O número de abstenções e votos brancos e nulos foi o maior nas eleições curitibanas desde 2000, quando o pleito passou a ser informatizado (veja os dados no gráfico). Ao todo, 422.153 eleitores não confirmaram voto em Rafael Greca (PMN) ou Ney Leprevost (PSD) no segundo turno das eleições municipais. Com o grande número de “não votos”, Greca foi eleito pela escolha de 35,8% dos 1,2 milhões de eleitores curitibanos.
Entre os motivos que podem justificar este grande número de abstenções e votos brancos e nulos há questões de ordem prática e política.
Do ponto de vista logístico, um aspecto que preocupou o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) ao longo das últimas semanas, mas que acabou gerando poucos problemas neste domingo foi o remanejamento de locais de votação em razão da ocupação das escolas estaduais. A disponibilização de ônibus para transportar os eleitores que foram ao antigo local de votação e as instruções dadas por servidores do TRE-PR e soldados da Força Nacional em frente aos colégios ocupados amenizaram os contratempos.
Outro fator que pode ter colaborado com o aumento no número de abstenções neste segundo turno é o feriado do dia do servidor público, comemorado na sexta-feira (28). Os mais de 33 mil servidores municipais de Curitiba, por exemplo, estão de folga até a próxima quarta-feira (2).
Entretanto, como alertou o cientista político Luiz Domingos Costa em matéria publicada pela Gazeta do Povo na quinta-feira (27), as questões práticas serviriam mais como uma desculpa para que o eleitor já desanimado com a política não fosse votar.
Na sede do TRE-PR, depois do anúncio da vitória, Rafael Greca afirmou que é dever dos políticos reencantar as pessoas com a política. Segundo ele, há muitos eleitores desiludidos com velhas bandeiras políticas que foram envolvidos na operação Lava Jato.
Já para Ney Leprevost, os ataques trocados entre os candidatos durante a campanha eleitoral colaboraram para o número de abstenções e voto inválidos. “Eu acredito que os nulos e brancos se devem muito ao tom que a campanha ganhou nesse segundo turno. Nunca se viu uma campanha mais baixa, com mais agressões”, afirmou.
Segundo André Ziegmann, outro cientista político ouvido pela reportagem, a grande causa para o grande número de “não votos” é o desgaste e descrédito das lideranças políticas. O que reforça essa tese, de acordo com Ziegmann, é o fato de este não ser um fenômeno exclusivo de Curitiba.