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Lafer: recomendação para não falar "o que não se queria que fosse sabido" | Sérgio Lima/Folhapress
Lafer: recomendação para não falar "o que não se queria que fosse sabido"| Foto: Sérgio Lima/Folhapress

Documentos mantidos em sigilo pelo Itamaraty mostram que os telefones da Embaixada do Brasil, em Washington (EUA), foram grampeados em 2001. A informação foi publicada neste domingo pelo jornal Folha de S.Paulo, que teve acesso ao arquivo de um milhão de páginas de documentos trocadas entre o Itamaraty e as embaixadas do Brasil no exterior nos últimos dez anos.

O grampo, segundo a reportagem, ocorreu em março daquele ano, poucos dias antes da visita do então presidente Fernando Henrique Cardoso ao colega recém-eleito George W. Bush. Naquela ocasião, os telefones da embaixada ficaram praticamente mudos, com "sensível perda de qualidade".

O embaixador brasileiro à época, Rubens Antonio Barbosa, encomendou uma varredura nos aparelhos. Em uma primeira checagem não foram encontrados sinais de grampo, mas os técnicos informaram que era comum, em vésperas de visitas de autoridades, problemas semelhantes. Somente dois meses depois, em uma nova inspeção, as suspeitas foram confirmadas.

Segundo trecho de telegrama publicado pela Folha, em mensagem confidencial enviada a Brasília, em 24 de maio de 2001, Barbosa disse ter certeza do grampo nas linhas telefônicas da embaixada. Em recado direcionado ao então ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, Barbosa informou que a inspeção descobriu existir o que pareceria ser uma ligação telefônica direta entre o prédio da Chancelaria brasileira e o Depar­tamento de Defesa norte-americano. Segundo o telegrama, "a ligação opera à semelhança de um ramal interno, isto é, ao se discar o dígito '0' atende uma telefonista daquele órgão do governo dos EUA".

Barbosa revelou à Folha ter levado o assunto ao Departa­mento de Estado americano. Mas, segundo o diplomata, não houve resposta. A reportagem também ouviu o ex-chanceler Lafer que disse não recordar dos avisos sobre as suspeitas de grampos. Admitiu, porém, lembrar que a "recomendação era não falar ao telefone o que não se queria que fosse sabido".

O jornal relatou ainda um outro caso em que a embaixada já se preocupava com o sigilo telefônico. O embaixador Tarso Flecha de Lima foi informado por telegrama enviado do Brasil, em setembro de 1994, que dois funcionários do Itamaraty iriam "instalar telefone cripto e rever o sistema de comunicações". Dias antes da criptografia, o Brasil havia reagido negativamente à possibilidade de o governo dos EUA ter acesso ao conteúdo de informações por meio de um programa de computador.

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