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Protestos na noite de quarta-feira contra a nomeação de Lula para o Ministério  foram organizados espontaneamente | Lineu Filho/Gazeta do Povo
Protestos na noite de quarta-feira contra a nomeação de Lula para o Ministério foram organizados espontaneamente| Foto: Lineu Filho/Gazeta do Povo

Diante das reviravoltas da política na última semana, as manifestações contra e a favor do governo se intensificaram em todo o país. E, para o cientista político Valdir Pucci, os movimentos originados na noite da última quarta-feira (16), após a divulgação das conversas por telefone entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se diferem completamente dos demais protestos ocorridos anteriormente.

Segundo ele, o que se viu na noite de quarta foi uma ação espontânea e organizada de maneira rápida e imediata pelas redes sociais. “É algo completamente novo”, aponta. Enquanto a manifestação do dia 13 de março, que reuniu mais de 3,6 milhões de pessoas em todo o Brasil, já contava com todo um processo de divulgação prévia, os protestos realizados em frente do Congresso, na Avenida Paulista e diante da Justiça Federal em Curitiba foram ações consideradas orgânicas. E, de acordo com o cientista político, essa é uma força que não pode ser ignorada.

Ainda assim, Pucci não acredita que esses ânimos exaltados vão resultar em confrontos mais graves. Por mais que casos isolados aconteçam, ele duvida que esses embates acabem na morte de algum dos envolvidos — um cenário que ele chama de “venezuelano”, em referência às mortes ocorridas nos protestos contra o governo de Nicolás Maduro, na Venezuela, no início do ano passado.

Desde a liberação dos áudios pelo juiz Sergio Moro, os protestos contra o governo aumentaram em todo o país. Qual o impacto disso dentro do cenário atual? Como eles podem influenciar as coisas em Brasília?

Na verdade, temos dois cenários. O primeiro vai depender dos protestos de amanhã (18) a favor do governo. Temos de ver qual vai ser o tamanho e a espontaneidade dessas manifestações. Se forem iguais ou maiores que as do último domingo (13), há a possibilidade de que o processo de impeachment se torne mais lento na Câmara dos Deputados. Mas, se forem muito inferiores, o processo pode ganhar ainda mais força. Uma coisa que tem de ser destacada é que as manifestações que começaram ontem são espontâneas. [A organização] foi rápida pela rede social, algo completamente novo. De ontem para hoje, temos uma mobilização muito grande, o que pode ter uma relevância em Brasília. Então, tem de levar em conta essas duas visões. A primeira é ver o resultado de amanhã. A outra são essas manifestações espontâneas, ainda mais se elas se tornarem constantes.

E qual o risco dessa polarização? Temos um embate bem forte dessas duas frentes desde as eleições de 2014, mas as coisas ficaram bem mais intensas nas últimas semanas. Há alguma chance de rumarmos para a violência?

Inicialmente, não acredito que vamos chegar ao nível da Venezuela. Podemos ter conflitos individuais, ainda mais se os protestos se encontrarem em algum momento. Mas a polarização deve ficar mais na retórica e nas redes sociais do que efetivamente no conflito. As ruas vão se manifestar, mas é difícil termos algo mais grave. Mas tudo vai depender também de como a política vai ouvir as ruas.

Como assim?

Se tivermos manifestações contra o governo e, ao invés de ele buscar um consenso, não der uma resposta e fizer o que as pessoas não querem que seja feito. Exemplo disso é que, no último domingo, mais de 3 milhões de pessoas foram às ruas contra o Lula. A resposta foi o [ministro] Jaques Wagner tentando minimizar movimento e, a outra, foi aprofundar a crise colocando o Lula no ministério [da Casa Civil]. Agora, acredito que o governo fique cada vez mais isolado. A tendência é se enfraquecer cada vez mais. Não sei se isso vai ajudar no impeachment, mas o cenário é cada vez pior no quesito governabilidade, seja indo até 2018 como um morto-vivo ou acabando antes disso.

Nas redes sociais, algumas pessoas estão convocando uma greve geral para a próxima segunda-feira (21) e já há caminhoneiros bloqueando estradas em protesto ao governo. Podemos esperar algo mais nesse sentido?

Em relação à greve geral, não temos a tradição de greves que parem o Brasil. Por isso, não acho que vamos ter uma adesão muito grande a esse movimento. Posso ser surpreendido, mas não vejo acontecer. Porém, vamos ver esses movimentos espontâneos cada vez mais frequentes. E não é por uma questão apenas de não acreditar; é falta de uma tradição brasileira. Mas os últimos acontecimentos mostraram que muita coisa que não era tradição começou a acontecer, como as próprias manifestações.

Também tivemos várias manifestações surgindo a favor do governo, incluindo uma agendada para esta sexta-feira. Como o senhor vê essa resposta?

Não vejo como movimentos grandiosos, mas como algo perigoso para o próprio governo. Eles serão comparados com os outros protestos e, dependendo do tamanho, podem demonstrar ainda mais fraqueza. Seria uma surpresa se fossem superiores, mas duvido que aconteça. No máximo, o que podem fazer é tentar chegar a algo próximo e não conseguir. Ontem [na quarta-feira, 16], os manifestantes ocuparam quatro quarteirões da Avenida Paulista em ato contra o governo. Ao mesmo tempo, tinha pouco mais de mil pessoas em uma manifestação a favor organizada previamente. Por isso, pode ser temeroso se esses movimentos pró-Dilma se mostrarem muito, mas muito inferiores àqueles que são contra.

Seria possível dizer que a decisão do juiz Sergio Moro de liberar as gravações do grampo como uma forma de incitar a população?

Eu não diria incitar o povo, mas de enfraquecer a indicação do Lula ao ministério. Acho que a ideia dele foi essa, já que a manobra do governo estava sendo tratada como a grande virada. Porém, acho que ele não imaginava a repercussão que teria.

Diante de tudo o que vem acontecendo, qual seria o melhor cenário para o futuro?

A melhor cenário seria a renúncia [de Dilma]. Iria apaziguar o país e traria a possibilidade de encontrar um consenso até 2018, independente de quem assumisse até lá. Até a população iria se acalmar em um primeiro momento, pois teriam uma visão de tentar reconstruir a economia e a política do país. É algo que traria mais resultados, mas duvido que vá acontecer, até pela história pessoal da presidente. Então, o que devemos ter será um longo processo de impeachment, com medidas nulas de combater a crise nesse momento por causa do desgaste do governo, mesmo com a presença do Lula.

E o pior?

O pior cenário seria o processo de impeachment se alongando no tempo, não se definindo no Congresso e agravando a animosidade da sociedade. O país não suporta mais a crise. Ela tem de ser solucionada o mais rápido possível. Já em relação aos conflitos, eles podem acontecer quando duas manifestações se encontrarem, mas não acreditamos que vamos chegar numa situação venezuelana, com pessoas mortas ao final de cada manifestação. Ou, como falou o [ministro do Supremo Tribunal Federal] Marco Aurélio de Mello, com o surgimento de um cadáver. Não acredito que vamos chegar nesse ponto a curto prazo. É mais difícil chegarmos a uma situação de convulsão social.

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