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O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, único paranaense no primeiro escalão do governo federal, aposta alto na reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tão alto que abriu mão de uma reeleição dada como certa para a Câmara Federal para continuar ministro. Se ganhar a aposta, pode ficar ministro num eventual segundo mandato de Lula. Se perder, fica até dezembro no Ministério e depois volta para casa sem mandato. A decisão de ficar foi tomada depois de uma semana em que o governo ficou mais uma vez nas cordas, acuado pelo cerco da oposição e pelo tiro no pé representado pela quebra criminosa do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. O episódio levou à demissão do ministro Antônio Palocci, que Costa disse ter visto dentro de uma casa alugada em Brasília por ex-assessores do ministro para reuniões suspeitas e outro tipo de festas.

Bernardo defende o governo com estatísticas, afirma que o presidente Lula é forte candidato à reeleição e diz que denúncias de corrupção não ganham eleição. Ele também comentou sobre as denúncias do suposto uso de caixa 2 na campanha do prefeito Nedson Micheleti (PT) à reeleição. "Boa parte dessas denúncias será resolvida no Judiciário", declarou o ministro.

O senhor pretendia ser candidato a deputado, mas decidiu ficar no Ministério. Como foi a sua permanência no governo?

Há uns 15 ou 20 dias o presidente me chamou para conversar e disse que não queria que eu saísse. Fiquei de conversar. Na terça-feira a Gleise (Hoffmann, ex-diretora administrativo-financeira da Itaipu, esposa do ministro) veio a Brasília acertar sua saída e pediu para falar com o presidente. Fomos ao Palácio do Planalto e o presidente falou que ela será uma boa candidata, mas pediu que eu ficasse porque não tinha planos de mudar o Ministério do Planejamento. Ficamos de resolver na quinta-feira, mas na quarta à noite, quando estavam marcando com os ministros (que saíram), acertamos por telefone.

O momento da decisão entre sair ou ficar é delicado.

Estamos vivendo um momento especial e não é só por causa de crise e de eleição. Os nossos programas, tanto na área social quanto na área de investimentos deslancharam muito. O presidente Lula manifestou preocupação, ele não quer que haja descontinuidade. Os projetos estão aí, são bons e vamos tocar. Só para ter uma idéia, no primeiro semestre se executa pouco (do orçamento), no primeiro trimestre menos ainda. Na média dos últimos cinco anos dá R$ 200 milhões (de investimento) no primeiro trimestre. Nós vamos fechar março com investimentos na ordem de 600 milhões, adiantamos bem. Estamos conseguindo distribuir os investimentos durante o ano. Vamos ter com certeza um bom desempenho na execução desses programas. Se o presidente quer que eu fique, não quer trocar, não tenho nenhum problema com isso.

O senhor larga uma candidatura com boas chances de vitória por mais nove meses como ministro e a incerteza de permanecer no cargo em 2007, já que isso depende da reeleição.

Ser ministro é uma honra muito grande. Quando o presidente decidiu em 2005 quem seria o ministro do Planejamento, eu estava muito interessado. Tinha outras possibilidades, podiam ser outros nomes. Eu fiquei muito contente (com a escolha) achei que era um grande desafio. E isso não envolve só eu. Até esses dias eu tenho ouvido do pessoal do partido, que queria me ajudar na campanha, dizendo que era importante que eu fosse candidato para fortalecer a chapa. Mas por outro lado eu encontro pessoas, prefeitos, empresários, trabalhadores do estado que dizem que eu tinha que pensar (em ficar) porque senão o Paraná, que tem um ministro hoje, ficaria sem. Então tem que pesar essas coisas todas. O projeto de ser candidato a deputado não pode estar na frente do projeto de todos nós que é reeleger o presidente Lula. Tudo isso foi pesado e tomei a decisão de ficar. Tenho responsabilidade com o governo como um todo e continuo tendo uma grande responsabilidade com o Paraná.

É uma aposta alta na reeleição do Lula.

Acho que o Lula será reeleito. As pesquisas mostram que a popularidade dele melhorou muito, e as decisões e ações de governo que tomamos ou estamos tomando nos dão muita tranqüilidade. Acho que vai melhorar muito a situação do governo. Essa questão do salário mínimo: o Congresso não conseguiu fazer o acordo para votar, nós mandamos um projeto de lei, vamos mandar hoje ou amanhã (quinta ou sexta-feira) uma Medida Provisória para garantir. A partir de abril já vai ter um salário mínimo de R$ 350. A inflação baixa e controlada ajudou muito a aumentar a renda dos trabalhadores. Nos últimos dez anos, de 94 a 2004, a renda média do trabalhador caiu. Em 2005 estabilizou e neste ano começou a crescer. Então eu não tenho dúvida nenhuma de que o presidente vai ser um páreo duríssimo. Pode não ganhar, democracia é assim, mas acho que ele é um candidato muito forte.

O senhor tinha mais afinidade com o Antônio Palocci do que tem com o Guido Mantega em termos de política econômica?

Nós vamos ter sintonia, sem dúvida alguma. Primeiro porque mudou o ministro pelas circunstâncias que já são sabidas, mas não muda a política econômica. Agora estamos no momento de colher os frutos da política econômica. A taxa de juros está baixando e vai continuar baixando, o crescimento econômico gerando empregos, os salários dos trabalhadores aumentando, a inflação sob controle, não tem nenhuma pressão extraordinária. Acho que está no momento de colher. O Guido Mantega tem evidentemente as posições dele e nós temos que respeitar. Ele é acadêmico, é um economista, professor da FGV, autor de livros. Agora, uma coisa é você ter opiniões acadêmicas, outra coisa é ter a responsabilidade da função.

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