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Sempre alerta: Salamuni promete acabar com tratoraço nas decisões da Câmara | Albari Rosa/ Gazeta do Povo
Sempre alerta: Salamuni promete acabar com tratoraço nas decisões da Câmara| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Entrevista

"Está sepultada de uma vez por todas a verba para contratos de publicidade"

Paulo Salamuni (PV), presidente da Câmara de Vereadores de Curitiba

O senhor está preparado para a pressão que receberá, diante da expectativa de mudança na Casa?

Estou me preparando, tudo mudou de um dia para o outro. O telefone não para um minuto, não consigo nem entrar na internet. A sociedade espera muito de mim, que eu coloque em prática o discurso que sempre tive.

O senhor está no sétimo mandato seguido na Casa. Tinha conhecimento das irregularidades cometidas durante a gestão do ex-presidente João Cláudio Derosso?

Não na proporção do que aconteceu. Tinha noção pelos orçamentos da Casa, mas não sabia que tínhamos uma verba extraordinária em contratos de publicidade nem como foram feitos os contratos, a licitação.

Como serão gastos os recursos de publicidade na sua gestão?

Teremos recursos suficientes para questões legais, como a publicação de editais, audiências públicas, concursos, licitações. Mas está sepultada de uma vez por todas a verba para contratos de publicidade. Já fui procurado por alguns vereadores, mas nenhum vai receber recursos para publicidade pessoal em jornais.

O senhor já conseguiu analisar as contas da Casa?

Ainda não foi possível, porque, ao contrário do Executivo, não temos um período de transição. Aqui, a posse é automática. Não sabia se seria o presidente. Vamos analisar todos os contratos nos próximos meses e conversar com os órgãos de controle.

O senhor pretende devolver recursos ao Executivo no fim do ano?

Depende, não vou ser falso moralista. O dinheiro não pode é ser desviado. Ele precisa é ser bem aplicado. Não adianta devolver dinheiro, mas não ter computador, ter um som que não funciona. O importante é ser justo e transparente na aplicação dos recursos.

Paulo Salamuni pôde votar pela primeira vez somente aos 22 anos de idade. O ano era 1982 e os brasileiros foram às urnas para voltar a escolher os governadores. Para ele, o ato teve um significado especial diante da pressão sofrida por seu pai, o geólogo Riad Salamuni, que teve a casa invadida, a biblioteca confiscada e foi fichado pelos militares por se opor ao regime ditatorial.

Eleito presidente da Câ­mara Municipal de Curitiba na última quarta-feira, Salamuni adota agora o mesmo discurso de quem lutou pela redemocratização: é preciso resgatar a credibilidade do poder público – no caso, o Legislativo – e abri-lo para a sociedade. Na avaliação dele, porém, só isso não basta. Os vereadores precisam mostrar aos curitibanos para que servem de fato, depois da maior crise institucional vivida pela Casa.

"Esse período me levou a tomar gosto por política e a achar que poderia ser útil aos curitibanos por meio do mandato popular", afirma Salamuni. Advogado por formação, ele é procurador do município e ingressou na vida pública filiando-se ao antigo MDB, em meio à redemocratização. A influência do pai, que foi o primeiro reitor eleito da UFPR, em 1986, levou-o à militância estudantil e, na sequência, aos cargos públicos. Foi nesse meio tempo que se tornou secretário de Desenvolvimento Social na gestão de Roberto Requião e elegeu-se vereador pela primeira vez – hoje, está no sétimo mandato.

Mais uma vez por in­fluên­cia do pai, tomou gosto pelas questões ambientais, que norteiam boa parte da sua atuação parlamentar. O meio ambiente também entrou em sua vida por meio do escotismo, do qual faz parte desde os 14 anos. No ano passado, inclusive, a ligação com o movimento escoteiro rendeu a ele uma denúncia na Câmara, por ter destinado R$ 350 mil em emendas parlamentares à União dos Escoteiros do Brasil, da qual foi presidente – o caso não foi aceito pelo Conselho de Ética da Casa. "Era uma clara retaliação à minha atuação na CPI da Publicidade", defende. "Isso já faz parte da minha rotina de longa data. Em 1996, por exemplo, o Marcelo Almeida e eu fomos vítimas de um atentado quando investigávamos a máfia do transporte."

Foi a ligação com a causa ambiental que, em 2005, o levou para o PV – seu atual partido –, por discordar de decisões dos líderes do PMDB. Salamuni afirma que essa mesma insatisfação levou o prefeito Gustavo Fruet (hoje no PDT) a migrar, na época, para o PSDB. "O Gustavo e eu praticamente nascemos dentro dos comitês eleitorais. Eu coordenei a campanha do pai dele [Maurício Fruet] a prefeito em determinados momentos. Ele coordenou a do meu pai dentro da UFPR", conta. "Por isso, fomos desenvolvendo uma amizade, uma afinidade de ideias e pensamentos."

Segundo o novo presidente da Câmara, quando ele e Fruet eram vereadores juntos, a Casa era mais republicana, havia espaço para as minorias e, sobretudo, para a população. A ideia de Salamuni é resgatar esse aspecto. "Não podemos ser um poder de faz de conta, em que poucos decidem e prevalece o tratoraço, como foi feito nos últimos 20 anos", critica.

Conhecido por sua eloquência – nos debates eleitorais, costuma exceder o tempo limite dado aos candidatos –, Salamuni justifica que, como sempre esteve na oposição, a palavra era a sua única arma. "São quase desabafos permanentes. Às vezes, sinto-me uma espécie de profeta – espero que não do apocalipse", brinca.

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