
Brasílias - Depois de ser informado que o partido pretende apoiar a candidatura da petista Dilma Rousseff à Presidência, o deputado e até anteontem pré-candidato ao Palácio do Planalto Ciro Gomes (PSB-CE) partiu para o ataque em entrevista ao portal iG, publicada na quinta-feira à noite. As críticas do deputado foram direcionadas, principalmente, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Lula está navegando na maionese", disse Ciro, fazendo referência ao "apoio desmedido" do presidente a Dilma.
"Ele está se sentindo o todo-poderoso e acha que vai batizar Dilma presidente da República. Pior: ninguém chega para ele e diz Presidente, tenha calma. No primeiro mandato eu cumpria esse papel de conselheiro, a Dilma, que é uma pessoa valorosa, fazia isso, o Márcio Thomaz Bastos fazia isso. Agora ninguém faz", afirmou, na entrevista.
A mágoa de Ciro é com a influência do presidente nas resoluções internas de seu partido. "Estou como a Tereza Batista cansada de guerra. Acompanho o partido. Não vou confrontar o Lula. Não vou confrontar a Dilma". Ciro vinha tentando entrar na disputa pelo Palácio do Planalto, mas a ideia contraria o presidente Lula, que pretende fazer dessa eleição uma disputa quase plebiscitária com Dilma representando a esquerda e Serra como candidato da direita.
Com a pressão de Lula para ter o PSB na aliança pró-Dilma, a ideia da candidatura de Serra à Presidência perdeu força e foi praticamente enterrada na quinta-feira, quando Ciro se reuniu com a cúpula do PSB. No encontro, os dirigentes do partido comunicaram ao deputado que a sua candidatura à Presidência é inviável. O anuncio oficial do apoio do PSB à candidatura petista deve ser feito na terça-feira, após reunião da direção executiva do partido. Ciro afirmou que não irá ao encontro para deixar a direção da legenda à vontade
O vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, se apressou em dizer ontem que as declarações de Ciro não encontram amparo no partido. Amaral admitiu que a entrevista de Ciro ao portal iG é "ruim" e que por isso o deputado será procurado pela direção da legenda.
"Ainda não conversei com ele depois da entrevista, mas com certeza vou procurá-lo. Essa declaração é uma opinião pessoal, não é a opinião do partido nem a minha. Somos um partido democrático, quando tomamos uma decisão, ela é obedecida por todos os quadros. Com certeza [a declaração] é ruim, mas não é uma tragédia. Vamos superar isso", disse Amaral, que negou que Ciro possa sofrer algum tipo de retaliação por causa de suas declarações. "Temos muito apreço por ele."
Amaral participou ontem de manhã de reunião com Lula e Eduardo Campos. Segundo ele, o objetivo do encontro foi informar ao presidente que a decisão sobre a candidatura de Ciro será tomada apenas dia 27. "Ele [Lula] nos disse que respeitaria qualquer que fosse nossa decisão e reiterou o apresso que tem por nós e pelo Ciro."
O presidente do PSB, Eduardo Campos, evitou comentar as declarações de Ciro Gomes. "Não vou comentar essas declarações. Meu comentário não ajuda em nada", afirmou Campos, após sair de um encontro com Lula no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente.
Tucano
Além de atacar Lula, o parlamentar também fez elogios ao pré-candidato tucano à Presidência, José Serra. Segundo o deputado, Serra teria mais condições de enfrentar crises econômicas do que a ex-ministra Dilma. "Minha sensação agora é que o Serra vai ganhar esta eleição. Dilma é melhor do que o Serra como pessoa. Mas o Serra é mais preparado, mais legítimo, mais capaz. Mais capaz inclusive de trair o conservadorismo e enfrentar a crise que conheceremos em um ou dois anos", afirmou.
Ao ser perguntado sobre a declaração de Ciro sobre um desempenho melhor de Serra sobre Dilma, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, saiu em defesa da pré-candidata: "O presidente Lula não vai comentar a declaração do deputado Ciro. Mas acredito que a comparação entre Dilma e Serra será feita pela população brasileira. A maioria dos partidos demonstra desejo de estar ao lado da ministra Dilma."



