
O dinheiro repassado pelos partidos para financiar as campanhas dos candidatos paranaenses se concentra na mão de poucos concorrentes. Do total de 1.192 candidatos do estado nas eleições proporcionais (deputado federal e estadual), apenas 18,8% (225) receberam alguma doação partidária, segundo a última prestação parcial de contas das campanhas divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No levantamento feito pela reportagem, foram consideradas as doações de partidos (diretório estadual e nacional e comitês) e das coligações majoritárias.
INFOGRÁFICO: Confira o número de candidatos paranaenses que receberam doações
Dos 225 concorrentes que estão sendo financiados pelos partidos, 64% receberam até R$ 10 mil. O restante das doações varia de R$ 12 mil a R$ 1,15 milhão e, em geral, são beneficiados os candidatos que já têm cargo público, carreira política consolidada ou são conhecidos na área que atuam, como comunicadores e esportistas. Com maior potencial de votos, esses concorrentes também recebem das siglas maior apoio e estrutura para campanha. Dos 31 que receberam mais de R$ 100 mil, por exemplo, apenas três não têm cargo eletivo ou público.
Dos 204 candidatos da coligação Paraná com Governo, do candidato ao governo Roberto Requião (PMDB), apenas seis (3%) receberam doações do partido ou da chapa da qual fazem parte. As doações variam de R$ 256,30 a R$ 595 mil. De acordo com a coligação, os demais candidatos também receberão doações, mas os valores só vão constar da última prestação de contas. "É um valor estimado em material de campanha e não em dinheiro", explica Luiz Fernando Delazari, assessor jurídico da campanha de Requião.
Já na coligação Paraná Olhando Pra Frente, da candidata Gleisi Hoffmann (PT), 31 candidatos (17%) do total de 181 obtiveram alguma doação partidária. O menor valor foi de R$ 590 e o maior de R$ 712,5 mil. Por meio da assessoria de imprensa, a coligação informou que o partido tem a liberdade de escolher para quem faz as doações. Segundo a nota, o que acontece é que algumas empresas preferem doar para o partido e não diretamente para os candidatos.
Na coligação Todos Pelo Paraná, do candidato à reeleição Beto Richa (PSDB), as doações se concentraram na mão de apenas 139 candidatos, ou seja, 20% do total de 686 receberam algum valor das siglas ou da chapa. Os repasses variam entre R$ 1,02 e R$ 1,15 milhão. De acordo com o coordenador financeiro da coligação, Juraci Barbosa, o partido não realiza doações para os candidatos, apenas efetua o repasse. "Às vezes os doadores não querem doar diretamente para o candidato, eles preferem que saia pelo partido", argumentou. Segundo ele, o valor já vem carimbado. "A pessoa doa para o partido, mas diz que quer que o dinheiro vá para o candidato Y ou X." Dentre as doações, há valores que chamam a atenção: 66 pessoas receberam da coligação o valor de R$ 1.150. De acordo com Barbosa, as doações são realizadas de maneira justa, por isso o valor é igual.
Por necessidade
Para o cientista político, David Fleischer, da Universidade de Brasília, as doações são direcionadas a apenas alguns candidatos específicos. "Elas são feitas por necessidade, para candidatos que buscam a reeleição ou para aqueles mais competitivos. É uma decisão da liderança do partido", afirma.
Já para o cientista político Fabrício Tomio, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), além das escolhas por candidatos mais expressivos, também é comum que partidos menores sejam controlados por um representante que direciona as doações para candidatos de sua preferência. "Especialmente em partidos menores, alguns candidatos também são presidentes estaduais ou grandes lideranças e controlam os recursos. E acabam utilizando [o partido] como uma franquia pessoal", explica.
Colaborou Taiana Bubniak.
Distribuição
Candidato do PP doou R$ 236 mil para 18 concorrentes
Prática comum na doação de campanhas é o repasse de valores de candidatos a deputado estadual ou federal para outros concorrentes aliados. Em geral, os doadores têm maior poder aquisitivo ou já receberam dinheiro de seu partido. Entre eles, Nelson Padovani (PSC) é o campeão. O candidato doou a quantia de R$ 295 mil para outros nove aliados. Em seguida, vem Nelson Meurer (PP), que ofereceu um montante de R$ 236 mil para 18 candidatos. E, na sequência, está Ricardo Barros (PP), que contribuiu com R$ 231 mil para 13 concorrentes, incluindo a filha Maria Victoria, candidata a deputada estadual.
Padovani também é o maior doador da sua própria campanha. Ele investiu R$ 913 mil para sua reeleição a deputado federal. Em seguida, está Valdir Rossoni (PSDB), que utilizará R$ 900 mil do próprio bolso. Nereu Moura (PP) investiu de seu próprio bolso um total de R$ 470 mil em sua campanha.




