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| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

No primeiro dia de depoimentos da CPI da Petrobras em Curitiba, cinco dos sete convocados permaneceram em silêncio. Somente o doleiro Alberto Youssef, principal delator da Operação Lava Jato, e Iara Galdino, que trabalhava com doleiros ligados a Youssef, falaram.

Youssef sustenta que Planalto sabia de corrupção, mas diz não ter provas

O doleiro Alberto Youssef repetiu em depoimento a integrantes da CPI da Petrobras que o conhecimento do Palácio do Planalto - em referência à presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula - sobre o esquema de corrupção na Petrobras é uma assunção dele. “A opinião é minha, agora, provas, eu não tenho”, disse aos parlamentares.

Youssef repetiu que ouvia do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa em algumas ocasiões que ele esperava “notícia do Palácio”. E explicou que isso somado ao envolvimento do então ministro das Comunicações, Paulo Bernardo (PT), em desvios para campanha de sua mulher Gleisi Hoffmann (PT-PR) a senadora em 2010, e a partir do episódio em que o então presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli pediu repasse de R$ 6 milhões à agência Muranno Marketing Brasil, com anuência do então presidente Lula, são evidências claras de que a Presidência sabia do esquema do chamado petrolão.

Pressionado pelo deputado Waldir Soares (PSDB-GO), Youssef evitou responder quem seria o líder global do esquema. Ele repetiu ser apenas uma “pequena engrenagem” e que, na parte do esquema que entregava, o líder era o deputado José Janene (PP-PR), hoje falecido. “Mas quem era o líder, quem levou Janene, quem autorizou colocar Paulo Roberto Costa (na diretoria da Petrobras)?”, questionou Soares. “Quem nomeia é o Planalto, se o Planalto era o líder, aí eu não sei”, respondeu Youssef.

Pastel

O doleiro foi questionado por Waldir Soares (PSDB-GO) sobre como foi de vendedor de pastel na infância, em Londrina, para operador do esquema bilionário de corrupção na Petrobras. Youssef foi evasivo e não foi pressionado a dar maiores explicações. “Tem coisas na vida da gente que não tem como explicar. Às vezes elas acontecem naturalmente e foi o que aconteceu”, respondeu.

Youssef afirmou ter ouvido relatos de que o ex-presidente Lula chamava o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa de “Paulinho”. Ele também confirmou ter ouvido dizer que Paulo Roberto foi ao casamento da filha da presidente Dilma Rousseff, Paula Araújo Rousseff.

Em depoimento de quase quatro horas, Youssef voltou a afirmar, entre outros fatos já trazidos em sua delação, que o Palácio do Planalto sabia do esquema de desvio de dinheiro em obras da Petrobras, mas disse não ter provas do fato.

“A opinião é minha. É o meu sentimento. Agora, prova, não tenho”, declarou.

CPI DA PETROBRAS: Confira como foi o primeiro dia de depoimentos em Curitiba

Já Iara, que foi condenada a quase doze anos de prisão por evasão de divisas e corrupção, disse à CPI que era um “braço direito” da doleira Nelma Kodama e seu empregado Lucas Pacce Júnior, e afirmou que não sabia da origem ilegal do dinheiro movimentado nas empresas que ela abria.

Os outros cinco convocados, todos presos em Curitiba -o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, o lobista Fernando Soares Baiano, o operador Mario Goes e os empresários Adir Assad e Guilherme Esteves- optaram por ficar calados.

“Fica prejudicado o trabalho, certamente. Quem falou mais foi o Youssef, mas nada de novo; foi mais do mesmo”, disse o relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ).

O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) discorda: diz que o depoimento do doleiro foi “demolidor”. “Ele apontou uma cadeia de comando que vai até o topo do governo federal”, disse.

Para o presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), mesmo com a repetição das informações conhecidas por parte de Youssef, houve uma evolução, especificamente quanto às discordâncias entre o doleiro e outros depoentes que já falaram na CPI.

“Nós podemos evoluir para as acareações, já que ele [Youssef] se dispôs a fazer. Existem informações divergentes, e nós precisamos ir a fundo para saber quem está com a verdade”, afirmou o deputado.

NOVAS INFORMAÇÕES

Motta disse que a CPI ainda pode trazer novidades à investigação, principalmente a partir da contratação da Kroll, empresa de investigação financeira, feita em março deste ano.

“Há fortes indícios de que existem recursos em contas no exterior que não estão no âmbito das delações premiadas”, afirmou o presidente da comissão.

Nesta segunda-feira, Youssef foi questionado pelo deputado Altineu Côrtes (PP-RJ) sobre uma suposta conta corrente dele no exterior, que seria mantida pelo delator em conjunto com o ex-deputado José Janene (PP), morto em 2010.

A informação foi repassada pela viúva de Janene, Stael Fernanda Janene, aos deputados da CPI.

A conta seria sediada em Luxemburgo, e, de acordo com Côrtes, tinha um saldo de 185 milhões de euros -ou cerca de R$ 600 milhões, em cotação atual. Stael acusa o doleiro de, com uma procuração, ter se apropriado deste saldo.

Em depoimento, Youssef negou que tenha tido qualquer conta conjunta com Janene. “Não procede; não tenho conhecimento disso. Nunca tive conta conjunta com o deputado, nem procuração para isso”, afirmou o doleiro.

A CPI pretende investigar o tema, com a ajuda da Kroll, e apresentar novas informações a respeito até o início de junho.

Integrantes da CPI da Petrobras desembarcaram em Curitiba para ouvir os depoimentos de 13 acusados de envolvimento no esquema de cartel e corrupção na Petrobras, que estão presos. Entre eles os ex-deputados André Vargas (ex-PT, hoje sem partido), Pedro Corrêa (PP) e Luiz Argolo (ex-PP, hoje no SD).

Nesta terça-feira (12) serão ouvidos os depoimentos dos ex-deputados. Eles estão na carceragem do Centro Médico Prisional, na Região Metropolitana de Curitiba. Os interrogatórios serão realizados no auditório da Justiça Federal, em Curitiba. Um grupo de 14 deputados já estão na capital paranaense para início dos interrogatórios.

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