esquema do lixo, pela empresa envolvida no escândalo da água. No primeiro turno ele conseguiu esconder isso", afirmou o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), padrinho político da candidatura de Vanessa, explorando problemas locais.

Amazonino ficou 49 dias em São Paulo, internado no hospital Sírio Libanês com problemas cardíacos, e voltou para Manaus quatro dias antes do primeiro turno das eleições. O prefeito disse que entraria na campanha apenas no segundo turno.

Virgílio fica em cima do muro ao falar sobre o apoio branco de Amazonino. Diz que, se o prefeito quiser votar nele, se sentirá honrado, mas tenta jogar o desgaste no colo da comunista ao lembrar que o vice da chapa adversária, Vital Melo (PT), era secretário municipal de Trabalho de Amazonino até abril.

Na tentativa de alavancar a candidata do PCdoB, Dilma e Lula irão a Manaus participar de um comício na próxima quinta-feira. Em 2010 Lula também se empenhou pessoalmente para derrotar Virgílio, que perdeu a vaga de senador para Vanessa.

Apesar de a comunista ser o nome do Palácio do Planalto, PSB e PR - aliados do governo Dilma - fecharam apoio ao tucano no segundo turno. Pesou na decisão mágoas acumuladas com a presidente e com Lula, além de divergências locais com a senadora.

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