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Curitiba – Em oito meses de histeria política – desde que foi divulgada a imagem do funcionário dos Correios Maurício Marinho colocando no bolso uma propina de R$ 3 mil – o brasileiro conviveu com uma sucessão de escândalos políticos.

A grande imprensa montou verdadeiros centros de operação em Brasília para apurar o escândalo do mensalão e seus desdobramentos. Para o bem ou para mal, praticamente a cada dia o leitor brasileiro ficou sabendo de uma nova versão para a crise política. A explosão de escândalos, porém, gerou um efeito duplo. O mensalão monopolizou a atenção dos veículos de comunicação, mas o leitor bem-intencionado, que mergulhou fundo na leitura diária da crise, teve de levantar a cabeça para tomar ar no meio do caminho. O gigantismo do caso exigia que se sentasse, reunisse e processasse a informação. "Como no 11 de setembro, ou no caso do tsunami, o leitor queria entender o que estava acontecendo. Queria um pouco de análise", explica o crítico literário e especialista no mercado editorial Miguel Sanches Neto, referindo-se aos chamados instant books, livros encomendados pelas editoras sobre temas do momento, dos quais ainda se sente o efeito. O fenômeno não é de agora. Surgiram instant books sobre o acidente que matou os integrantes do grupo musical Mamonas Assassinas. Houve diversas obras sobre o tsunami e os atentados de 11 de setembro. Chegou vez de Brasília e suas tramas.

Prestes a entrar em seu oitavo mês, já sem o ritmo alucinante do seu início, mas sem um final à vista, a crise política é tema de três publicações.

"Por Dentro do Governo Lula", de Lúcia Hipólito; "Memorial do Escândalo", de Gerson Camarotti e Bernardo de Lara e "A Esperança Estilhaçada", de Augusto Nunes. Não por acaso, os três livros são escritos por jornalistas envolvidos na cobertura diária da crise. A aposta é clara: uma linguagem simples, objetiva, mas com algum grau de análise que diferencie os textos da urgência da imprensa diária.

Os autores, porém sabem que estão diante de um desafio. Fazer um livro baseado no jornalismo, sem torná-lo uma simples reportagem condenada a perder o interesse com o surgimento de uma novidade maior. "Não há distanciamento e nem tempo suficiente de pesquisa. Esse é um ponto negativo contra essas obras", afirma Sanches Neto.

Para os escritores, produzir no calor do momento é exatamente o grande diferencial desse tipo de publicação. "A idéia é essa mesmo. De que o leitor que pegue o livro (Memorial do Escândalo) daqui a um ano, dois anos e sinta um pouco qual era a temperatura do momento", explica o jornalista Gerson Camarotti, do jornal O Globo.

"Eu uso minhas colunas diárias como base, mas com informações novas, de gente que é ou já foi do governo e amarrada por perfis detalhados dos personagens centrais da crise", diz Augusto Nunes.

"Memorial do Escândalo é uma grande reportagem que não saiu inteira no jornal", explica Camarotti.

Para o leitor que queria rememorar os escândalos desde sua gênese, entender seus personagens e conhecer novos detalhes parece suficiente.

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